Infelizmente, nossos atletas só foram manchete no mundial de Atletismo de Berlim por causa dos casos de doping. No Brasil, o Atletismo é um esporte fraco, decadente. Já fomos melhores, no tempo em que havia menos ciência e menos tecnologia. Certamente não pioramos por causa da ciência e da tecnologia, mas, de alguma maneira elas não repercutem no rendimento de nossos atletas. Provavelmente, também, porque nos falta muita pedagogia, nos falta uma boa pedagogia. Na década de 1970, a Federação Paulista de Atletismo investiu fortemente na participação maciça de crianças e jovens em eventos adaptados, tais como cross country, festivais de resistência, festivais de saltos, de lançamentos, de velocidade. Milhares e milhares de participantes a cada evento, sem preocupação com definição de campeões. Esse movimento morreu, sibstituído por fórmulas mais sofisticadas, porém, menos eficientes.

Vejo duas coisas que minam fortemente a formação esportiva: de um lado a chamada detecção de talentos: todo processo de seleção é excludente. Quando garimpamos os chamados talentos, vamos eliminando os que não são considerados talentos. De outro lado o famigerado doping: voltamos nossa atenção para a ideia de que só é possível chegar a grandes resultados apelando para o recurso das drogas. Deixamos de aprender a ensinar, porque a droga substitui tudo. É um recurso anti-ético, porque não considera a vida humana.

O melhor processo de formação esportiva, inclusive, para o esporte de alto rendimento, é a pedagogia. A ideia é ensinar a todos, não importa o talento. Julgo que o caminho para um esporte forte é formar os jovens sem nunca pensar se serão campeões ou não. Num país de mais de cento e noventa milhões de pessoas, se todos puderem aprender esporte, não há como evitar o surgimento de campeões.

Comentários

Por Jorge Dorfman Knijnik
em 24 de Agosto de 2009 às 11:00.

Pessoal, Joao B, tudo bom?

Olha,Joao, interessante a historia da pedagogia,bem interessante, temos que insistir nela, ate porque adoraria voltar a ver no Brasil (isto eh,quando eu voltar ao Brasil tambem...) criancas e jovens fazendo esporte, sem tanto apelo medalhistico... Aqui em Sydney, nossa! Se voce conseguir andar pela cidade em um domingo de sol,nao tem espaco em um parque,todo mundo, de todas as idades,jogando tudo, milhares de pessoas envolvidas em todos os tipos de esporte, eh muito legal, aplausos para os vencedores, e tambem para os perdedores, todos merecem o merito do esforco,todos se divertiram, vamos tomar sorvete juntos, e domingo que vem tem mais!

Quanto ao mundial de atletismo, voce chegou a ver o blog do Jose Cruz? http://blogdocruz.blog.uol.com.br/ 

Olha, eu dei uma olhada, ele acompanhou o mundial, quer dizer, fala bastante da grana, do ministerio,federacoes,etc, e tambem entrevista o ’professor Fernando Franco’, (copio abaixo) do Centro de EStudos do Atletismo (?, sorry,nao conheco), que acompanha o esporte ha muitos anos, de Brasilia. Olha, o cara tambem gostaria de ver milhares de criancas fazendo atletismo,e no final mete o pau nos ’filosofos da Educacao Fisica’ (sempre eles, os filosofos! quem serao? O Laercio? O Lamartine? Eu sou ’esportologo’, o Joao eh pedagogo,o Victor historiador,o Gilmar geografo, sobrou pra quem?) que nao deixam o esporte ir pra escola, enfim, o velho debate. Mas interessante, como promovermos mais ’esporte para todos, com todos, de todos?’ Estamos atras nesta corrida...uops,sorry o trocadilho, abracos!

JK

Conforme anunciamos, aí vai a entrevista com o professor Fernando Franco, do Centro de Estudos de Atletismo. Ele se dedica à análise de tempos e marcas dos atletas para projetar desempenhos nos principais eventos.

         A exemplo das duas últimas olimpíadas e dos dois últimos campeonatos mundiais de atletismo, as previsões foram impecáveis, o que demonstra a importância desse estudo, ignorado pela Confederação Brasileira de Atletismo.

