Imaginem o seguinte: as crianças, ou os adolescentes, vão aprender esporte e recebem, permanentemente, a mensagem de que estão ali para serem campeões, para serem atletas de alto nível. Isso raramente acontece. Atletas olímpicos são mais raros que pepitas de ouro. Quando a razão informa aos jovens que eles não serão campeões, o que resta? Só resta alguma coisa além de frustração quando aprendem outras coisas agregadas ao esporte. Por exemplo, virtudes como solidariedade, amizade, coragem, decisão, etc. 

Comentários

Por Katia Brandão Cavalcanti
em 13 de Julho de 2009 às 09:57.

Quando os campeonatos são consequência do nosso envolvimento com o esporte, sentimos algo muito diferente...Lembro-me sempre de campeonatos brasileiros de basquete quando jogávamos com São Paulo e as perspectivas eram bem diversas. Elas querendo passar os 100 no placar do jogo e nós do RN querendo mostrar o nosso melhor. Depois do jogo, um elogio num determinado lance da partida era maravilhoso...Constatar que estávamos progredindo como equipe, era algo muito especial...O esporte foi muito importante na minha vida! Aprendi a usar estratégias com o basquete. Hoje, aprendo muito com a Fórmula 1. Espero um dia por voltar ao basquete com o propósito educacional. Não tenho pressa. Mas sinto que está mais perto do longe...

Por Alvaro Ribeiro
em 13 de Julho de 2009 às 10:33.

Espero estar seguindo o raciocínio. Quanto à pergunta : "quando a razão informa aos jovens que eles não serão campeões, o que resta ?" arriscaria que, pela frustração e inconformismo, resta recorrer a qualquer meio que, real ou imaginariamente, possa servir de meio de transposição deste obstáculo "à vitória". Por outro lado, quando atletas vivem o fim da carreira esportiva como uma espécie de morte, é sinal de que algo errado está acontecendo, claro, lá atrás, com as crianças.

Mas não gostaria de cair na armadilha da demagogia simplista nem na "severidade fácil da ética abstrata". Uma vez identificados os pontos de estrangulamento deste sistema (perverso ?), onde o esporte de alto rendimento, no contexto em que anda inserido, é um mal em si, poderíamos prevenir o que quer que seja indesejável ?

Deverámos sair do debate purmamente ideológico ? Há mensagens de natureza mais prática a passar às futuras gerações que os ’clichés do bem’ (valores positivos) ? Dever-se-ia passar por uma modificação generalizada nas regras do esporte ? Deveríamos implicar nossas crianças nas tomadas de decisão (ouví-las) ? Deveríamos impor às organizações esportivas um acompanhamento psicológico obrigatório a elas ?

Lembro que um estudo recente [1] evidencia um certo numero de lições e de recomendaçoes que podem ser aplicadas pelos programas de prevenção (ao doping, no caso) bem sucedidos, que devem ser, especialmente:

• Dirigidos aos jovens e adolescentes, uma fase da vida no curso da
qual os comportamentos e valores se moldam;
• Adaptados ao publico alvo e ‘as suas necessidades (p. ex., fatores
de risco, de desenvilvimento etc.);
• Interativos e centrados em uma participaçao ativa (especialmente
através de discussoes e encenaçoes) ;
• Oriundos de abordagens ligadas às influências sociais e centrados no
desenvolvimento da autonomia funcional de base (p. ex., communicaçao,
tomada de decisao, capacidade de recusa etc.). A transmissao do
conhecimento, por si so’, nao basta para modificar comportamentos;
• Seguidos e transmitidos fielmente, de modo que a implementaçao do
programa seja conforme;
• Transmitidos por individuos que, manifestamente, saibam transmitir
os programas com uma fidelidade exemplar ;
• Baseados em sessoes de acompanhamento realisadas ao longo de varios
anos. Este conceito reforça as mensagens de intervençao delas se
aproveitando

Será que dá para aproveitar algo deste estudo ?

[1] http://listas.cev.org.br/pipermail/cevdopagem/2009-May/003249.html

Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 13 de Julho de 2009 às 11:18.

JoãoZinho, Kátia

Nos meus tempos de tecnico, sdempre deixei bem claro para os meus alunos de atletismo que apenas um poderia ser o campeão... o que se esforçasse mais... e que haviam muitas variáveis...

De que eles competiam consigo mesmo... chegar em primeiro ou em último, não importava. Se tivesse feito o melhor, naquele momento, que fosse possível. Se tivessem melhorado sua marca... o seu principal adversário era ele mesmo... ganhar a medalha, não importa qual, é um acidente de competição... 

Ninguém tinha obrigação de ganhar, mas o de fazer o melhor, pela equipe... esporte individual? sim! mas há uma equipe competindo... e o resultado das somas de todos os resultados... mais importante ser a equipe campeã do que ser campeão sem equipe... o primeiro colocado e o último, mesmo que voce não se tenha classificado para a final, são importantes para a equipe... esse o princípio... aos poucos, deixei de ser técnico e passei a ser ’apenas’ professor de atletismo... terminei a carreira apenas como ’professor’... consegui transmitir aos meus alunos que o importante era correr, não a corridxa; que era o saltar,knão ’o’ salto; que era lançar/arremssar, não ’o arremesso’. Divertir-se, o prazer de fazer algo, bem feito. Se queriam competir? podem, até... se queriam ir para os Jogos Escolares? posso treiná-lo e inscreve-lo e vamos todos assistir, torcer por um resultado - naquele sentido de melhorar seu próprio resultado, em face ao anterior - e, se possivel - se os outros ’concordarem’, uma medalha... Participar! Divergtir-se! isso, para mimj, hoje é esporte...

Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 13 de Julho de 2009 às 11:25.

JoãoZinho, Kátia...

O que é o esporte? mesmo? Vamos começar pela análise etimiológica da palavra?

Difundiu-se, então, o termo "esporte" com o significado de "qualquer modalidade de exercício físico" (DIEM, 1977). Hoje, compreendemos por esporte, em geral, uma “atividade motriz espontânea originada em um impulso lúdico, que aspira a um rendimento mensurável, e a uma competição normalizada" (HAAG, 1981, p. 95). Sob o ponto de vista sociológico, LUSCHEN (citado por HAAG, 1981) afirma que o esporte se organiza:

1.   Informalmente, como esporte de tempo livre;

2.   Formalmente, como esporte de competição;

3.   Institucionalmente, como parte de outras instituições sociais cujos valores modificam sua orientação (educação física, esportes escolar, ou militar).

 

Já MOREIRA (1985), sob o ponto de vista psicológico, faz referência - após analisar o conceito de Dumazedier -, à função do "desenvolvimento da personalidade" como a que deverá ocupar um papel preponderante na utilização do lazer nas aulas de Educação Física, revertendo as funções de descanso e divertimento "de seu papel educativo-consciente" onde espera, dessa forma, , que "o lazer possa se transformar em aprendizagem voluntária e prática de uma conduta criadora, em se tratando de execução de atividade física" (p. 27).

A palavra esporte será estendida a todas as manifestações praticadas com o espírito lúdico, pois o esporte é uma criação cultural (SANTIN, 1996).

Kátia, lembra disso? é de minha monografia em lazer e recreação... concepção utilitária e social da educação física... em que voce foi co-orientadora... informalmente...

Por João Batista Freire
em 13 de Julho de 2009 às 13:06.

Quando eu estava no segundo ano primário, a professora perguntou para os alunos o que queriam ser quando crescessem. Um a um, eles responderam: "jogador de futebol, professora". Vivíamos os anos do maravilhoso Santos de Pelé e companhia. Eu era o primeiro da classe e a professora esperava de mim uma resposta diferente, tipo, quero ser advogado, engenheiro ou médico. Mas eu respondi "jogador de futebol professora", e ela ficou muito decepcionada. Quando fui fazer esporte mais a sério (Atletismo), meu sonho era ser um grande atleta. A realidade custou a tomar conta de mim. Só que não fiquei frustrado, fui ser professor de Educação Física, técnico de vários esportes. Restou, não frustração, mas amor pelo esporte, perseverança, compreensão, entre tantas coisas boas. Como foi que o esporte me ajudou tanto? O que ele tem de tão bom? Mas, o Álvaro tem razão, precisamos também ser práticos. Olha Álvaro, acho que teremos que caminhar aqui na comunidade, para coisas práticas (sem abandonar as teóricas), tipo relatos de nossas experiências e coisas técnicas, como ensinar, que experiências temos sobre isso, etc. Vou começar a escrever sobre minhas experiências ensinando esporte, por mais de trinta anos. Acho que a leitura de comentários como os da Kátia, do Leopoldo, do Guilherme, do Álvaro, já constitui uma contribui enorme para todos que visitarem esta comunidade.

Por João Batista Freire
em 13 de Julho de 2009 às 13:13.

Leopoldo: etmologicamente, esporte, entre outros sentidos, tem o de renúncia, enfrentamento de dificuldades, abstenção. Esporte é uma simulação, e tem, na raiz, a imprevisibilidade, como todo jogo. É isto que o torna jogo, o fato de ter graça porque algo imprevisível acontecerá. Ninguém se interessaria por um jogo entre Grêmio e Náutico sabendo antes o placar. O jogo, essa nossa dimensão lúdica, manifesta-se de muitas maneiras, entre elas, como esporte. O esporte atual mistura-se muito com trabalho, porque se profissionalizou. Há algumas coisa que gosto especialmente no esporte. Uma delas é vê-lo como arte. Sua prática pode levar à arte. Outra coisa que me é muito cara é seu caráter de renúncia, de enfrentamento de dificuldades, mais que o de competição. Por exemplo, um montanhista pode preparar-se anos a fio para subir o Aconcágua ou o Everest. Quer porque quer vencer a montanha. No entanto, depois que ele chega ao pico da montanha, torna-se um vencedor, mas a montanha continuará lá, como sempre foi. Esse é um vencer diferente. A montanha é apenas a adversidade a ser superada, e não o inimigo a ser batido. Ela tem que continuar como é, para que continue a ser vencida. Na verdade, o que foi vencido é algo que estava no montanhista, produzido em sua relação com a montanha. Assim, em todos os esportes, os adversários deveriam ser vistos. 


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