Amigos,

Aonde pode nos levar a competiçao? Fico lendo os emails, as preocupaçoes,
quase angustias e nao consigo atinar com o objetivos de todos. Ora, se
pretendemos uma judo melhor ou outrificado, precisamos compreender que a
nossa luta para libertar o judo (especialmente, a educçao) e aluta para
democratizar a vida econômica e social estao insepravelmente ligadas.
Precisamos ainda compreender, como reporta Madan Sarup, que professores e
alunos de judo, escolas e a própria educaçao, devem ser reconcebidos em
relaão a outros elementos do todo social, da totalidade.

Logo, questionar o judo e a conduta, boa ou ma, de seus professores sem
questionar a sociedade que necessita da competiçao, do individualismo, do
estrelato e da quebra da totalidade para se perpetuar, nao nos conduz muito
longe, apenas ficamos na saida do caminho.

Concordo com o Mauro que fazer apologia aa ciencia, como ainda fazem alguns,
é para exercer o poder sobre os outros nao iluminados. Lembrem-se quem detem
o saber, detem o poder ou "savoir pour pouvoir", dizem os positivstas. Na
verdade, de acordo, este nao eh o nosso caso.

Pretendemos discutir nossos e outros pontos de vista. Mas infelizmente nao
eh essa a intençao da maioria dos professores de educaçao fisica, mesmo dos
professores de judo, eles nao querem revelar que, como nos, eles tammbem
teem pequenas duvidas.

Posto, sao essas pequenas duvidas nao sao postas na pauta da dio, permenece
o "achismo", sendo que os macro problemas sociais, a pesquisa cientifica e
filosofica ausentes, apenas fazem empobrecer nossa capacidade de reflexao.

Nao idolatrem, nao idolatremos a ciencia. Ela tambem tem sido usada para
falsear a realidade objetiva - entendida por mim, como a Natureza,
incriada, e a Historia, crida por homens e muleheres procurando transformar
a Natureza.

Contudo, apenas discordo quanto aa filosofia. Sem ela, quer dizer, sem a
filosofia que tem por pressuposto os homens e mulheres concretos produzindo
coletivamente em sociedade, portanto a filosofia dialética inciada com
Heráclito, passabndo por Hegel e chegando aa Marx, nao conseguiremos
compreender a realidade ou a luta dos homens e mulheres para acabar com a
jugo do capuitalismo sob o qual "vivem"(?).

Neste sentido, precisamos compreender que a sociedade, como o judo, não
existe como entidade distinta dos homens e mulheres, isto é, dos indivíduos.
A rigor, as mudanças nos individuais representam, inevitavelmente, mudanças
na sociedade, mudanças nas circunstancias sociais sao tambem mudanças nos
individuos.

Penso que ha em nossa dimensao discursiva um obstaculo muito importante.
Enquanto nao fundirmos nossa teoria com nossa pratica social, nada feito,
permaneceremos no mundo da alienaçao acreditando que sao as ideias que
transfortmam a realidade.
Sem a fusao do pensamento com a açao, da teoria com a pratica, da filosofia
com a revfoluçao, tudo pela causa da libertaçao humana, continuaremos
peredidos na fraseologia rebuscada, no discurso que enebria, mas exercitando
uma pratica que reproduz as relaçoes de produçao capitalistas.

A filosofia dialetica ou a concepçao sinoptica de mundo, nao trabalha com a
experiencia, eh verdade, apenas ela parte das relaçoes sociais concretas, de
pressupostos materiais verificaveis por via empirica. Esta eh a grande
diferença a filosofia dialética e as demais, inclusive a ciencia vazada pelo
positivismo do aqui e agora ou da "verificaçao imediata".
E se nao ficarmos espertos, podemos cair na ilusao da experimentaçao. So tem
validade historica o que foi experimentado! Isto eh um grande truque para
confundir os incautos, nem sempre os processos sociais, ocorrendo no
transcurso de uma etapa historica de 70 anos (por exemplo) podem ser
verificados e preditos. A rigor, a prediçao tem se mostrado inadequada no
estudo historico das sociedades humanas.

Voltemos ao judo, de onde nunca saimos, mas mantendo a lina academica e
politica. Por que e para que um "judoca"(????) fica duro durante a luta? Na
verdade, se isto ocorre nao estamos diante de um judoca na acepçao classica
da palavra, mas diante de um praticante de uma forma deturpada judo (o
caminho suave), com medo face a realidade: a possibilidade de ser lançado ao
solo, imobilizado etc., medo diante da derrota da qual ele acredita, porque
foi educado assim, nao tirara nenhum ensinamento. Digo: ele deve voltar aa
estaca zero, quer dizer, reiniciar o estudo ou melhor iniciar efetivamente o
estudo do judo, do qual ele ainda nada sabe. Ate porque, derrubar alguem
todo mundo sabe, alias no Brasil o mais que se faz eh "derrubar" (passar
para tras) alguem.

