Cevnautas da Sociologia, abaixo os resumos dos trabalhos apresentados nas 7 seções de Sociologia do Desporto do VII Congresso Português de Sociologia  http://www.aps.pt/vii_congresso/index.php?area=013&lg=pt

1 - Associativismo, Clubes e Adeptos Desportivos

    PAP1426 - O papel e uso social das Casas do Benfica para o seu desenvolvimento enquanto organização desportiva
    Comunicação - SOUSA, Ana Margarida Tavares de

    O desporto é um fenómeno social marcante na sociedade, assumindo diferentes contornos dependendo do contexto social, político, económico e cultural em que se encontra inserido, tendo assim os movimentos associativos, através dos clubes desportivos, um importante papel enquanto agentes de socialização. A problemática que acompanha toda esta investigação é «Qual o papel social e uso das Casas do Sport Lisboa e Benfica para o seu desenvolvimento enquanto organização desportiva?» Nesse sentido a presente investigação tem carácter exploratório, e consiste num estudo de caso cujo objectivo, é conhecer e descrever o fenómeno social e cultural das Casas do Benfica, que fazem parte de uma das mais importantes marcas em Portugal, em termos da sua representatividade comercial, valor social e cultural, o Sport Lisboa e Benfica. Através da realização de entrevistas estruturadas a uma amostra de quarenta responsáveis de Casas do Benfica em Portugal, conclui-se que estas têm um papel social de extrema importância, funcionando como elo de ligação ao clube e como um espaço de convívio em que se fomenta o espírito benfiquista, fundamental ao desenvolvimento do Sport Lisboa e Benfica enquanto organização desportiva.

    PAP0902 - Para uma sociologia da condição adepta (de futebol) em Portugal
    Comunicação - NUNES, João Sedas; CHAVES, Miguel

    Num texto já do presente ano (2011) intitulado “Le douzième homme”, Christian Bromberger demora-se na identificação e análise de adeptos de perfis variados: os “ultras” e os “oficiais” (respeitáveis, comedidos, avessos à violência). Este exercício ao mesmo tempo encontra e desencontra um dos pressupostos que, em trabalho com alguns anos (2008), nos levou até à condição adepta (de futebol) em Portugal. Se, com Bromberger, a considerámos enquanto espaço plural, nos tipos, perfis, práticas, normatividades, quadros de interacção e representações que compreende, contra este autor, rechaçámos (ao menos parcialmente) a cedência normativa que consiste em fechá-la em torno dos “verdadeiros adeptos”, sejam ultras ou oficiais ou doutro género qualquer, apreendendo-a através dum indicador de intensidade da afinidade clubista e da tipologia de vinculação clubista que esse indicador permitiu construir. Na comunicação ora proposta visa-se revisitar criticamente este dispositivo e a forma teórica que o baliza, não prescindindo de aprofundar o princípio de construção de objecto sociológico que esteve na sua origem: o de que a restituição das realidades sociais não deve rasurar a pluralidade que as constitui. A comunicação abrir-se-á pois a dois momentos diferenciados mas sequenciais: 1) um primeiro de natureza analítica, em que se informará e discutirá as propriedades lógicas e empíricas do artefacto teórico-metodológico aplicado na pesquisa citada; 2) um segundo de natureza conjectural, em que, entroncando nos desenvolvimentos recentes que a sociologia à escala individual conheceu e nas novas possibilidades de objectivação que rompem da sociologia pragmática, se equacionará um conjunto de hipóteses que desafiam a pesquisa no domínio da sociologia da condição adepta. Na verdade, estará em causa (diga-se: mais complementarmente do que alternativamente) dar conta das diferenças e clivagens que atravessam essa condição “dentro” de cada sujeito vinculado e nos “investimentos de forma” para que é compelido. Trata-se, noutros termos, de trazer para o centro da objectivação sociológica da “condição adepta” nada mais nada menos do que o segmento da sociologia contemporânea mais promissora que até agora dela se manteve alheada. Com isso vincando, finalmente, uma posição de amplo alcance: todos os objectos sociológicos, seja qual for o domínio empírico que os abranja, têm necessariamente de se submeter à teoria sociológica geral e aos respectivos progressos.

    PAP0587 - Análise dos Presidentes de Clube de Futebol brasileiro: quem são estes sujeitos?
    Comunicação - ALMEIDA, Marco Antonio Bettine de

    O presidente do clube de futebol brasileiro age no interior de uma organização de natureza formal e burocrática, caracterizada pela dominação racional legal (WEBER, 2006), inserida no espaço maior da sociedade onde se destacam as dimensões sociais, políticas e econômicas (HABERMAS, 1989). Esta organização formal, o clube, compartilha uma herança histórica comum ao participar da esfera esportiva, mais especificamente, futebolística. A decodificação que o agente sujeito da ação social, neste caso o presidente de um clube de futebol, faz do ambiente guarda especificidade a partir da história, da cultura organizacional, e da percepção coletiva da dimensão simbólica das relações individuais e institucionais. A pessoa do presidente do clube de futebol, neste sentido, ilustra a interface entre as diferentes dimensões que caracterizam o campo esportivo, a evolução de uma modalidade esportiva em particular, e a cultura de uma organização específica (BOURDIEU, 2007). A inserção no contexto social mais amplo traz consigo a presença de uma contemporaneidade marcada pelas contradições e conflitos que a caracterizam. O pressuposto metodológico toma como objeto de interesse o presidente do clube de futebol, enquanto sujeito agente da ação social, como elemento que articula suas ações num campo onde pode ser conhecida a percepção do real que apóia sua busca racional de dominação e sucesso (WEBER, 2004). A pesquisa sistemática dos principais presidentes de clubes de futebol do Brasil, as características materiais e simbólicas do contexto organizacional em que atua, e o campo do esporte futebolístico mais amplo, objetiva permitir uma compreensão mais profunda e correta das relações presentes, assim como das características fundamentais, ou ainda das características típico ideal enquanto elemento auxiliar para a reflexão e a pesquisa do futebol. Trata-se, portanto, de um texto baseado numa pesquisa exploratório-descritiva, com o objetivo de descrever um espaço, ou campo, social específico. Concluiu-se que os presidentes ao mesmo tempo em que expressam características da realidade social, política e econômica mais ampla que os rodeia, possuem também especificidades como, por exemplo, a longa fidelidade à organização em que atuam – um aspecto difícil de encontrar em qualquer outro setor da sociedade contemporânea. Outro aspecto interessante de ressaltar é como a fidelidade à instituição esportiva pode ser substituída, à medida que nos afastamos das divisões principais, pela fidelidade à região em que o postulante à presidência do clube mora e atua profissionalmente. Vale destacar também a tensão presente entre a estrutura tradicional de clube sócio esportivo, adotada pela maioria dos clubes tradicionais, e os projetos de natureza clube empresa, que parecem tornar-se cada vez mais importantes e presentes entre as agremiações menores ou mais novas.