Blog – A matemática do ranking mundial deve ser respeitada para futuros eventos?
Fernando Franco
– Na minha avaliação, deveria ser o primeiro critério para formar a equip. Atleta classificado acima de 40º lugar no ranking mundial não deveria viajar.   

Blog – O Brasil tem uma geração de atletas juvenis que dê melhor perspectiva em eventos internacionais?

Fernando Franco – Não acredito. Falta estrutura, principalmente. Aproximadamente, 80% dos nossos melhores atletas estão concentrados em apenas duas equipes. São poucos técnicos para muitos atletas.  Muitos dos nossos jovens que vão aos campeonatos mundiais de suas categorias participam das finais de suas provas. Mas ficam nisso, não evoluem. Param. Seus adversários, ao contrário, avançam, e dois ou três anos depois estão disputando olimpíadas e mundiais.

Blog – Qual o motivo?

Fernando Franco – Observe: no último Campeonato Brasileiro juvenil, os 5.000m feminino teve apenas quatro atletas. E temos fartura de jovens, em 26 estados, mais o Distrito Federal. Na Jamaica, o campeonato juvenil teve a participação de equipes de 36 escolas. Aqui, isso (escola como identificação de atletas) é proibido pelos “filósofos da educação física”. Mais: a graduação nas faculdades de educação física é dirigida para o formando trabalhar em academias. Os alunos não são incentivados a conhecer modalidades esportivas, como o atletismo. Tudo isso contribui para que tenhamos poucos técnicos, poucos clubes, poucos atletas e, consequentemente, dificuldade de renovação.

Blog – Ou seja, é preciso uma política integrada, pois formar equipes competitivas leva muito tempo?

Fernando Franco – Se a prática de educação física e do atletismo não for para as escolas, acredito que nem em 2016 teremos uma representação competitiva. Continuaremos ser um mero país coadjuvante.  

Por João Batista Freire
em 24 de Agosto de 2009 às 14:24.

Olá Jorge. Curta bastante seu sol em Sidney. Aqui em Floripa aguardo o sol, que parece vencido pelo cansaço, com tanto inverno e chuva que não acaba mais. Sabe Jorge, durante muitos anos trabalhei com Atletismo. Tive, inclusive, diversos atletas internacionais, até a década de 1980, e um atleta olímpico que antes havia sido campeão mundial. E, nas Olimpíadas de 1984, fez bonito, foi o quarto colocado na final; tinha só 20 anos. O nome dele é João Batista Eugênio. Por isso, assim como você, fico bastante preocupado com a decadência do Atletismo brasileiro. Porém, eu e o Prof. Fernando Franco pensamos muito, mas muito diferente. Tive tempo de experiência em esportes (trinta anos dando treinamentos) para saber que a solução que ele aponta é um terrível equívoco. Não são os filósofos da ducação Física que impedem que os atletas sejam identificados na escola; é o bom senso. Escola não é uma instituição criada para identificar talentos em música, matemática, física ou esportes; seu papel é enriquecer os jovens com instrumentos para exercer com dignidade sua vida em sociedade. Não sou filósofo e sei disso e combato a identificação de talentos nas aulas de Educação Física, mas defendo o Atletismo nas aulas de Educação Física. A solução do Prof. Fernando é muito simplista, muito fácil. Qualquer um diz isso. Ele mostra saber pouco sobre o papel da escola. E não precisamos da escola para fazer um Atletismo forte. Temos os centros de treinamento, os centros educacionais de prefeituras, Estados, de empresas, ONGs, etc. Temos o segundo tempo da escola. O que não temos é competência pedagógica para ensinar esportes, porque gastamos o tempo todo buscando os talentos, querendo identificar os talentos esportivos. Precisamos é ensinar esporte a todos, num reconhecimento de que os cidadãos comuns têm o direito de praticá-lo. O Prof. Fernando usa a palavra "filósofo" como pejorativa. Veja, quando, para alguém, filósofo e uma designação pejorativa, é porque algo está errado, é precupante. Para mim, a melhora do Atletismo depende de iniciativas educacionais, como a da Ana Moser, do Instituto Esporte Educaçao, por sinal também no blog do Cruz, um dos melhores do jornalismo brasileiro. Um grande abraço Jorge.