Por outro lado, se ele desenvolveu, em linguagem "reichiana", uma "couraça
muscular" e isto faz parte da sua estrategia e por isto ele a reforça cada
vez mais com mais e mais trabalho de força, estamos diante de um problema
sério. Mesmo porque, se a "couraça", como refere Mauro Cesar, eh forjada
pela "carga emocional (de fundo psicologico) para que o individuo tenha a
sensacao de protecao frente aos intemperies da vida, apesar dele nao estar
realmente
protegido contra nada", presiamos perguntar: quais sao as intemperies da
vida que podem ser resolvidas individualmente?

Certos, por vezes, aqueles individuos "magrelos" que andam todos contraidos
para parecerem mais fortes do que sao é, apenas, uma cobrança do tipo de
sociedade em que vivemos, na qual cada um tem que ostentar alguma coisa, mas
nunca fraqueza, duvida, medo, magreza, feiura.... . Lembrem-se, esta eh a
sociedade do conspicuo, do suntuario, da exagerada gastança, da exacerbada
opulencia, da demonstraçao futil de poder... comprar, abusar, tripudiar,
explorar, matar, roubar, escarnecer, espoliar, espancar etc., enfim,
sociedade da ilimitada riqueza e da ilimitada pobreza.

A proposito, LEMBREM-SE DO QUE O GOVERNO FHC FEZ POR OCASIAO DAS
COMEMORAÇOES DOS 500 ANOS DE INVASAO, OCUPAÇAO E GENOCIDIO.

Pessoalmente prefiro ter um judoca, nao me preocupa o campeao, especialmente
o que ganha do jeito que pode ou de qualquer jeito. Mas sera que o bom mesmo
eh ele "ganhar" com tecnica?! Ganhar o que, de quem, para que?

Eu diria, nao ha critica, no capitalismo, que resista ao sucesso do TER. E o
SER, bem isto fica para outro momento.

Um forte abraco, e desculpem a delonga

Mauri de Carvalho

Comentários

Por Dayse Lucide - Morena Flor
em 27 de Dezembro de 2009 às 02:54.

Minhas palavras...

Sou professora do Ensino Fundamental em escola publica e faço Licenciatura em Artes na UFRJ.
Li o artigo supra citado, e fiquei comovida com sua preocupação com os caminhos e descaminhos daqueles que praticam este esporte, o judô.
Considerei sua procupação justa, suas colocações perfeitas. Eu, que trabalho com adolescentes, que adoram digladiarem-se, e têm como diversão machucar, sangrar o amigo de papos e traquinagens, vi em suas palavras aquilo que vai em meu coração.
Parabenizo-o pela colocação, tão firme e, ao mesmo tempo, dócil. Sua humildade e coerência impressionaram-me.
Um abraço desta educadora, que procura seguir o mesmo caminho que o seu: "o caminho do meio" (Siddharta Gautama).

Dayse Lucide

Por Mauro Cesar Gurgel de Alencar Carvalho
em 27 de Dezembro de 2009 às 19:07.

Oi Mauri e Dayse

É sempre muito bom ler o que o Mauri escreve. Ele consegue unir o bom português com a forte fundamentação acadêmica de forma coerente e sincera. Um dia eu chego lá.

Os alunos da Dayse estão simplesmente reproduzindo um comportamento que eles vivenciam regularmente nas comunidades de baixa renda das grandes cidades. Eles continuarão reproduzindo esse comportamento se ninguém os situar dentro do complexo universo das relações sociais em que eles se encontram, criticar esse universo e começar, com eles, a procurar respostas para diversas situações.  Falando assim parece ser fácil a resposta, mas não é. Viver não é simples, educar nossos filhos é muito difícil e educar dezenas de filhos dos outros é milhares de vezes mais difícil, principalmente quando eles vem se lugares sem a mínima infra-estrutura. 

Existe um conteúdo da disciplina totalmente desvinculado da realidade social onde ele se encontra, mas o aluno precisa aprendê-lo e nunca se separar tempo de aula para tratarmos dos assuntos sociais dentro de nossas aulas ou até mesmo para desenvolvermos atividades que permitam, dentro do conteudo, abordar temas sociais de forma aplicada. Nas aulas de sociologia meus alunos aprenderam sobre ética, mas na hora de se aplicar tais fundamentos durante o jogo a coisa mudava. Parece que há uma diferença entre o conteúdo teórico e o prático e precisamos trazer a tona esses temas transversais durante as nossas aulas. Não desamine Dayse, vc pode ajudar a fazer a diferença.

Voltando a questão da competição, talvez eu esteja sendo redundante, pois já escrevi algo semelhante há alguns anos atrás na lista de discussão de Judô do CEV. Mas acredito que seja bom relembrar. Existem diversos processos sociais básicos, como por exemplo: o contato, a interação, a acomodação, a assimilação, a cooperação, o conflito e a competição. Por que será que só conseguimos trabalhar no esporte com um desses processos???