   PAP0585 - O processo de urbanização e o desenvolvimento dos clubes de futebol no Estado de São Paulo - Brasil
    Comunicação - ALMEIDA, Marco Antonio Bettine de

    O problema da pesquisa foi: conhecer, interpretar e entender o processo social, político e econômico do desenvolvimento dos clubes de futebol no Estado de São Paulo - Brasil. Partiu-se da hipótese de que há relação entre a ampliação dos meios de transporte e o surgimento dos locais institucionalizados para esta prática esportiva. O estudo desenvolveu a relação entre a expansão dos meios de transporte no Estado de São Paulo e a evolução das práticas esportivas, mais especificamente o futebol. O projeto se iniciou com um estudo aprofundado das principais características da realidade política, econômica e social do Brasil e do Estado de São Paulo na primeira metade do século vinte (ALMEIDA E GUTIERREZ, 2010). Posteriormente, interpretaram-se os dados pela teoria da ação comunicativa (HABERMAS, 1989, 1990). Concluiu-se que o desenvolvimento econômico das regiões propiciou investimentos públicos para o crescimento das cidades do Estado de São Paulo e que o processo de urbanização e principalmente a chegada dos transportes, como o trem no interior; os portos fluviais na região do Rio Tietê; os portos marítimos no litoral e as rodovias por todo o Estado foram de suma importância para o incremento do esporte nas cidades (ALMEIDA, GUTIERREZ, PELISSON, 2010). A prática esportiva poderá ser compreendida no âmbito do crescimento das cidades enquanto arenas de circulação de mercadorias e conseqüente construção de uma cultura urbana (CORBIN, 1995). Com isso, observa-se o crescimento das preocupações com o público, com o consumidor, com a venda, com o espetáculo do corpo como elemento de consumo e de notável atenção e visibilidade. A contribuição conceitual mais interessante foi a inversão do sentido do movimento cultural, entre a cultura urbana e a rural. Existem trabalhos importantes que ilustram a influência da cultura rural, ou ainda caipira, na construção primeira do espaço urbano. Um exemplo é o texto de Florestan Fernandes (1998) intitulado “O Folclore de uma Cidade em Mudança”. No estudo aqui proposto apresenta-se uma espécie de inversão, onde os meios de transporte trazem para o interior, ou litoral, aspectos de uma cultura urbana em construção, entre eles o esporte. É importante destacar esta espécie de volta cultural da cidade para o interior, através do exemplo do esporte, enquanto elemento de análise e fio condutor de toda a reflexão. Durante meio século o Brasil sofreu mudanças e a que mais se relaciona com a discussão deste estudo foi a industrialização, carreada pela urbanização que influenciou a criação de clubes de futebol. Neste sentido, os meios de transporte foram os meios pelos quais a industrialização chega ao interior e litoral do Estado de São Paulo, junto com o pensamento da prática esportiva e o futebol como conseqüência.

    PAP0513 - A Dimensão Tribal nos Clubes de Futebol
    Comunicação - GARCIA, Cíntia; VASQUES, Inês

    Vivemos na era da pós-modernidade, onde tudo está disponível para todos, podendo cada um escolher as suas interacções e traçar o seu caminho na sociedade. A par desta era e devido às inúmeras experiências e interacções existentes na vida do sujeito, surge uma fragmentação do self, dado que o indivíduo se vê obrigado a assumir estilos de vida e comportamentos diferentes consoante as ocasiões. A par desta era do pós-modernismo surgem as chamadas tribos pós-modernas. Uma tribo corresponde a um conjunto de indivíduos que partilham os mesmos desejos, interesses, necessidades e paixões. Ao contrário das tribos das sociedades arcaicas, estas tribos pós-modernas são instáveis, pois não se regem por nenhum padrão pré-estabelecido, mas sim por emoções e estilos de vida. Estas tribos surgem juntamente com o desejo profundo e inerente do indivíduo em criar relações interpessoais, conseguindo deste modo sentir-se como parte de um grupo com crenças, paixões e ideais idênticos. Nelas, os laços criados são muito fortes dada a sua possível efemeridade, pois a tribo apenas faz sentido quando existe um interesse em comum, e caso esse interesse deixe de existir a tribo desfaz-se. As tribos vieram revolucionar as sociedades contemporâneas, no sentido em que os indivíduos já não se focam tanto no sentimento de pertença ligado a aspectos racionais como a aquisição de produtos/serviços, virando-se antes para uma vertente irracional, arcaica ou até de religiosidade, onde o que importa são os rituais, havendo a necessidade de existir um suporte por trás, como locais de culto, objectos sagrados, roupas específicas ou palavras/cânticos próprios que identifiquem os indivíduos pertencentes àquela tribo. Ao longo dos séculos, o futebol tem vindo a ganhar cada vez mais importância enquanto modalidade desportiva, sendo hoje em dia unanimemente considerado como “O Desporto Rei”. Portugal não é excepção. Existe uma quase necessidade de ser adepto de um clube. Cada vez há mais adeptos e pessoas a ir aos estádios, formando assim o que se pode chamar de “tribos do futebol”. A experiência vivida num jogo de futebol é muito intensa e serve muitas vezes para aproximar os indivíduos, reforçando os laços sociais de cada um. Ser-se adepto de um clube é não só uma forma de identidade individual mas também de identidade colectiva. Através da observação dos movimentos e do modo de agir dos outros adeptos, o indivíduo aprende e replica esses comportamentos, seguindo assim as normas e rituais daquela tribo. Este fenómeno das tribos no mundo do futebol apenas começou a ser levado mais a sério há relativamente pouco tempo, sendo que as claques são a evidência máxima deste tipo de tribos. Ainda com muito para explorar, esta é uma área que atrai cada vez mais atenções e desperta cada vez mais interesse, dada a forma de interacção tão específica e a influência que ela pode ter num resultado desportivo.

