Por mais que existam escolinhas de esporte, além de outros espaços para a formação esportiva, a crença geral é a de que, de repente, surgirá, como num passe de mágica, o talento, o agraciado, o ungido pelos céus, tal como um Usain Bolt ou um Michael Phelps. O segredo seria desenvolver a intuição ou procedimentos científicos para descobri-los. O melhor lugar para isso, claro, é a aula de Educação Física, uma vez que todas as crianças em idade escolar estão matriculadas em escolas no Brasil. Ora, se todos vão à escola, é lá que vamos descobrir os talentos olímpicos. Considerando que poucos acreditam que a Educação Física tem o que ensinar (ensinar é coisa de matemática, português, geografia...), a Educação Física tem é que apenas incutir hábitos de saúde e movimentar a criançada até descobrir o talento olímpico. Isso me lembra uma bateia de minerar ouro: o sujeito passa a vida mexendo cascalho na bateia até descobrir uma pepita que valha a pena. Querem que o professor de Educação Física faça isso, dia após dia, mexendo sua bateia, até que o menino ou a menina com a medalha olímpica surja à sua frente.
Por que é que estou levantando essa lebre? Por vêm aí as Olimpíadas de 2012 e, quem sabe no Brasil, a de 2016. Talvez, isso acontecendo, nunca veremos a Educação Física tão desvalorizada, tão sem sentido.
O que fazer diante disso? Dar um sentido para a Educação Física, dar um sentido para a pedagogia do esporte. Ensinar esporte, na escola ou fora dela, é para reconhecer o direito que todos têm de usufruir de sua prática, não importa o tamanho, o peso, a raça, a religião, etc.
Comentários
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Guilherme Tucher
em 11 de Julho de 2009 às 15:20.
Olá, prof. João Batista Freire.
Realmente é essa noção que as pessoas tem. Trabalho em uma escola pública com o ensino médio. Os alunos acreditam, por que é isso que a TV passa para eles, que o que é "bom" já nasce pronto. A TV não mostra o dia a dia do atleta, do trabalhador ou de um presidente. Parece realmente que eles chegaram ali por um passe de mágica. Ou na pior das hipóteses, por que seus pais são ex atletas. Assim, eles acreditam que não são ao menos capazes de praticar. Pois quem chega em segundo não é bom!
Uma vez vi uma reportagem com o Falcão (jogador de futsal) onde ele comentava que estava treinando um novo drible. Mas só realizaria em uma competição depois de muito treino. Comentei sobre isso com os alunos e muitos tinham assistido a reportagem. Mostrei para eles que o Falcão não tinha feito uma oração ou simpatia. Ele repetia o movimento até que chegasse a um nível aceitável de execução.
E o fruto disso em nossa profissão é que não vemos clubes (principalmente no interior) que ofereçam aulas de basquete, volei, handebol. E muito menos os pais querem pagar aulas para isso. Vemos aulas de futebol, mas devem ser sempre muito baratas. Afinal de contas, como já ouvi uma vez: O BOM JOGADOR JÁ NASCE PRONTO, É UM DOM. É SÓ NINGUÉM ATRAPALHAR ELE".
prof. Guilherme Tucher
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João Batista Freire
em 13 de Julho de 2009 às 09:33.
Guilherme: você tem razão. É o que mais a gente ouve e vê na imprensa. Resumindo, diz-se que "o bom jogador já nasce pronto". Ou que "o fulano é um atleta nato". Claro que há fatores genéticos por trás de um grande atleta, mas quem sabe deles? Quando muito, a gente sabe um pouco da cultura da pessoa. Certa vez, durante um campeonato brasileiro de atletismo de jovens, um grupo de pesquisadores fez pesquisas para detectar talentos, e divulgou os resultados. Bateu desânimo geral em todos os que foram detectados como não talentos. Nunca vi imbecilidade maior. Ora, quase ninguém, dentre os que aprendem esporte, viram atletas. Porém, se aprenderem coisas boas para a vida enquanto aprendem esporte, restarão bons conhecimentos para sempre.
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Guilherme Tucher
em 13 de Julho de 2009 às 10:25.
Minha proposta de trabalho é a de que "TODOS SÃO BONS ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO". Tento passar isso também para os meus alunos. Eles podem não ser campeões olímpicos. Mas podem ser mundiais. Talvez não campeões mundiais, mais sul americanos. Ou não sul americanos, mas campeões brasileiros, estaduais, regionais ou municipais. Isso não importa! Para vida levarão o que o esporte lhes proporcionou e o quanto se dedicaram.
Chega essa época de férias e meus ex-atletas voltam para dar umas braçadas com o grupo que ainda permance. Alguns nem se conhecem. Nesses momentos me sinto bem. Com o sentimento de missão cumprida...
Guilherme
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Lucas Leonardo
em 13 de Julho de 2009 às 10:30.
Olá João e a todos que já fazem parte dessa comunidade caçula no CEV. Primeiramente é bom ver o interesse em discutir PEDAGOGIA. Contei agora e comigo já são 22 interessados. Muito bacana.
A discussão colocada em pauta apesar de tato já termos estudado estará em destaque por muito tempo, principalmente quando o professor João destaca a possibilidade de em 7 anos o Brasil ser uma sede olímpica.
Já estou até "tremendo nas bases" ao imaginar o que vai ocorrer com o esporte e com a nossa função de PROFESSORES (incluíndo também os treinadores, já que a ação de treinador é puramente pedagógica).
Acredito que haverá uma midiática ’valorização’ do professor, creio que nunca ouviremos falar tanto em educação física escolar, tanto em formação esportiva, ouso até ’profetizar’ as faculdades de educação físicas lotadas (além da abertura de mais um sem-número de faculdades Brasil afora - bom? ruim? não sei!).
Porém, o discurso será impregnado de tudo...menos de PEDAGOGIA...
Considero de extrema importância nos engajarmos nesse processo e salvar a educação física, pois acredito que a ela sofrerá muito com essa (des)valorização iminente.
Abraços,
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