Para piorar o quadro, o formato das competições atualmente só permitem que o judoca possa se manter na competição se ganhar suas lutas. Se ele perder apenas uma ou duas vezes no máximo será punido com a sua desclassificação. Olhando pelo prisma do especialista em detecção de talentos, isso que dizer que se vc não nasceu com certa complexidade física, se vc não tiver um certo tempo de treinamento com um certo grupo de professores e de colegas, vc estará fadado a participar de forma rápida de um evento de Judo. Se vc não tiver alguns desse atributos, a chance de derrota é grande, pois, numa luta de Judô, se vc der uma bobeira durante uma fração de segundos, vc perderá a luta. E, se perder, vc estará consequentemente eliminado do evento. Esse tipo de evento: a competição, permite que haja apenas o contato, a interação e o conflito. Os outros não podem ser trabalhados? não são importantes para a formação do cidadão?

Por outro lado, na EF Escolar já se trabalha com jogos cooperativos há mais de uma década no Brasil! O que nos falta para podermos adaptar e transportar essas atividades para o Judo? Precisamos incentivar a formação do cidadão, o respeito, o coleguismo, a alegria e a promoção da saúde, por que não adequamos os jogos cooperativos para o Judo?

O nosso Judo já possui várias estratégias para ajudar a promover tal formação, mas nada impede que ele adquira mais alguns conhecimentos, formas de trabalho e possibilidades de se expressar enquanto modalidade esportiva.

Cabe lembrar que a grande maioria dos judocas não participam de competições oficiais da federação ou da liga. Essa grande massa de jovens judocas geralmente participa de festivais, que geralmente tem apenas um fomato. Existem outros muitos formatos que podem ser aplicados e que certamente promoverão outros processos sociais e enriquecer mais as aulas de Judo nas escolas.

Bom, era isso que eu tinha a dizer,

Um grande abraço a todos,

Mauro Cesar Gurgel de Alencar Carvalho

PS: Mauri, estou tentando, sem sucesso, te ligar direto esse dias. Ligue para mim por favor. Temos um queijos e vinhos a agendar e muita conversa para pormos em dia, lembra?

Por Dayse Lucide - Morena Flor
em 27 de Dezembro de 2009 às 21:08.

Olá, Mauro

Realmente, eu compreendo o drama que meus alunos vivem: são famílias de 4, 5, 6 filhos, cada um de um pai. O filho mais velho exerce autoridade sobre todos os outros mais novos, sendo que, se for menina, já aos 7 ou 8 anos, anos assume a autoridade doméstica, e toma todas as decisões: levar um irmão ao médico, limpar a casa, dar uma surra em alguém que tenha "saído da linha", preparar a comida, embora ainda nem alcance o fogão, lavar e passar roupas.

No caso dos meninos, eles ficam pelas ruas, "brincando". Estas brincadeiras podem ser: escolher um colega qualquer e bater nele até que este desmaie ou implore que parem, pode ser roubar figurinhas usando de agressão física (ano passado a febre era brincar de bafo), ou dançar, exibindo movimentos sensuais para as meninas, como que um pavão chamando a fêmea para  acasalamento, ou ir ao mercado para roubar algumas guloseimas. Refiro-me, claro, a meninos de 7 ou 8 anos, também.

No caso dos mais velhos, as coisas complicam, porque são aliciados pelo tráfico. É lógico que um adolescente quer ter um tênis de marca, um relógio vistoso. É muito mais fácil ganhar R$ 50,00 para soltar pipa do que vir para a escola. É claro que uma garota quer ir aos bailes funk com roupa de grif famosa. Como dizer que ela não deve entrar no paredão no baile funk porque pode engravidar, se aquele deu a roupa estará lá, esperando o pagamento pelo dinheiro investido?

Há muito eles são donos de suas casas, senhores de seu nariz. Muitos moram em lugares que servem a diferentes facções. Como interferir numa situação de conflito, sem apanhar junto? Como dar uma ordem e ser obedecida, sem ouvir palavrões, ou o famoso " a senhora num é minha mãe!" ou ter o  carro arranhado? Já cheguei em casa com a canela roxa algumas vezes...

Passei por estas coisas muitas vezes, nestes 26 anos, tentando não esquecer que eu estava recebendo aquilo que eles estavam a costumados a ter. Como tempo, muita paciência, muita conversa, as coisas mudam. De enxerida, que quer mandar, de "aquela mulher", acabo virando Tia Dayse. Como tempo, viro confidente, tanto dos meninos quanto das meninas, enxugo lágrimas, dou bronkas, promovo bailes em sala de aula, estudando as letras das músicas, e acaba o ano sempre em choradeira, pois eles irão embora para outra escola, e, será que os professores de lá saberão como lidar com eles?

Por que não têm atividades de iniciação esportiva, para evitar que saiam da escola e fiquem pelas ruas? Por que os profissionais da saúde não são treinados para lidar com esta realidade, do sexo fácil, distribuindo preservativos nas escolas, orientando quanto as DST?

No caso do judô, por que alguém não toma uma atitude, no sentido de manter estes jovens atletas trabalhando como instrutores nas escolas municipais, que lidam com as classes menos privilegiadas? Acredito que uma iniciativa dessas contemplaria a ambas as partes, não acham?

Um abraço,

Dayse Lucide


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