2 - Políticas Públicas de Promoção Desportiva

    PAP0616 - O MUNDIAL DE FUTEBOL DE 2014 E A SUSTENTABILIDADE: ALGUMAS ABORDAGENS SOBRE O SÍTIO OFICIAL DO GOVERNO FEDERAL BRASILEIRO – O PORTAL DA COPA
    Comunicação - MARQUES, José Carlos

    Em outubro de 2007, a Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA) – entidade que regulamenta a prática do futebol em todo o mundo – elegeu o Brasil como sede da XX Copa do Mundo FIFA, evento global a ser realizado nos meses de junho e julho de 2014. Quatro anos após esse anúncio, o país depara-se ainda com alguns problemas ligados a infra-estruturas (transportes e acessibilidades), com atrasos na construção e/ou reforma de estádios, com a polêmica em torno da liberação de recursos públicos para a realização das obras e com a ausência de uma discussão mais séria em torno da sustentabilidade do evento. Diante desse cenário, o tema e objeto desta comunicação é analisar como vem sendo apresentada a questão da sustentabilidade nos discursos do comitê de organização local do evento publicados no Portal da Copa (http://www.copa2014.gov.br/), sítio oficial do Governo Federal Brasileiro. Com versões de texto em três idiomas (português, espanhol e inglês), o veículo procura ser um porta-voz das autoridades brasileiras na divulgação de notícias e de informações sobre a organização da Copa do Mundo de 2014. O objetivo do estudo é verificar como os principais conceitos relacionados à sustentabilidade (como desenvolvimento sustentável, ecoeficiência, responsabilidade socioambiental e governança corporativa, por exemplo) comparecem no discurso institucional do Portal da Copa e como algumas questões polemizadas pelo discurso dos media são retratadas nesse espaço. Partimos da hipótese de que as questões vinculadas à sustentabilidade, apesar de nominadas em diversas páginas do Portal da Copa, não têm sido levadas a sério na organização do Mundial de Futebol de 2014. Desse modo, o discurso do Comitê Organizador Local aponta para ações que, à primeira vista, diferem da práxis atual. O conceito do “Triple Bottom Line”, ratificado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e elaborado pelo economista britânico John Elkington – o qual defende a viabilidade econômica do negócio, o cuidado com o meio ambiente e a responsabilidade social (Profit, Planet, People) – não parece estar sendo considerado na organização do evento esportivo. Para dar conta dessa análise, colocaremos em perspectiva o conceito de ecosofia definido pelo pensador francês Félix Guattari (segundo o qual o equilíbrio ambiental deveria incluir a subjetividade humana, o meio-ambiente e as relações sociais) e ampliado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli (para quem algumas práticas cotidianas da contemporaneidade estariam recuperando valores naturais e arcaicos). A metodologia de análise a ser aplicada nesta comunicação deriva da aplicação de alguns conceitos advindos da Análise do Discurso de linha Francesa (AD), desenvolvidos por Émile Benveniste e Mikhail Bakhtin.
   

PAP0586 - Controle e uso das atividades lazer e do tempo livre durante os governos militares no Brasil (1964-1984)
    Comunicação - ALMEIDA, Marco Antonio Bettine de

    O regime militar, em termos muito resumidos, foi um período de estagnação das manifestações artísticas e culturais, de proliferação das empresas multinacionais e ampliação da dívida externa. As práticas de lazer caracterizaram-se pela presença da censura, apropriação de manifestações populares pela indústria cultural, utilização ideológica do esporte, expansão do turismo e exclusão social. As manifestações populares foram cerceadas e os sucessivos governos militares incentivaram a expansão dos meios de comunicação, em particular a televisão, com as telenovelas. O período marca o retrocesso do lazer popular e o início de um lazer urbano-industrial, com o Estado autoritário tomando para si a tarefa de ofertar lazer para as camadas populares, enquanto busca controlar as manifestações espontâneas. O referencial teórico fundamenta-se na percepção de que os sujeitos agentes da ação social buscam, de formas racionais, objetivos que podem ser compreendidos a partir da sua observação (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2011). A partir das contribuições da sociologia compreensiva, é fundamental perceber o controle de estado por um grupo que se hegemoniza sobre a sociedade, com características próprias e articulados internamente a partir de um projeto comum e conhecido, para ilustrar a evolução das práticas de lazer e ocupação do tempo livre. Esta interpretação é auxiliada pelo corte temporal, o período dos governos militares no Brasil, durante o qual, apesar das transformações que levam á sua derrubada e à restauração da democracia, há uma continuidade ideológica e nas formas de intervenção. Concluiu-se que o regime militar se caracterizou por: (a) um empobrecimento cultural nas artes, com inúmeras produções censuradas e artistas exilados; (b) a limitação do lazer popular pela vigência do estado de sítio e repressão nas ruas; (c) a ampliação do lazer urbano-industrial com cinemas, teatros, clubes e turismo; (d) investimento de grandes grupos econômicos na área do lazer; (e) a utilização ideológica das vitórias esportivas; (f) uma preocupação em promover programas de atividade física a exemplo do Esporte para Todos; e (g) o desenvolvimento da televisão e das telenovelas como a mais freqüente forma de lazer da maioria dos brasileiros. Não é possível, nos limites deste resumo, expor toda a complexidade do período abordado. O regime passou por fases de endurecimento e distensão. Ocorreram divergências no interior do próprio grupo dominante assim como a relação com os representantes

3 - Comercialização e Profissionalização do Desporto

    PAP1378 - Boxe entre o amador e o profissional: o processo de surgimento e legalização do Boxe no Rio de Janeiro a partir do Brasil Boxing Clube
    Comunicação - ALEXANDRIA, Nicolas

