Hoje, me permito reproduzir postagem do Poeta Batista do Lago no Portal Mhario Lincoln do Brasil http://www.mhariolincoln.jor.br/articulista/joao-batista-do-lago.html.
Batista do Lago é um dos último dos exilados, a retornar à Ilha Encantada. ‘Fugido’ pela Redentora, viveu na clandestinidade, aqui e alhures, alhures e aqui, os ultimos anos pós-anistia congelado na minha Curitiba, onde o conheci. Lembrando Gonçalves Dias:, “não permita, Deus, que eu morra sem que eu volte para lá…”. Bem vindo Poeta. Deus não permitiu… pena que a São Luís não seja mais a mesma…
Aculturados pelo boi(-ismo)
Por João Batista do Lago
Aprendi com o professor José Nascimento de Moraes Filho (falecido em fevereiro deste ano) que o folklore maranhense é, possivelmente, se não o mais rico, mas aquele que guardaria a sua identidade mais próxima das raízes populares. E dentre todas, a mais forte manifestação floclórica do Estado é o boi bumbá. Até aí está tudo bem; tudo perfeito.
Infelizmente já não o tenho para um bate papo a respeito deste assunto. Infelizmente! E tenho certeza que, assim como eu, Nascimento de Moraes, também, não iria ficar calado diante de um processo de aculturamento da Cultura maranhense, sobretudo da Literatura.
Ninguém está aqui a negar o valor dos folguedos juninos que tem no bumba boi sua manifestação mais expressiva. Mas reduzir a Cultura e a Literatura maranhenses a essa corrente de boismo é algo desproposital e demonstra que os seus “pregadores” são sujeitos despreparados para o encaminhamento de políticas culturais.
Esse boismo, tipologia de aculturamento, é avassaladoramente prejudicial para o campo das Artes maranhenses.
Aos meus olhos é a reedição pósmoderna do “Pão e Circo” romano: dê-se comida… bebida… e brincadeira para todos…
As outras manifestações artísticas, como a Literatura e a Pintura, por exemplo, estão subsumidas no “campo patológico” desse boismo nefasto.
A maior expressão literária de São Luis, e consequentemente da Cultura maranhense, para se ficar apenas neste exemplo, é a Poesia, mas esta está enterrada nas toadas de bois (infelizmente!), agora elevadas à condição do gênero poético. Quanta enganação! Quanta burrice! Quanta pataquada!…
Urge, pois, a retomada da identidade da culturalidade marânhica. Há que surgir movimentos capazes de represar esse boismo reducionista imbecil e produtor duma geração de analfabetos funcionais.
Penso que, se vivo estivesse, Nascimento de Moraes encamparia mais esta luta por intermédio do Comitê de Defesa da Ilha de São Luis, hoje jogado às traças e carrapatos dos imcompetentes.
João Batista do Lago é poeta, escritor e jornalista; fenomenólogo e pesquisador cultural. Contato: joaobatistalago@hotmail.com
Leio os Colunista do PMLB, todos os dias… comentei:
Poeta
Estive ontem no Convento das Mercês. O meu São João se dá em julho. Conforto e segurança… programação que prima pela quase pontualidade, boa comida, mas…
Sim, Poeta, nosso Boi virou espetáculo circence. Companhias de Danças… a brincadeira acabou… o brincante não paga mais promessa, vive da promessa da paga ($$$ que recebe para dançar).
Morros ou Floresta? Floresta, sempre… brincantes efetivamente da comunidade de São João Batista, e não modelos-manequins que ‘desfilam’ com uma coreografia bem ensaiada.
Tem dois indios no Boi da Floresta que me encantam. Um, se vê, ’se libera’ na brincadeira, com seus trejeitos, se entrega na dança, com seu rebolado e mãos soltas, ‘de carregar bandeja’. Outro ao seu lado, sério, punhos cerrados, em seu vai-e-vem embalado pela toada, cintura dura. O gordinho, com sua barriga proeminente, gorduras saltando pela cintura da calça e peitorais quase seios. O outro, abdominal definido, peitorais de quem pega no pesado, na roça, carregando peso… Diferente dos ‘rapazes’ musculosos do Boi de Morros, ‘bombados’ nas academias, pelos ‘personal-trainers’ na definição de músculos. Espero, Poeta que seja fruto, apenas, de um trabalho muscular, não químico… Mas quantas diferenças.
