Artigo publicado em 11/08/2010 n’O GLOBO, pelo amigo Thiago Seixas que concluiu recentemente o Mestrado em Gestão Esportiva na Universidade do Porto. http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/08/11/a-ma-gestao-dos-clubes-de-futebol-917370875.asp O Brasil é um país que possui um altíssimo potencial de rentabilidade quando a matéria é futebol. Atualmente, o futebol movimenta cifras superiores aos 250 bilhões de dólares a cada ano e, para nossa surpresa, o Brasil tem participação inferior a 1%. Isto se deve à falta de uma gestão profissional dentro dos clubes de futebol. A profissionalização da gestão de instituições que utilizam o futebol como meio e fim para obterem lucro pode e deve ser configurada em nosso país. Alguns fatores nos chamam especial atenção quando observamos a conjuntura atual dos clubes de futebol brasileiros, nomeadamente: gestão amadora, estádios ultrapassados, pouco investimento em marketing e leitura equivocada do mercado. É notória a percepção de que as organizações esportivas têm sido vistas e utilizadas como um sistema político e como um instrumento de domínio, no sentido de favorecer a defesa dos próprios interesses de presidentes e elites envolvidas, os quais permanecem com "cadeira cativa" por infindáveis períodos. Dentro desta realidade, alguns conceitos e indagações se fazem pertinentes. Por que os torcedores ainda não são vistos como ativos no patrimônio de tantos clubes de futebol brasileiros? Neste prisma, nos ativos do clube deveriam constar os torcedores, os jogadores, os estádios e centros de treinamento, pois tudo isto agrega valor ao clube. E é justamente nestes quatros elementos que as atenções devem estar voltadas para que seja possível a maximização de receitas dos clubes. Assim, um ciclo é criado: os clubes maximizam suas receitas, reinvestem no próprio clube (em áreas que são definidas a priori, no planejamento estratégico) para otimizar os resultados em campo, agradando uma parte importante dos ativos do clube, que são os torcedores, e mais uma vez favorecendo o aumento das receitas. O torcedor tem que ser visto como um cliente, e não somente como um mero "apoio" ou "caridoso", que paga sua mensalidade para ajudar o clube. O torcedor, assim como qualquer cliente, tem que perceber valor por aquilo em que investe. Este é um ponto-chave no qual diferimos da gestão dos clubes de futebol na Europa. Os torcedores têm que perceber o valor que terão ao se tornarem sócios, seja com a compra antecipada de ingressos, seja com privilégios para aquisição de materiais esportivos em edições limitadas, por exemplo. Mas é preciso pensar e agir. O futebol, de fato, tem um potencial altamente inexplorado. Ainda estamos muito distantes da realidade europeia, que anualmente soma a cifra de quase 4 bilhões de dólares advindos de seus 20 principais clubes, em comparação com os 453 milhões somados pelos 21 clubes de maior renome em nosso país. Todavia, esta é uma realidade que pode ser mudada, tendo em vista as oportunidades que o Brasil terá nos próximos seis anos ao sediar dois dos maiores eventos esportivos do planeta. É necessário, pois, planejamento para que se possa construir de maneira eficaz os legados do futuro, pensando em impactos positivos não só para instalações esportivas mas também relativos à capacitação. Desta forma, os nossos dirigentes e representantes esportivos estarão mais aptos para uma atuação sólida, eficaz e duradoura, no sentido de transformar o ilusório país do futebol no real país do futebol - capaz de absorver tudo aquilo que produz com essa modalidade esportiva adorada povo brasileiro e por todo o mundo.

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