    Discutiremos neste trabalho o processo de surgimento e legalização do Boxe no Brasil, tendo como referência o Brasil Boxing Clube, primeira academia de pugilismo fundada no Rio de Janeiro em 1923. Partiremos da contextualização da década de 1920 no Brasil, e as relações entre o Estado liberal e a promoção do Boxe representado pelo apoio do Presidente da República na época, Rodrigues Alves. Nosso foco serão as sociabilidades possíveis nesse momento de mudanças profundas na reordenação da sociedade brasileira, dentro da passagem de uma sociedade agrário-exportadora para uma nova configuração no caminho de uma modernização econômica em bases urbanas, atentando para as características desse jogo de combate nesse contexto histórico. As representações sociais e as práticas que podem revelar uma disjunção entre o apoio governamental e a origem de classe dos primeiros lutadores de boxe no Brasil serão nossa unidade de análise. Daremos especial atenção às questões de classe social em disputa na década de 1920, sobretudo as dispostas através do movimento operário e a arregimentação de jovens oriundos de cidades do interior, portanto de origem rural e ligados ao campesinato, que começaram a ver no pugilismo uma possibilidade de mobilidade social. Esse processo de definição dentro do Estado de uma prática desportiva não afeita ao controle estatal é uma questão interessante para nossa problematização. Ou seja, buscaremos compreender a separação entre boxe profissional e boxe amador, recenseando as disputas ideológicas e os debates públicos sobre essas duas maneiras de lutar boxe. A primeira, dentro dos limites do desporto, e de um entendimento sobre práticas desportivas um pouco antes da formalização da Educação Física como uma área de conhecimento no Brasil, e o segundo modelo, circunscrito ao início da modernização capitalista no Brasil e a tomada de princípios econômicos como horizonte de mobilidade social para os jovens da classe operária em processo de descampenização. A compreensão da lógica construída nesse momento é de fundamental importância para entendermos como se deu, num longo curso histórico, a inserção dos jogos de combate no cotidiano da sociedade brasileira, bem como o relativo sucesso que os mesmos gozam numa sociedade, do ponto de vista do debate sociológico local, não voltada ao conflito.

    PAP0914 - O futebol como produto de consumo na mídia pós-moderna brasileira: o caso Mess- PlayStation
    Comunicação - JUNIOR, Ary José Rocco

    No dia 6 de abril de 2010, em entrevista coletiva concedida à imprensa, após partida em que sua equipe, o Arsenal, da Inglaterra, fora derrotada pelo Barcelona, da Espanha, por 4 a 1 , com quatro gols do jogador argentino Lionel Messi; o técnico francês da agremiação inglesa, Arsene Wenger, não se conteve e disse a seguinte frase aos jornalistas presentes à entrevista: “(Messi) é um jogador de PlayStation ”. Wenger, ao analisar o atleta argentino, o equipara ao videogame da Sony. Para o treinador francês, a precisão do jogador do Barcelona, sua habilidade no manejo da bola, só é possível no universo simulado do jogo eletrônico da multinacional japonesa. Os grandes jogadores de futebol do passado, como Pelé e Maradona, por exemplo, tinham suas façanhas futebolísticas associadas a fatores não humanos. Pelé é o Rei do futebol para os brasileiros. Maradona é simplesmente Deus para os argentinos. A comparação com a realeza, ou com a divindade, típica da modernidade; deu lugar à associação típica da pós-modernidade, onde o consumo norteia a relação estabelecida por Arsene Wenger. A cultura do esporte mundial tem experimentado, nas três últimas décadas, um crescimento financeiro vertiginoso. Desde os Jogos Olímpicos de 1960, quando a competição foi exibida pela primeira vez ao vivo pela TV, até hoje, as transmissões esportivas têm avançado de forma vertiginosa; inclusive, e principalmente, pelo seu crescente apelo financeiro. Os esportes, de uma forma geral, e a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos, de maneira especifica, são os principais elementos para a experimentação de novidades tecnológicas e de transmissão. Hoje, as grandes marcas de artigos esportivos, que vestem as principais seleções e clubes do futebol mundial, em especial os europeus, concentram suas estratégias mercadológicas na “busca do torcedor internacional e na promoção de suas marcas”. Dentro deste contexto, merece destaque a crescente participação de empresas de comunicação e mídia no universo cultural do futebol, como elemento de consumo do esporte enquanto entretenimento e cultura. A proposta deste trabalho é mostrar o quanto o futebol, enquanto fenômeno cultural, está inserido na chamada cultura pop ou cultura popular. É nossa intenção demonstrar que a inserção do esporte mais popular do planeta nesse universo pop, com o apoio dos meios de comunicação de massa, tem como objetivo principal o consumo, estimulando e fortalecendo a crescente indústria do entretenimento esportivo.

    PAP0871 - A dinâmica relacional de uma rede futebolística: uma etnografia da formação de jogadores em São Paulo - Brasil
    Comunicação - SPAGGIARI, Enrico

    Este artigo tem como objetivo traçar redes futebolísticas, entre outras tantas possíveis, que se desdobram a partir de Guaianases (bairro periférico da Zona Leste de São Paulo), para assim analisar o processo de formação e profissionalização de jovens jogadores. A partir da etnografia que vem sendo realizada no Grêmio Botafogo de Guaianases, clube amador que mantém uma escolinha de futebol em paralelo com o time que disputa as partidas e campeonatos de ‘futebol de várzea’, proponho acompanhar a pluralidade de atores, situações e questões conectados ao processo de formação de jogadores de futebol em São Paulo. Temas como ‘peneiras’, famílias, empresários de futebol e práticas políticas, quando entrelaçados na etnografia, mostram-se decisivos para um maior entendimento da pluralidade de práticas e representações do fenômeno futebolístico. Pluralidade que permite, ainda, problematizar e compreender algumas das inúmeras mudanças estruturais que o futebol brasileiro vem sofrendo. Este paper parte de uma estratégia relacionada aos métodos etnográficos adotados em pesquisas sobre processos sociais que envolvem múltiplos locais e conexões, aproximando-se, assim, de temáticas já conhecidas no debate antropológico. Para dar conta do meu objeto, proponho uma articulação entre diferentes abordagens, uma vez que, para aproximar-se da experiência urbana contemporânea, é preciso tecer uma multiplicidade de contextos interligados. Realizar uma etnografia inspirada pelo delineamento de conexões possibilita uma análise antropológica que pode ser feita por meio de distintas propostas metodológicas, tal como as pautadas pela idéia de redes ou as que pensam a conexão etnográfica em diferentes espaços. Portanto, a partir das redes de relações e conexões, tenho procurado evidenciar as inúmeras articulações que marcam o universo futebolístico e, também, a dinâmica da cidade. Acionadas não só no bairro de Guaianases, como também para além dele, alcançando outros planos citadinos, tais articulações são essenciais para a compreensão do universo futebolístico. Nesse sentido, uma análise sistemática e abrangente das relações entre os diversos atores permitirá um maior entendimento de um quadro extenso de questões e negociações envolvendo múltiplas esferas sociais, aqui interligadas pela prática futebolística.

