Eis o grito solitário de um jovem professor e jornalista, em plena lucidez dos seus 87 anos de vida e quase setenta de manejo da palavra: Henrique Nicolini.

 

http://www.gazetaesportiva.net/blogs/henriquenicolini/

 

Érica Ramalho/Divulgação

Érica Ramalho/Divulgação

Em vários artigos após a conquista da sede dos mega eventos pelo Brasil exaltamos a grande oportunidade que eles proporcionariam ao nosso país para a nossa inserção definitiva no primeiro mundo. Um bom trabalho dos responsáveis pela implementação representaria a fixação de uma imagem do Brasil como país civilizado, ampliaria a vantagem econômica positiva do turismo receptivo e uma tranqüilidade em nossas contas externas, o que seria desfrutado por toda a população.

 

Para que este sonho (com um toque de utopia) ocorresse, era preciso uma grande dose de patriotismo dos executivos de todos os níveis. A cultura nacional não favorecia a implementação idônea da Copa das Confederações, do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos. Ela é caracterizada por elevado índice de corrupção política, pela criminalidade, pelo tráfico, pelo contrabando e outras ilicitudes.

O sonho dos idealistas de um Esporte (com E maiúsculo) está ruindo com o noticiário posterior aos Jogos de Londres (que pretendíamos superar em qualidade). São fartas as notícias de negociatas na construção de estádios, superfaturamento e elevação do orçamento previsto. A avidez de políticos e de muitos dirigentes do alto escalão está diariamente nas manchetes dos meios de comunicação. Uma delas foi relatada em nosso artigo anterior, informando o absurdo de demolir dois verdadeiros templos do esporte que são o conjunto aquático Júlio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros, somente para a ampliação do espaço do estacionamento, fato que ocorreria unicamente em duas ou três ocasiões.

Agora chega ao público mais uma falcatrua: a justiça suspendeu o processo de licitação para a exploração do Maracanã, concedida a uma empresa privada. Por decisões da juíza Roseli Nalin, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, foi acatado o pedido feito pelo Ministério Público.

O edital era carente de detalhes e informações e as circunstâncias mostravam um suposto favorecimento à empresa IMX de Eike Batista, que nas últimas semanas tem estado no centro do noticiário econômico dos jornais pelas elevadas perdas de suas empresas que não iniciaram a execução de nenhuma das iniciativas na área da exploração de petróleo.

Os problemas da corrupção seriam ainda maiores, não fosse a ação do Ministério Público e de parte do judiciário que pretendem ver um Brasil melhor. O autor destas linhas passou a ser um admirador desta juíza Roseli Nalin, e de outros magistrados que devem continuar “de olho” para que esta concessão do Maracanã por 35 anos não se concretize.

Além dos atos ilícitos no atacado, também no varejo se notam fatos que denegriram a imagem do Brasil. Os bandidos dos morros e da periferia do Rio de Janeiro elegeram os turistas como alvos preferenciais de seus delitos. Estupros, roubos a mão armada estão se repetindo com grande freqüência a cada dia. Cada ocorrência tem tido grande repercussão na imprensa do exterior, tornando-se um arauto de nossas mazelas e indo em direção oposta ao que se pretendia.

O governo do Rio de Janeiro tem lutado muito neste campo, mas uma parte dos próprios órgãos policiais está contaminada, o que dificulta a “limpeza” que se torna a cada minuto mais necessária.

Vamos torcer para que o Ministério Público, a magistratura das Roselis Nalin, e ministros como Joaquim Barbosa, do Supremo, com a fibra de uma Margareth Tatcher incrementem esta luta contra os bandidos do colarinho branco e os de camiseta e bermudas.

NOTA

Este comentário já estava redigido quando recebemos a informação de que, em plena madrugada, quatro horas depois da juíza Roseli Nalin proferir sua sentença, uma desembargadora cassou a decisão e o processo de licitação teve prosseguimento.

Achamos que, mesmo assim, ele ainda tem sentido. Serve de tema de meditação sobre as expectativas em torno dos mega eventos.

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