Essa carta foi preparada a partir do evento I Painel de Discussão Desafios na Implementação de Programas de Prevenção de Quedas organizado pelo Grupo de Pesquisa PrevQuedas Brasil.
PrevQuedas Brasil | Estudo de quedas em idosos
Evitar uma queda faz toda a diferença na vida de um idoso. Além de prejuízos físicos, emocionais, sociais e financeiros, as quedas custam caro para os sistemas de saúde e de assistência social.
A prevenção deve ser uma prioridade em políticas públicas como intervenção para promover o envelhecimento ativo e saudável. Junte-se a nós na missão de proteger o bem-estar da pessoa idosa assinando a petição pela implantação da Prevenção de Quedas no SUS.
Sua assinatura pode mudar vidas! Assine agora: https://chng.it/9cDz8s9pbg
Comentários
Por
Laercio Elias Pereira
em 21 de Abril de 2024 às 05:39.
Boa iniciativa, nosso Adm Timóteo,
Vamos redistribuir a Carta.
Carta Manifesto
Chamada à Ação para Implementação de Programas de Prevenção de Quedas no Sistema Único de Saúde
O envelhecimento da população brasileira é uma realidade. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2022 o Brasil tem mais de 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, isto é, 14,7% da população total. Até 2050, as pessoas idosas serão mais de 30% da população brasileira. Contudo, a profunda desigualdade social e de gênero reduz as oportunidades para um envelhecimento saudável e impede a uma parcela substancial desta população de desfrutar de uma velhice digna e plena.
Em dezembro de 2020, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) declarou essa década (2021-2030) como "Década do Envelhecimento Saudável". Essa iniciativa tem o objetivo de fazer avançar o direito das pessoas idosas à saúde, incluindo a cobertura universal da saúde, a proteção social e a promoção das políticas para o envelhecimento saudável, na perspectiva de uma sociedade inclusiva para todas as idades. A agenda para o envelhecimento saudável defende a prevenção de doenças e de eventos que comprometam a funcionalidade.
Neste contexto, a prevenção das quedas revela-se uma ação necessária e urgente: a cada ano, cerca de 30% das pessoas com 60 anos ou mais e metade das pessoas com 80 anos ou mais caem. As consequências das quedas são desastrosas para as pessoas idosas e suas famílias e, até 2030, estima-se que ocorra um aumento de 60% nas hospitalizações por quedas. Dessa forma, lesões, traumas e fraturas decorrentes das quedas são apenas a ponta do iceberg. Outras graves consequências físicas, psicológicas e sociais permanecem subestimadas: as quedas podem levar ao declínio da mobilidade, à fragilização, ao medo de cair, ao isolamento social, resultando em maior prejuízo da saúde, da independência funcional e piora da qualidade de vida.
Todas essas consequências negativas das quedas atingem diretamente os sistemas de saúde e sociais. Os custos diretos e indiretos são alarmantes e abrangem desde o resgate de emergência até admissões e readmissões hospitalares evitáveis, a necessidade de serviços de reabilitação e de cuidados de longo prazo (p.ex., assistência domiciliar, instituições de longa permanência). Notadamente, os custos são arcados pelas pessoas idosas e seus familiares, incluindo a necessidade de abandono do trabalho formal pelas mulheres para prover o cuidado, e a compra de insumos (fraldas, curativos e medicamentos) e equipamentos (bengalas, andadores), o que aumenta a vulnerabilidade social e aprofunda as desigualdades sociais.
Assim, urge implementar programas de prevenção de quedas no sistema único de saúde (SUS) de abrangência nacional. Para tal um plano de ação estratégico deve contemplar três grandes eixos: o rastreamento e a avaliação das quedas; a intervenção e o monitoramento das ações. Isso inclui a busca ativa de pessoas idosas em risco de cair, a condução de avaliações multidimensionais e multifatoriais por profissionais treinados, a implementação de intervenções individualizadas para reduzir os fatores de risco modificáveis (p.ex., tratamento de doenças, revisão de uso de medicamentos, estímulo à prática de exercícios físicos, uso de óculos e calçados adequados, adaptação ambiental) e o monitoramento contínuo das pessoas idosas em risco de cair ou que sejam caidores. A abordagem individualizada e holística para a prevenção de quedas também inclui um plano de cuidados elaborado a partir da avaliação centrada nas necessidades, preferências e prioridades das pessoas idosas e de seus familiares, que considere a realidade e o contexto em que vivem, e os inclua como agentes ativos no processo e com poder de participar das decisões.