    PAP0684 - A Mercadorização do Futebol e seus Impactos na Infância Pobre
    Comunicação - SILVA, Alessandro; ALMEIDA, Marco

    O presente texto trata dos efeitos que a mercadorização do futebol produz nos processos de socialização de crianças moradoras da favela Pantanal na zona leste da cidade de São Paulo - Brasil. Para tanto, pretendemos aqui debater alguns aspectos que se relacionam com os papéis do brincar e do jogar na vida da criança e como esses fenômenos mercadológicos vividos no mundo do esporte (futebol) impactam no cotidiano desses sujeitos alterando a própria experiência infantil. Brincar e jogar são dois verbos que estão diretamente associados ao desenvolvimento psicossocial. Assimilar e construir regras, valores, negociá-los consigo mesmo e com o outro, etc., são aspectos estruturantes do desenvolvimento infantil. Porém, a questão que nos chama a atenção é a seguinte: Como impacta na vida de crianças a ‘mercadorização da infância’? Nas múltiplas possibilidades de mercadorização da infância, elegemos a mercadorização do futebol enquanto espetáculo e o impacto desta no desenvolvimento sócio-afetivo de meninos pobres entre 8 e 12 anos. O futebol é o esporte mais praticado no Brasil. Quem nunca foi ao estádio, ou nunca jogou uma partida, ou ainda, não esteve torcendo por algum time? Presenteia-se às crianças com bolas, camisas de clubes etc. e também com o time que deveriam torcer. E, por fim, na escola meninos jogam futebol, sem pensar se poderiam fazer outra atividade, visto que é o esporte de melhor aceitação e que desperta maior interesse nos alunos. A isso é preciso acrescer o fato de que a prática do futebol enquanto ‘brincar’ e ‘jogar’ pelo simples prazer de fazê-lo, já não é algo tão determinante no universo infantil. O que se apresenta como cada vez mais determinante é a idéia da competição, da concorrência e, por conseguinte, impregnada pela idéia de ser o esporte uma forma privilegiada de ascensão social. Com isso, muito da infância se esvai entre a rígida rotina dos treinos e a dos estudos. Jogar e brincar passam a ser palavras com significados distintos daquelas que conhecemos e das que elas mesmas teriam se não estivessem enquadradas em uma miniatura do mundo adulto, privadas da liberdade que caracteriza brincar e o jogar como bem recorda Huizinga (2002). Tais considerações nos levam à entender um pouco mais o peso que a ação externa dos meios de comunicação têm sobre a população e, em especial, sobre as crianças que estão em fase de socialização tanto primária quanto secundária (Berger e Luckmann, 2001). Estas atuações externas sobre as crianças servem para levá-las à internalizar os discursos da concorrência e da ascensão social tão presentes na sociedade ocidental conduzida pela lógica de mercado.

    PAP0679 - The Portuguese Physical Education Pre-Service Teachers’ Learning Process: a Study using Visual Methods.
    Comunicação - CUNHA, Mariana Amaral da ; BATISTA, Paula; GRAÇA, Amândio; PEREIRA, Ana Luísa

    The understanding of the socialization process on the teachers’ profession can be improved using the visual methods. As such, the main goal of this study was to outline the chief aspects considered as important by the pre-service Physical Education teachers for their learning process as teacher. For that purpose, nine pre-service teachers from the Faculty of Sport, University of Porto (Portugal) participated in the study. In order to capture their views, an exploratory approach was adopted using photo elicitation (Harper 2000; Phoenix 2010; Pink 2010) in a focus group session (Bryman 2008). In the data collection process, the participants were asked to: (i) collect visual material (photographs and videos) of their context of practicum at school during a period of one week, (ii) present and comment the selected images in the focus group session, as well as to (iii) jointly reflect upon their learning process as Physical Education teachers. Data was submitted to thematic analysis using the Nvivo 9 software. The main results are as follows: (i) the images gauged the pre-service Physical Education teachers’ perceptions on their learning process as teachers, as well as the verbalization of their perception about the construction process of their professional identity; (ii) the focus group session enhanced the sharing of ideas and perspectives among the participants; (iii) the participants emphasized five essential aspects to their everyday learning as teachers: the supervision process, the teaching lessons, the task management skills, the practice reflections, and the society with their professional peers; (iv) the group of study also identified the ability of being affective to the students and professional peers, overcoming challenges and assuming risks, as characteristics addressed to the role of being a teacher; (v) the ongoing nature of the teacher profession and the consequent need to constantly update their knowledge were, likewise, stressed out by the participants; finally it was noticed that (vi) the usage of the visual methods emerge as an invaluable tool to better understand how the pre-service teachers (re)construct their professional identity. Research Project funded by Foundation for Science and Technology, reference PTDC/DES/115922/2009.

