Para reflexão de todos. Se for para devolver as candidaturas que seja rápido.
Blog da Folha - André Barcinski
Dias estranhos esses. Primeiro, a Gol cancela 300 vôos e deixa milhares de passageiros dormindo em aeroportos.
Depois, um avião cai na Baía de Guanabara e fecha o Aeroporto Santos Dumont.
Na sequência, o governador do Rio, Sergio Cabral, chama de “otário” um menino que pediu a construção de quadras de tênis em sua comunidade. E Lula, num gesto de nobreza olímpica digna do Barão de Coubertin, diz que tênis é “esporte de burguês”. O que leva à inevitável pergunta: o que o presidente acha de badminton ou nado sincronizado?
Não parou por aí. Logo depois, o governador de Sâo Paulo, Alberto Goldman, descobre a pólvora e escreve um artigo dizendo que teremos caos no transporte aéreo se um novo aeroporto não for construído no Estado. E uma pesquisa mostrou que 57% dos brasileiros não querem dinheiro público usado nas obras da Copa. Tá bom.
No dia seguinte, leio que o Cubo D’Água, uma das obras mais espetaculares e caras das Olimpíadas de Pequim, reabriu como um parque aquático, mais de dois anos depois do fim dos Jogos. Um parque aquático de meio bilhão de dólares.
Depois, leio na Folha que o governo finalmente percebeu que as obras dos estádios da Copa estão atrasadas e pediu pressa às cidades-sede. No mesmo dia, um grupo de marginais, voltando de uma festinha de arromba carregando metralhadoras e fuzis, é surpreendido pelo polícia e acaba invadindo um hotel de luxo em São Conrado.
Eram muitos os sinais.
Daí, tive a idéia de viajar de Sâo Paulo ao Rio de Janeiro pela Rio-Santos. Pude constatar algumas coisas:
A marginal Tietê e a Avenida Brasil continuam disputando pau a pau o posto de acesso mais lúgubre a uma metrópole.
A Rio-Santos até que vai bem até a fronteira de Sâo Paulo e Rio. Logo depois da placa, uma cratera de três metros de diâmetro dá as boas-vindas ao Rio de Janeiro.
A estrada Paraty-Cunha, rota de fuga em caso de acidente nuclear em Angra, continua interditada, 20 meses depois de uma tromba d’água em janeiro de 2009.
A Rio-Santos tem pelo menos seis locais com obras interrompendo o tráfego. Aparentemente, oito meses não foram tempo suficiente para consertar os trechos afetados pelos desabamentos de janeiro deste ano, que causaram mortes em Angra e na Ilha Grande.
O trecho em que a Rio-Santos encontra a Avenida Brasil lembra uma mistura de Bagdá com os desertos de “Mad Max”. Caminhões ziguezagueiam em alta velocidade fugindo dos buracos, enquanto pedestres suicidas cruzam a via a pé correndo por baixo de passarelas.
Quase fomos abalroados por um caminhão. O motorista estava sem camisa, falando no celular, e com olhos esbugalhados de que está sem dormir há cinco dias, à base de bolinha. E o melhor: transportando um carregamento de bujões de gás!
Fico imaginado o que acontecerá com um turista que vem assistir à Copa, resolve conhecer as belezas de Angra dos Reis e precisa passar por ali.
Mas o que eu realmente gostaria de saber é: o que acontecerá com os estádios da Copa e com as instalações das Olimpíadas depois que as competições terminarem? Será que dá tempo de ligar na FIFA e no COI e desistir?
http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/arch2010-08-22_2010-08-28.html
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