Compartilho com os amigos cevnautas artigo publicado no Diário de Pernambuco em 20/7/2010

Aos que moram no Rio de Janeiro e julgarem importante, por favor, encaminhe cópia para a diretora Helenir Alvez da escola municipal do Rio de Janeiro que quer impedir o aluno Júlio de participar das Olimpiadas Escolares.

http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/07/20/opiniao.asp

O esporte e as funções intelectuais

Aldemir Teles Dema – Doutorando em neurociências

 

Em edição recente, a revista Época anunciou em sua capa o seguinte título: “O cérebro do craque de futebol - A ciência comprova: eles não são bons só com os pés – também são geniais com a cabeça”. Salvo engano, é a primeira vez que o tema relativo às funções cognitivas no esporte (e o papel desse no desenvolvimento dessas funções) é divulgado na grande mídia nacional.

                As situações do jogo, a sua dinâmica e imprevisibilidade representam para o jogador um desafio constante à tomada de decisões técnico-táticas eficazes na busca de uma meta, um permanente apelo à inteligência, entendida como a capacidade de lidar com a complexidade, de resolver problemas em um contexto útil e de adaptação às situações em permanente mudança. Não é por acaso que os grandes momentos do esporte são aqueles onde as soluções encontradas pelos esportistas são as mais surpreendentes e criativas. Os considerados gênios do esporte, como Pelé e Michel Jordan, são exemplos de esportistas possuidores de capacidades intelectuais excepcionais. O que mais importa, entretanto, é saber que várias das capacidades para lidar com as situações-problema do esporte (percepção, atenção, memória, conhecimento, antecipação e tomada de decisão) podem ser desenvolvidas através da atividade esportiva sistematizada.

                Estamos, assim, em plena travessia de uma nova fronteira do conhecimento no esporte, ao demonstrar o papel desse no desenvolvimento cognitivo, que tenho defendido como um paradigma emergente, (outro paradigma ao qual tenho me aventurado a estudar e defender é o que trata do esporte como meio de “modulação das emoções”). Assim sendo, podemos atribuir ao esporte função mais “nobre”, condizente com a expectativa da visão cartesiana que impera ainda na sociedade, que supervaloriza a atividade intelectual em contraposição as atividades corporais e reconhece capacidades intelectuais apenas naqueles que demonstram erudição, como se fossem sinônimos. Portanto, com base nas evidências, e contrariando os conservdores, podemos afirmar que a prática do esporte é também uma atividade intelectual. Outros sentidos atribuídos ao esporte são popularmente conhecidos como: “esporte é saúde” e “esporte é lazer”, além do famigerado e reducionista conceito de que “o esporte livra os jovens da droga”, como se fosse o antídoto, o contraveneno, tema recorrente dos políticos em tempos de eleição e esquecidos depois.

            O próximo passo é sensibilizar nossos gestores da área esportiva, da educação, pública e privada, educadores, pedagogos, pais e estudantes para mudar a realidade, especialmente nas escolas, onde a prática esportiva se universaliza e, ao contrário dos países desenvolvidos, essa atividade quase inexiste, com algumas honrosas exceções. É possível os gestores mudarem tal realidade acreditando no que a ciência já produziu nesse campo ou ainda precisam de mais argumentos? 

Comentários

Nenhum comentário realizado até o momento

Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.