A declaração da ex-esgrimista da seleção brasileira expõe parte da dura realidade dos atletas e do esporte nacional. Muito ruim para o país das olimpíadas.

Video com a revelação da atleta Élora Ugo Pattaro: http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/2015/02/25/vergonha-de-competir-pelo-brasil-diz-esgrimista-da-selecao-olimpica.htm

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 27 de Fevereiro de 2015 às 12:56.

Aldemir,

Essa é uma faceta cultural, instalada no Brasil a partir de meados dos anos 1950 quando demos início às participações esportivas internacionais - Panamericano, Mundial de vôlei. A única diferença é que não havia dinheiro, éramos amadores. Todo sacrifício para estar na seleção era justificado pelo simples orgulho do destaque dos demais, e as viagens de avião (gratuitas) especialmente para o Velho Mundo, cujo início se dá em 1956, no Mundial de Paris (vôlei). No mundial seguinte, no Rio (1960), sobraram dispensas, inclusive do próprio treinador, uma vez que não valeria a pena jogar no próprio país. No mundial seguinte, em 1962 (Moscou), antecipado para acolher as Olimpídas e a inclusão do voleibol, retorna o velho treinador e os "arranjos" - venha para o meu clube que você viaja - se sucederam. Fui testemunha, pois fora minha primeira participação como convocado. Fui considerado pelo capitão do selecionado, e um dos melhores jogadores do Brasil (Quaresma) como o "melhor atleta dentro de quadra" durante os treinos, e no entando, cortado logo de imediato. Dias antes coloquei minha posição firme diante de irregularidades que ocorriam nos treinamentos: três atletas do time do treinador só participavam dos treinos à noite, nos coletivos, enquanto os demais em três períodos. Acrescente-se que as "caratas já estavam marcadas", dado o caráter do responsável técnico e dos atletas que se beneficiavam dessa prática. Em 1964, nas Olimpídas de Tóquio, foi ainda pior, quando a delegação viajou com somente 10 atletas. E aqui é outra história...

Em 1963, convocado para o Pan-americano de São Paulo, agradeci ao mesmo treinador e encerrei minha participação em seleção nacional. No que fui muito feliz por não ter convivido em ambiente tão falso e mesquinho.

Agora, imaginem quando há muito dinheiro em torno do esporte. Salve-se quem puder, pois não há inocentes. Parabéns à moça pela atitude.

   

Por Aldemir José Ferreira Teles
em 27 de Fevereiro de 2015 às 17:05.

Roberto,

Agradeço a você por historiar velhas questões do esporte nacional, assim é possível seguir juntando as peças do mosaico e apreciar o produto com mais riqueza. O difícil e inquietante é tentar entender o por quê de não termos evoluído, mesmo com os avanços no conhecimento, que deveria dar mais clareza às decisões e aos projetos de políticas públicas. No entanto, continuamos como indigentes, à mercê de oportunistas de plantão, que seguem se beneficiando do esporte e sacrificando aqueles que acreditam, dignificam e contribuem para a efetiva realização da prática esportiva.  


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