4 - Ética, Valores e Inclusão Social através do Desporto

    PAP1506 - REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ESPORTES SOB A ÓTICA DE PESSOAS CEGAS
    Comunicação - SANTOS, Admilson; MORAES, Antonio Carlos

    Esta trabalho é fruto de uma tese de doutoramento no campo da educação e teve como objetivos compreender os relacionamentos e práticas sociais de pessoas cegas em envolvimentos culturais, em particular na prática esportiva e mapear as intenções e perspectivas deste grupo social em seus envolvimentos quando a prática esportiva extrapola a esfera de atuação do cidadão comum.O mapeamento do campo de atuação esportiva no qual estão envolvidos indivíduos portadores de deficiência visual congênita foi feito no sentido de analisarmos, à luz da Teoria das Representações Sociais, o significado da prática de esporte, levando em consideração os elementos que os grupos consideram como centrais, no que se refere: a) o que pensam sobre a prática esportiva; b) como praticam o esporte; c) como gostariam que fosse a prática esportiva e o que esperam dos resultados dessa prática; d) a identificação da trajetória na busca da condição de herói do indivíduo cego praticante de esporte; e) a construção do núcleo de representação do cego praticante de esporte. O presente estudo está inserido no Núcleo Temático Linguagem, Desenvolvimento e Ação Pedagógica do Programa de Pós-Graduação de uma universidade pública no Brasil. É um trabalho de natureza qualitativa e tem as características de um estudo descritivo. Em função da complexidade do fenômeno abordado, foram adotadas diferentes estratégias metodológicas com a intenção de captar aspectos distintos da composição da realidade. O estudo ficou, então, sob a orientação de uma metodologia pluri-referenciada: análise de conteúdo das entrevistas com cinqüenta e três cegos congênitos praticantes de esporte; associação de idéias com as palavras esporte, vitória, medalha, derrota, campeão, emoção, frustração, ídolo, a fim de buscar outros sentidos não explicitados diretamente nas entrevistas; análise de conteúdo das publicações de jornais com referência a participação de cegos praticantes de esportes. Esta análise nos possibilitou a constatação de representações relacionadas com o aspecto funcional da prática esportiva, a figura do herói, a normalidade, e o corpo. O estudo comprova que os cegos praticantes de esportes continuam a arcar com o ônus do estigma relacionado com os resultados obtidos nas competições esportivas comuns, e, também aponta caminhos alternativos de superação no processo ensino-aprendizagem, de aspectos voltados à orientação e mobilidade e à prática esportiva que supere o vínculo aos modelos tradicionais de prática esportiva ligada diretamente aos padrões de competição como forma de provar competência pessoal e social. Palavras Chaves: Deficiência visual, Orientação, Mobilidade e Representação social

    PAP1406 - A Inclusão através do Desporto Adaptado: o Caso Português do Basquetebol em Cadeira de Rodas
    Comunicação - FREIRE, Marta

    A presente investigação pretende aprofundar a inclusão social dos praticantes de Basquetebol em cadeira de rodas (BCR) através do desporto adaptado. Assim, examinamos a relação entre e o desporto e o reconhecimento social, interacção social, auto-estima, condição física, imagem corporal e qualidade de vida de pessoas com deficiência motora, bem como as atitudes negativas e obstáculos. A nossa amostra é constituída por 80 praticantes de BCR que fizeram parte do Campeonato Nacional de BCR, na época de 2007/2008, em que 77 são do género masculino e 3 do género feminino, com idades compreendidas entre os 14 e os 63 anos. Através da aplicação de um inquérito por questionário, recolhemos a informação definida pelo nosso modelo de análise, tendo esta sido tratada nos programas informáticos de SPSS e Excel. De uma forma geral, podemos concluir que os praticantes de BCR apresentam uma auto-estima bastante elevada. A maioria considera não existir atitudes negativas, obstáculos ou comportamentos por parte de outras pessoas que possam servir como barreira à sua inclusão social. Da mesma forma, os praticantes de BCR têm uma representação positiva da sua inclusão social, pois consideram que esta modalidade contribui para o reconhecimento do seu valor e para a sua sociabilidade. Concluímos que a maioria dos praticantes de BCR afirma estar satisfeita com a sua imagem corporal (com excepção dos praticantes com menos de 18 anos e em menor grau pelos praticantes com sina bífida e paraplegia). Também, a maioria dos inquiridos dá grande importância à prática desportiva (PD) do BCR, assim como à sua condição física, e considera que esta modalidade lhes incrementa a sua qualidade de vida. Por fim, concluímos ainda, que a maioria dos praticantes teve como primeira PD o BCR, apresentando uma regularidade ao longo do tempo (excepto os praticantes entre os 41 e 60 anos). Actualmente, apresentam uma elevada intensidade da prática (excepto os praticantes com spina bífida e amputação), assim como uma elevada frequência. A maioria afirma estar satisfeita com o desempenho dos profissionais, contudo insatisfeita com a falta de apoio financeiro e logístico. Considera-se, no entanto, não existir obstáculos à acessibilidade desportiva (excepto o bar e as escadas).

    PAP1278 - Abordagem Sociológica da Ética do Desporto no Contexto da Mudança Social: O caso português durante o Estado Democrático do século XX.
    Comunicação - MARIVOET, Salomé

    Na compreensão da ética do desporto, enquanto fenómeno sociológico, pretendemos demonstrar como as mudanças no nomos do campo das práticas desportivas de competição (na acepção de Bourdieu) provocaram um conjunto de efeitos em cadeia, ainda que porventura não esperados, na fragilização dos princípios éticos do desporto moderno, impondo contradições na determinação que exercem nas práticas. Para a abordagem teórica da ética recorremos às contribuições de Durkheim, Weber e Elias. Elegemos como universo de análise a realidade portuguesa durante o Estado Democrático do século XX, enquanto estudo de caso. Seleccionámos informação proveniente de diferentes fontes (estatísticas oficiais, notícias dos media, observação participante e entrevistas), mobilizando métodos de análise qualitativos e quantitativos. Nas mudanças produzidas no último quartel do século XX, identificámos a indissociável e interdependente relação das dimensões desportiva, económica e simbólica na determinação da orientação da acção para a vitória (tout court), com a consequente radicalização dos interesses concorrentes e a intensificação da competição. Decorrentemente, assistiu-se a mudanças no ethos da interacção desportiva, que fragilizaram o princípio do fair play, assistindo-se ao aumento das práticas que o quebram. Este facto colocou dificuldades acrescidas às arbitragens, tendo-se assistido ao aumento das desconfianças no sentido de justiça implícito à preservação da igualdade na competição, realidade que se encontrou agravada com os indícios e casos de corrupção e de dopagem. Neste contexto, assistiu-se ao maior envolvimento dos actores e das organizações na regulação ética, tornando-a mais flexível e sujeita à negociação, quer através dos meios institucionais quer de estratégias de pressão e persuasão no espaço público mediático, saindo reforçadas as solidariedades contingentes, em detrimento das solidariedades orgânicas. As desconfianças e as dinâmicas de vigilância e de fiscalização, encetadas nos anos noventa, terão ainda contribuído para accionar solidariedades mecânicas no seio de grupos de interesse, num contexto de oposição e confrontação ou de radicalização propício a manifestações de revolta violenta colectiva, e ainda à instalação de formas de violência premeditada entre alguns grupos de adeptos ultras. Factos, que foram dando maior visibilidade ao enfraquecimento da regularização ética, em especial no campo do futebol profissional de maior nível competitivo. Face à especificidade da conflitualidade ética na figuração desportiva, foi-se assistindo no quadro europeu e nacional à intervenção dos Estados, nomeadamente à cristalização dos princípios éticos em dispositivos legais definidores de quadros sancionatórios, com a consequente fragilização do princípio da autonomia das organizações desportivas, decorrente da liberdade do associativismo.