Por Alvaro Ribeiro
em 24 de Agosto de 2009 às 15:15.

Pessoal, antes de criticar o desempenho do Atletismo e sua decadência (?), não seria prudente apontar solução em fase com nosso tempo ? Por exemplo : qual o tamanho do investimento, a estrutura e tipo de treinamento de que dispõem os atletas dos Estados Unidos ? E, sejamos realistas, apenas 32 países conquistaram medalhas: http://berlin.iaaf.org/results/medals/index.html. E sabem quantos países participaram ? 202 !

Por João Batista Freire
em 24 de Agosto de 2009 às 16:35.

Como assim Álvaro? Não é normal, diante de acontecimentos, ocorrerem críticas? Quem acompanha o esporte brasileiro há muito tempo, no mínimo acha estranho um esporte progredir e, de uns tempos para cá, cair. E o país, como um todo, não caiu, pelo contrário, o país cresceu. E vários esportes brasileiros cresceram. Aqui nesta comunidade, só o que a gente tem feito é indicar caminhos, limitados por nosso poder de fogo, que é pequeno. E quanto à estrutura nos Estados Unidos, um país com mais de duzentos milhões de habitantes, saiu-se pouco melhor que a Jamaica, que tem pouco mais de dois milhões e meio de habitantes. Basta ler, por exemplo, as declarações do presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Roberto Gesta de Melo, um dos que mais criticou o desempenho pífio do Brasil no mundial de Berlim.

Por Jorge Dorfman Knijnik
em 25 de Agosto de 2009 às 09:13.

Ola,Joao, Alvaro, pessoal!

JB, concordo com muita coisa que voce fala, sobretudo o incentivo ao debate, debate,conversa,dialogo, um dos grandes males do esporte (e nao somente do esporte...) brasileiro é esta aversão ao debate, "votem em mim,acreditem no que digo porque ’ la loi c´est moi’ ". Qual o problema de debater,criticar, procurar, isto é fundamental para o avanço das coisas, não podemos mais voltar ao período do ame-o ou deixe-o, ao contrário, ame-o, pense,reflita, ajude a achar os defeitos e melhorar, é por ai. E a filosofia tem instrumentos poderosos para isso, acho bem estranho alguém alardear que os ’filósofos’ atrapalham...Uma vez, há certo tempo, na minha classe de Filosofia na EEFEUSP, os alunos criaram um sambinha,cujo mote é inesquecivel:" Filosofia, ô, filosofia, filosofia é amor, a sabedoria!". Voltando a vaca fria, do atletismo e do esporte, realmente, sinto saudades dos tempos dos festivais esportivos, como também fazíamos com o handebol, onde centenas de crianças participavam, jogavam o dia inteiro, havia um grande pic-nic comunitário, e todos aprendiam a jogar, gostavam de jogar, aprendiam muito mais do que o jogo (amizade, liderança, autonomia, ver os outros jogarem, curtir ao ao livre, etc e tal), etc e tal. Tambem da minha epoca de jogador infantil, lembro o quanto fazíamos de festivais, jogávamos o dia inteiro, confraternizávamos, tomávamos lanche juntos e fazíamos amigos nos outros clubes. De uns tempos prá cá, a coisa mudou, a rivalidade tomou conta, as pessoas mal se cumprimentam...Estão selecionando o quê? Atletas mal-educados? Incivilizados? Além disso, quem decide o que é talento aos 10 anos? Como se sabe? Ora, quantos jogadores que não cresceram cedo (’tardios, que nem o Marcelo Massa...) mas que sempre foram inteligentes, gostavam de jogar, por que barrar estas carreiras? Enfim, o debate é longo e gostoso. Abraços de Sydney, onde está sol mas à tardinha já esfria...hoje dei aula de cricket, mini te-bal, oz tag...outros esportes, todos e todas jogando, foi legal, aprendi um bocado, de fato,não sei nada destes esportes, mas sei alguns princípios pedagógicos, os conceitos, o que me facilita a transposição.Abração, aqui o dia começa cedo!Jorge


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