Postarei aqui uma série de artigos que estou publicando em meu blog, para abrir um debate sobre este tema.

A produção em Educação Física - parte 1

            O que é produzir em Educação Física? A Capes e seus avaliadores desenvolveram um conceito a esse respeito. De acordo com a avaliação Capes, acima de tudo, o indicador que define a produção dos profissionais ligados à área da Educação Física é a publicação de artigos, preferencialmente, em revistas de bom conceito internacional. Esse conceito, a meu ver, tem um pecado original: avalia sem saber exatamente o que está avaliando. Os avaliadores da Capes não desenvolveram um conceito satisfatório a respeito do que é Educação Física. Buscam indicadores de produção científica em uma área pedagógica, sem considerar o núcleo dessa área, aquilo que constitui sua identidade; acabam por privilegiar aqueles que, embora militando em centros universitários de Educação Física, são ligados a ciências consolidadas. O que se vê, nessas escolas superiores de Educação Física, mais especificamente nos laboratórios de pesquisa, são, por exemplo, fisiologistas alocados nas Faculdades de Educação Física, fazendo pesquisas em Fisiologia, e não em Educação Física. Ou biomecânicos fazendo pesquisas em biomecânica, porém, em Faculdades de Educação Física. O mesmo se pode dizer da Psicologia, da Bioquímica ou da Sociologia. Ou seja, esses pesquisadores estão nas Faculdades de Educação Física como poderiam estar nas Faculdades de Bioquímica, de Fisiologia ou de Psicologia. Não produzem um conhecimento em Educação Física, mas conhecimentos em Fisiologia, Psicologia, etc. Talvez enriqueçam a Bioquímica ou a Psicologia, mas manterão pobre a Educação Física.

            Nesta série de artigos que publicarei neste blog, terei que, antes de criticar mais detidamente a produção em Educação Física, discutir o conceito de Educação Física.

            Educação Física, pelo menos enquanto persistir esse nome, é uma pedagogia. Poderia ter uma fonte específica de conhecimentos, uma área científica que alimentaria essa pedagogia, mas não é o que ocorre. Sendo uma disciplina pedagógica, ela educa. Nas escolas, nas academias, nos clubes, nos centros esportivos, entre outros lugares possíveis, a Educação Física educa. Antes de tudo ensina os conteúdos específicos que, ao longo da história, constituem sua cultura específica. De modo geral, esses conteúdos ensinados estão abrigados sob eventos tais como as brincadeiras populares, as danças, as lutas, as corridas, os saltos, as ginásticas, os jogos de regras, etc.; esses e quaisquer outros que o campo da Educação Física possa abrigar. Daria para incluir tudo isso em dois grandes blocos: o jogo e o exercício, desde que tivéssemos clareza quanto ao conceito de jogo.

            As pedagogias veiculam conhecimentos que municiam professores. É com o conhecimento de ser professor e com o conhecimento específico de uma certa área, que os professores educam. Porém, não ensinam só o conhecimento específico da área; ensinam também o que está oculto, o que não se vê, o que está abaixo da superfície. Ensinando a jogar bola o educador pode ensinar a pensar melhor, pode ensinar virtudes, pode ensinar convivência, estética, e assim por diante.  

Comentários

Por João Batista Freire
em 2 de Maio de 2011 às 11:06.

A produção em Educação Física parte 2

            O bom profissional de Educação Física é aquele que sabe ensinar bem. O bom profissional de Educação Física, até que se prove o contrário, é um professor, um pedagogo, um educador.

            Atualmente supõe-se que exista, no campo da Educação Física, um acervo de conhecimentos típicos produzido, capaz de alimentar, por exemplo, um curso de bacharelado, tal como acontece em Direito, Medicina ou Odontologia. Esse bacharelado na área da Educação Física proveria o estudante de conhecimentos suficientes para, decidindo dedicar-se ao exercício profissional, ser capaz de treinar equipes esportivas, orientar grupos de idosos, fazer pesquisas, etc. Supõe-se, também, que esses bachareis, uma vez tendo cursado algum tempo de licenciatura, poderiam ensinar nas escolas. Ensinar o quê? Ora, ensinar aquilo que aprenderam nos cursos de bacharelado. O professor de Química ensina química, o professor de Física ensina física, e assim por diante. O professor de Educação Física ensina...????

            As interrogações remetem para as tentativas que alguns autores fizeram, de definir um campo próprio de conhecimentos que alimentasse a pedagogia da...da...Educação Física???? No Brasil, alguns deles ganharam destaque. Inicialmente, e na década de 1970, Jean Le Boulch, um pensador francês que sugeria ser possível desenvolver uma “Ciência do Movimento Humano”. Fui aluno dele, por um curto período. Não abracei suas ideias quanto à constituição de uma “Ciência do Movimento Humano”, mas tive minha pedagogia fortemente influenciada por suas teses, inclusive, na área do treinamento desportivo. Suas bases, para defender uma ciência em nossa área, fundavam-se na neurologia e na psicologia. O que abrangeria essa ciência? O campo era muito vasto e esse deve ter sido o maior problema. Movimento humano é tudo, portanto, não é nada. Não há ação humana possível, nesta vida, que não seja uma manifestação motora. O movimento manifesta a vida, portanto, falar de uma ciência do movimento humano é falar de tudo e de nada ao mesmo tempo. Isso não significa que Jean Le Boulch viu suas tentativas serem absolutamente frustradas. Deu luzes novas à nossa área, nos fez estudar mais, ajudou a configurar melhor nossa pedagogia. Só não conseguiu fazer progredir uma ciência típica para o campo da Educação Física.

Por Roberto Affonso Pimentel
em 16 de Junho de 2011 às 10:22.

João,

Suas palavras soam como alimento para meu espírito. A ponto de pedir permissão para transportá-las até o meu blogue - www.procrie.com.br - e incluir seus pensamentos nas discussões que venho programando sobre Esporte e Educação Física no âmbito da escola. Peço a sua visita, e de todos os seus discípulos, para a recente postagem "Procrie na Nuvem". Tenho certeza de que estarei multiplicando seus ensinamentos e ao mesmo tempo enriquecendo meus leitores.


Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.