    PAP0784 - FALTA DE FAIR PLAY OU EXCESSO DE VIRTUOSE? BREVES REFLEXÕES SOBRE O COMPORTAMENTO DE CRISTIANO RONALDO E NEYMAR NO FUTEBOL ATUAL
    Comunicação - MARQUES, José Carlos

    A prática do futebol profissional, desde o final do Século XX, passou a caracterizar-se por uma racionalização crescente, em função da organização empresarial dos clubes, da regulamentação profissional dos setores técnicos envolvidos (as equipas hoje dispõem de uma infinidade de profissionais que lhe dão suporte, como fisiologistas, nutricionistas, psicólogos, terapeutas, preparadores físicos, diretores etc.), do desenvolvimento de novos esquemas táticos, do maior rigor na preparação dos atletas, entre outros aspectos – o que fez diluir em parte a essência lúdica da prática esportiva, como apontou o historiador holandês Johan Huizinga em sua célebre obra “Homo Ludens”. No entanto, e sem prejuízo desses aspectos profissionalizantes, o futebol contemporâneo ainda representaria um terreno fértil para a busca do prazer e a efetivação do impulso lúdico, o que, para o autor português António Cabral, realizar-se-ia por meio da imitação (mimese) e da competição (agon), conceitos definidos pelo sociólogo francês Roger Caillois. O rigor e a complexidade de regras e regulamentos, tão característicos do esporte de alta competição, não estão presentes da mesma forma nos chamados jogos populares; mesmo assim, os atletas profissionais, segundo António Cabral, poderiam continuar a exercer sua prática profissional e dar vazão ao prazer lúdico que está na gênese das atividades esportivas. É como se o jogo representasse um regresso ao paraíso da infância, quando a atividade lúdica tem início; mais do que um regresso ao paraíso, o jogo seria o “paraíso do regresso”. A partir destas considerações, o presente trabalho procura tecer algumas reflexões sobre o comportamento em campo do futebolista português Cristiano Ronaldo (atleta vinculado ao Real Madrid) e do futebolista brasileiro Neymar (vinculado ao Santos FC). Acusados algumas vezes, por críticos e pelos media, de agirem com falta de ética e de fair play, os dois atletas costumam fazer uso da habilidade técnica como demonstração da virtuose de seus estilos. Em significativos estudos sociológicos no Brasil sobre o futebol, o drible e a irreverência seriam fatores de valorização estética (como atestam as obras de Gilberto Freyre, Roberto DaMatta e Anatol Rosenlfeld). Essa sublimação foi coroada pelo cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, que em texto publicado em 1970 afirmou que as equipas sul-americanas praticariam um “futebol de poesia”, enquanto as europeias, um “futebol de prosa”. Tais considerações serão colocadas em perspectiva na leitura do jogo praticado por Cristiano Ronaldo e Neymar, em confronto com os aspectos disciplinadores e civilizatórios que seriam promovidos pelo esporte, conforme denunciado pelos sociólogos Norbert Elias e Pierre Bourdieu.

5 - Corporeidade e Relações de Género no Desporto

    PAP1313 - Representações sociais do rugby na grande lisboa
    Comunicação - CABRITA, João Manuel

    As actividades desportivas têm acompanhado a evolução das sociedades, assumindo nestas um papel relevante ao longo dos tempos. A presente dissertação inscreve-se na área da Sociologia do desporto. O trabalho pretende analisar as representações sociais do Rugby na Grande Lisboa e tem como objectivo compreender o campo de práticas da modalidade. A zona de Lisboa, devido à presença acentuada da modalidade, estabelece características excepcionais para a abordagem à problemática. A investigação aborda quatro aspectos chave para o tema em questão: o perfil social dos atletas; as questões de género na modalidade; as razões dos atletas para a prática do rugby e o impacto deste na identidade dos atletas. Com a análise destes quatro elementos, pretende-se uma aproximação científica à modalidade, no sentido de traçar um quadro próximo do seu contexto social. O interesse científico do trabalho pelo rugby deve-se, essencialmente, às suas características singulares e à sua reduzida popularidade na sociedade.

    PAP1195 - A EMERGÊNCIA DE UM NOVO CORPO: O CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO
    Comunicação - BRÁS, José Viegas; GONÇALVES, Maria Neves

    Com esta comunicação pretendemos atingir os seguintes objectivos: 1 – Analisar o impacto que o discurso higienista teve na génese da Educação Física e Desporto; 2 – Discutir o papel que foi atribuído à Educação Física e Desporto no combate ao definhamento da raça. Métodos/resultados: para analisarmos o problema enunciado seguimos a análise do discurso seguindo a perspectiva de Michel Foucault. Do trabalho que realizámos verificámos que o discurso higienista trouxe uma nova racionalidade, servindo para fazer a fundamentação à protecção colectiva e individual. O exercício físico surgiu, com a higiene, legitimado pelo saber científico. Desde o século XVII que assistimos a um discurso que relaciona a importância do exercício com a conservação da saúde. A grande aspiração da higiene era governar, ultrapassando os parâmetros da fisiologia, querendo também abraçar a sociologia e a moral. A ignorância, a incúria, fomentavam o viver anti-higiénico. Face a esta realidade, considerou-se que a escola poderia servir de instrumento de mudança. O apelo feito pela higiene veio contribuir para dar relevância à educação física e ao desporto. As vítimas que a surménage provocava e os trabalhos que Mosso desenvolveu, vieram colocar a necessidade de as reformas cuidarem da saúde dos jovens. Os trabalhos de antropologia escolar apareceram para se tentar saber a correlação existente entre o desenvolvimento físico e o desenvolvimento da inteligência. Daí que a avaliação antropométrica dos alunos tivesse ganho tão elevado interesse. Como conclusão podemos dizer que a educação física e o desporto ganharam reconhecimento com o discurso higienista através do combate às doenças escolares. Foi num contexto de degenerescência da raça - como então se dizia - que se colocaram novas exigências à governação da população. Nesta viragem de mundividência, a população saudável passa a ser vista como uma riqueza. Para esta mundividência, foram muito importantes os contributos da política de saúde, da educação física e do desporto. Palavras-chave: saúde, corpo, educação física, desporto.