Entretanto, tendo como base a experiência de outros países é possível prever a existência de barreiras e preparar estratégias para superar dificuldades previsíveis. As quedas podem ser influenciadas por uma variedade de fatores, desde condições sociais e de saúde até o ambiente em que a pessoa idosa vive e não podem ser enfrentadas como um evento isolado. Nesse sentido, é fundamental reconhecer e superar barreiras existentes em todos os níveis: macro (sistemas de saúde e social), meso (comunitária incluindo serviços e equipes) e micro (individual).
No nível macro - dos sistemas e das políticas públicas-, ressalta-se que o sistema de saúde, ainda se encontra, em larga medida, voltado para a resolução e o controle de doenças isoladas, o que não atende as necessidades das pessoas idosas, que usualmente têm várias doenças e múltiplas demandas. Poucos estados e municípios têm planos de ação e linhas de cuidado para prevenção de quedas, coordenados e integrados, com metas específicas e indicadores mensuráveis, orquestrados com os vários atores e espraiado em todos os níveis de atenção. As ações do SUS na prevenção de quedas são dependentes de lideranças locais isoladas, e não de processos contínuos, inexiste o compartilhamento de informações entre os níveis de atenção, serviços e equipes de saúde e sociais (SUS e SUAS), bem como de esquemas adequados de matriciamento e de ações intersetoriais. Essas e outras barreiras colaboram para a fragmentação do cuidado, a sobreposição e a desarticulação de estratégias e ações, o desamparo das equipes de saúde e a falta de clareza das atribuições dos profissionais na prevenção de quedas.
No nível meso - da comunidade - são necessárias ações intersetoriais para adequação dos espaços físicos (p.ex., fornecimento de adaptações domiciliares e tecnologias de segurança pelas secretarias pertinentes, incluindo programas habitacionais), treinamento de cuidadores e familiares, disseminação de informações e campanhas de conscientização. No âmbito da organização dos serviços faltam: a) a valorização, o treinamento e a capacitação dos profissionais, b) a conscientização da importância do cuidado básico na atenção primária, incluindo, neste nível da atenção, o rastreamento (identificação do histórico de quedas, bem como da instabilidade durante a deambulação e preocupação em cair) e a implementação da linha de cuidados para prevenção e abordagem das quedas, c) o suporte dos gestores para o matriciamento (garantir que a equipe possa realizar as estratégias), d) a implantação de linha de cuidado (protocolos de rastreio, avaliação e encaminhamento) e; e) a falta de definição de coordenadores de cuidados/gestores de caso. Quanto aos gestores, falta a compreensão da gravidade do evento "quedas" e de apoio para implementação de estratégias de prevenção.
Enquanto no nível individual, as barreiras refletem a necessidade de conscientização, de promoção da autopercepção do risco de quedas e da aquisição de conhecimento e desenvolvimento de habilidades para o autogerenciamento da saúde e do próprio risco de cair. Estratégias de educação, empoderamento e facilitação do acesso à informação para o uso adequado e racional dos serviços, com a valorização da atenção primária, do apoio e do suporte de cuidadores.
Neste contexto, entendemos que o Ministério da Saúde, como esfera federal norteadora de políticas para o SUS, detém todas as condições necessárias para criar, liderar, articular e coordenar um Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo de desenvolver um plano de ação estratégico para a implementação coordenada de programas de prevenção de quedas em pessoas idosas. Essa iniciativa deverá estar ancorada na atenção primária e respeitar as peculiaridades regionais, culturais e as diferenças de capacidade de atenção, considerando os recursos humanos e tecnológicos disponíveis. Este GT teria como responsabilidades:
Estabelecer Linhas Gerais: Definir diretrizes claras e objetivas para orientar as ações em nível nacional, estadual e municipal.
Desenvolver Estratégias: Identificar as melhores práticas internacionais e adaptá-las ao contexto brasileiro, garantindo que as estratégias sejam efetivas e culturalmente relevantes.
Planejar Ações de Implementação: Caberia ao GT elaborar um plano detalhado de ação, incluindo metas, prazos e indicadores de desempenho.
Promover a Colaboração Intersetorial: Dada a natureza interdisciplinar da prevenção de quedas, o GT também trabalharia em estreita colaboração com outros departamentos e agências, garantindo uma abordagem integrada.
Essa carta foi preparada a partir do evento I Painel de Discussão Desafios na Implementação de Programas de Prevenção de Quedas organizado pelo Grupo de Pesquisa PrevQuedas Brasil e é assinada por:...
https://www.prevquedasbrasil.com.br/
Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.