Mesmo os esteótipos que formamos em nossa tacanha cultura, de másculo, do boiola, não se aplicam ao brincante meio chegado ao afeminado do Boi da Floresta... É Homem, sabe-se pela sua postura, de brincante, de pagador de promessa… dá seu espetáculo à parte, sem destoar dos demais. Quanto aos do Boi de Morros… acintosamente chamam a atenção. Como dizia o Falcão, boiolagem explícita...
Antes, esperava-se as índias - belas, beleza plástica sem igual (hoje, artificial, siliconadas, malhadas)… Hoje, quando os Indios adentram ao terreiro, um OHHHH uníssono e aplausos… como se se esperassem pelos apolos e dionísios…
A(s) toada(s) então, o que dizer? O Donato, isso, o Donato aquilo…
Os Cazumbás, exemplificam bem a globalização e a era da comunicação/conhecimento/informação/consumo… Voce já viu um Cazumbá, com seu chapéu, enfeitado de CD? Substituiram os vidros, vidrilhos, miçangas e os papeis-aluminio, aqueles metalizados de paqpel de presentes, por CD, para dar colorido… brilham arcoirizados à luz dos holofotes multicolores… e a Pomba do Divino, em seu nicho, com aquele brinquedinho japonês “made in Paraguai”, que brilha, com suas luzes circulares? Parecem luzes de uma ‘boite’ sob luz negra, a ‘alumiar’ a Pomba do Divino Espirito Santo… quanta inventividade, meu São Pedro!
Ao contrário do gelo seco, dos fogos de artificio, da ‘coreografia’ do Boi de Morros, tão previsível e já não se constitui em novidade...
E o que falar, então, do "Cazumbá do Flamengo"? O escudo do Flamengo, em lantejoulas e vidrilhos, a bandeira do Flamengo, no lugar da do Divino… e o Cazumbázinho, um menino, todo compenetrado - branco! - ve-se de boa condição social, com a babá-acompanhante para lhe enxugar o rosto e mante-lo hidratado, aplaudido e filmado, o tempo todo, pelos pais… espetáculo à parte… isso, no Boi da Floresta, com suas Vênus Negras e Apolos de Ébano… Belas negras, sem os corpos bulímicos, corpos cheios, fartos, boterizados, mas belas... isso sim, a beleza que se v~e nos nossos interiores, quilombolas... não as branquelas do Morros... a própósito, no Boi de Morros, apenas UMA mulata...
O movimento dos pés? Espetáculo, a sincronização, desde a entrada no tablado… e no Boi de Morros, uma india chamava a atenção: estava sambando… confundia os passos, rebolava, quase uma ‘cachorra’ do funk…
Chega! Fui embora, na metade da apresentação do Boi de Morros. Recusei-me a esperar pelo Barrica…
Comentários
Por
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 6 de Julho de 2009 às 10:55.
Pela "identidade da culturalidade marânhica" (J. B. do Lago)
Comento, aqui, a minha postagem. Quando me refiro ao Barrica. Explicom para quem não é do Maranhão. Trata-se do ’Boizinho Barrica", uma companhia de dança - e se identifica como tal! - em que faz um ’pupurri’ das danças e brincadeiras existentes no Maranhão - o Estado mais rico, culturalmente, que conheço! e olha que sou da terra emj que se tem o ’melhor’ carnaval do Brasil - Curitiba!
O Barrica desde sua primeira apresentação não se colocou como Grupo Folclórico, de Bumba-meu-Boi. Mas como uma companhai de dança. Daí, ser injusta minha colocação de me recusar a ve-lo ou a esperar por ele... mas depois do suplicio do Boi de Morros, e a descaracterização que sofreu nos ultimos anos, não dá para ficar calado!
Venham ao Maranhão, para ver do que falo e fazer seus estudos sobre aculturação. Globalização! é o termo, mas de ’linguagem da rede globo"...
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