11/01/2015
Cleber Eduardo Karls
cleber_hist@yahoo.com.br
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O turf foi um esporte muito popular na capital do Rio Grande do Sul no século XIX. Em Porto Alegre, eram quatro os hipódromos que recebiam disputas ao final do período oitocentista. Esta prática procedente da Europa conquistava, cada vez mais, simpatizantes entre os gaúchos brasileiros que aproveitavam a sua intimidade, ou pelo menos a sua proximidade com a lida campeira para praticarem, apostarem, torcerem pelos seus jockeys (ou ginetes como também são chamados no Rio Grande do Sul) e cavalos preferidos. A tradição e a modernidade se relacionavam intimamente em uma Porto Alegre que buscava crescer, se civilizar, entrar em contato com hábitos considerados evoluídos, mas que tinha na associação de grande parte dos seus habitantes com o campo e com o trato com os animais uma característica marcante.
A própria imprensa da época denotava muitos elogios, incentivava e associava o povo do Rio Grande do Sul ao cavalo, naturalizando esta relação entre o sulista e o eqüino. A Gazeta de Porto Alegre em 15 de maio de 1880 declarava que “o Rio Grande do Sul é a Hungria do Brasil, é a província em que todos sabem andar a cavalo e em que o cavalo desempenha um importantíssimo papel na economia social”. Ainda legitimava o turf assegurando que “nosso povo é extraordinariamente inclinado a esse gênero de diversão; é uma tradição que lhe vem do passado”. Em mais de uma oportunidade os cavaleiros sul-riograndenses foram comparados a “centauros da campanha” ou mesmo a heróis, já que “parecem ligados ao seu animal e não há perigo que os assuste, obstáculo que os detenha, desde que estejam bem montados”.
Por outro lado, a prática do turf e a sua expansão era uma demonstração da modernização que passava por Porto Alegre. O hipódromo seria o local de desenvolvimento de hábitos civilizados, modernos, um aperfeiçoamento da rudimentar, quase selvagem carreira, tratada como “sistema muito primitivo, isto é, corredores em manga de camisa, com o lenço amarrado na cabeça e em cavalos não encilhados”. Era necessária a “evolução”, a adequação da prática tão comum entre os sul-riograndenses ao modo europeu.
Acontece que a modernidade “à gaúcha” tinha as suas peculiaridades. Aliava muitas vezes novas práticas importadas da Europa a antigas tradições locais. Poderia num mesmo ambiente unir as regras inglesas, os cavalos crioulos e as vestimentas tradicionais gaúchas, ao modo sulista de cavalgar. Isso acontecia em Porto Alegre ao final do século XIX. O público era atraído para prestigiar as corridas realizadas pelo “método rio-grandense”, onde os jockeys/ginetes vestiam bombachas, descalços, em mangas de camisa com um lenço atado na testa e um chicote em cada mão. Esta descrição publicada no jornal A Reforma de quatro de agosto de 1900 ainda relatava que os animais não levaram peça alguma de areiamento a não ser o indispensável, o freio! O resultado parece ter agradado o público. O mesmo periódico dois dias após publicou que “como não acontecia a muito tempo, ficou o Derby Club transbordando de espectadores”. O páreo mais aguardado e também o mais disputado foi aquele em que os gaúchos montavam seus legítimos crioulos: “era ansiosamente esperado pelo público que manifestava simpatias por todos os corredores e pouca firmeza em determinar quem seria o vencedor”.
Não eram somente os “centauros do pampa” que ganhavam destaque nas crônicas esportivas da época. Para além das habilidades dos jockeys estava a qualidade dos cavalos que ali no sul se desenvolveram, e que nada deviam aos puro-sangue europeus. Se para alguns defensores do desenvolvimento do turf a importação de matrizes estrangeiras era inevitável, não faltavam aqueles que eram ferrenhos defensores dos crioulos sul-riograndenses.
Na Gazeta da Tarde de 17 de setembro de 1895, a declaração é de que os meio-sangue gaúchos são suficientes para bater os puro-sangue paulistas e fluminenses. A exaltação aos eqüinos criados no sul do Brasil é tamanha que o periódico chega a publicar que “é o sangue crioulo, oriundo da nossa raça crioula, incontestavelmente a melhor raça cavalar que existia no mundo, e a mais suscetível de melhoramentos”. Sem dúvida, características um tanto curiosas de uma leitura também um tanto específica de esporte e modernidade.
Turf com carreira, ginete com jockey, cancha reta com hipódromo. Porto Alegre demonstra como o esporte se relaciona e se adapta às condições e tradições locais. O turf “à gaúcha” não deixou de agregar características do moderno esporte britânico, suas regras, seus termos estrangeiros. No entanto, encontrou no sul do Brasil um povo com hábitos tão híbridos quanto se tornou o esporte que no Rio Grande do Sul foi praticado. Afinal, também era de bombacha, lenço e cavalo crioulo que se praticava o turf em Porto Alegre no século XIX!
Fonte: www.historiadoesporte.wordpress.com
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Comentários
Por
Roberto Affonso Pimentel
em 13 de Janeiro de 2015 às 16:28.
Um contribtuo aos historiadores...
Para quem quer entender a cultura de um povo!
No livro O Código Cultural, Clotaire Rapaille, antropólogo cultural e especialista em marketing, cita revelações que lançam luz não apenas sobre os negócios, mas também sobre a maneira como as pessoas agem e vivem. A noção inovadora de Rapaille é que todos nós adquirimos um sistema silencioso de Códigos à medida que crescemos em determinada cultura.
No livro, o autor decodifica os arquétipos fundamentais pra nos oferecer "um novo par de óculos", com os quais vamos enxergar as nossas ações e motivações.Explica por que as pessoas são diferentes, e revela aspistas escondidas para entendermos uns aos outros.
Na Introdução, Rapaille conta uma breve história de como procedeu para convencer empresários a vender jipe Wrangler no mercado americano. Após considerar as pesquisas e, principalmente, a interpretá-las com olhos de ver, chegou à conclusão que o Código nos Estados Unidos para o jipe é CAVALO. (...) motoristas queriam sentir o vento, como se estivessem cavalgando.Talvez em uma época passada as pessoas pensassem em jipes como cavalos, mas elas não queriam mais pensar assim. Foi sugerida então uma mudança pequena no projeto do carro: substituindo os faróis quadrados por redondos. Por quê? Porque cavalos têm olhos redondos, não quadrados. A empresa começou a anunciar o jipe como um "cavalo". As vendas foram um sucesso!
Na França o autor descobriu que o Código para o jipe é LIBERTADOR. Os entrevistados viam os Wrangles como os remanescentes dos jipes que as tropas americanas dirigiam durante a Segunda Guerra Mundial. Para os franceses, isto significava a imagem da libertação da ocupação alemã.
E para os gaúchos, que Código se aplicaria?
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