    PAP0845 - Reconfigurações da masculinidade hegemónica nos corpos envelhecidos: um estudo em idosos praticantes de exercício físico.
    Texto a distribuir em sala - SILVA, Paula; CARRAPATOSO, Susana; NOVAIS, Carina; BOTELHO-GOMES, Paula; CARVALHO,Joana

    O tema das masculinidades, tal como o das feminilidades, não decorre de uma dádiva ontológica, mas passa a existir a partir dos atos das pessoas, e, para além de ter que ser entendido como um processo social, envolve práticas que se referem ao corpo e ao que o corpo faz (Connell, 2000). Na realidade, é um tema que exige uma pluralidade de posicionamentos e não se deve confundir com homens ou com a condição de ser do sexo masculino (Amâncio, 2004), e pode ser definido como uma configuração organizada de prática relativa à estrutura das relações de género (Connell e Messerschmidt, 2005). A masculinidade hegemónica é construída nos lugares onde a expectativa dos homens é ser independente, forte, assertivo, emocionalmente restritivo, competitivo, resistente, agressivo e fisicamente competente (Smith, et al, 2007). O estudo das masculinidades ganha importância quando estudamos o envelhecimento, uma vez que o declínio das capacidades físicas e motoras dos idosos poderá ser problemática (Calasanti e Slevin, 2001), uma vez que as características da masculinidade dominante que predominam na juventude e se estendem na vida adulta decrescem à medida que se envelhece (Bronfman, 2006). Esta preocupação orienta os homens idosos para actividades saudáveis, nomeadamente para a realização de exercícios físicos regulares. A presente investigação objectivou conhecer as percepções de idosos acerca do corpo, procurando explorar as suas expectativas relativamente à prática de exercício físico. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas a 22 idosos (68.6±5.4 anos) que iniciaram um programa de exercício físico. Os dados foram posteriormente sujeitos a análise de conteúdo no programa QSRNVivo7. Os resultados apontam que: (i) o envelhecimento aliado à diminuição da funcionalidade, de incapacidade e ao aparecimento de problemas de saúde, parece afastar comportamentos afirmativos da masculinidade; (ii) os idosos tendem a percepcionar o corpo com harmonia, mas a centrar as suas preocupações na funcionalidade; (iii) a disfunção eréctil surge com consequências negativas afastando os comportamentos afirmativos da masculinidade pela sexualidade. Nesse sentido, este estudo sugere que as conjunturas mudam ao longo da vida, sendo que aquando da velhice, ou quando esta se aproxima, as normas ditadas pela masculinidade hegemónica, embora presentes são reafirmadas. A prática de exercício físico parece ser, nesta etapa da vida, um meio determinante para (re)configurar e afirmar a masculinidade do homem idoso. Estudo no âmbito do Projecto financiado pela FCT (PTDC/DES/102094/2008 (FCOMP-01-0124-FEDER-009587).

    PAP0484 - A construção social do género no desporto
    Comunicação - ALMEIDA, Cristina Matos

    O género, sendo um dos principais organizadores das relações sociais, é diferente em cada sociedade, tempo ou lugar, existindo diferentes formas de representação e de performatividade da masculinidade e da feminilidade (Butler, 1999). Este facto revela que as concepções de género, os papéis sociais e os estereótipos associados a homens e mulheres não são biologicamente determinados mas resultam antes de uma construção social sobre o que se entende por masculino e feminino, a qual é, por sua vez, baseada em relações de poder desiguais entre homens e mulheres que, sistematicamente privilegiam o sujeito masculino (Scott, 1990). A construção de género no desporto está fortemente relacionada com a história do desporto moderno, espaço onde o entendimento de que as diferenças de género são biológicas e que a superioridade desportiva masculina pertence à ordem “natural” das coisas, tem sido difícil de ultrapassar (Hargreaves, 1994). O desporto é um espaço criado, nos finais do séc. XIX e início do séc. XX, por homens e para homens, espaço de confrontação física masculina no qual são simbolicamente expressos traços que se exigem ao “verdadeiro homem” - o homem viril, homem que deve demonstrar força física, agressividade, protagonismo e liderança, e em que a participação das mulheres, atendendo à sua primeira responsabilidade – a função reprodutora, foi logo considerada inapropriada à “natureza da mulher” e encontrou enorme rejeição. As mulheres foram assim excluídas Jogos Olímpicos da era moderna, em 1896, e a sua participação no desporto ao longo do séc. XX foi alvo de grande rejeição, com uma integração minoritária, lenta e muito desigual, a partir de determinados grupos de mulheres (particularmente, as das classes mais altas) e de acordo com o tipo de desporto (desportos estéticos, não violentos, que não pusessem em perigo o estereótipo feminino). Os estereótipos sexistas converteram o desporto numa prática de orientação masculina, inibindo a participação das mulheres ao considera-la como inapropriada, e deram origem a uma série de mitos como os que diriam: o desporto masculiniza as mulheres; o desporto prejudica a saúde das mulheres; as mulheres não têm capacidades para o desporto ou as mulheres não têm interesse no desporto. A identificação histórica do desporto com um modelo específico da identidade masculina e com o papel social adstrito aos homens teve como consequência a consideração do homem como único sujeito desportivo, ou pelo menos, como o sujeito mais valorizado.

    PAP0196 - As mulheres no mundo dos homens: o caso do bilhar em Portugal
    Comunicação - GONÇALVES, Teresa; DOUTOR, Catarina

    Seja no mundo do trabalho, na educação ou até mesmo nas relações sociais do dia a dia as questões ligadas à noção de identidade e género tem sido palco de discussão por parte de muitos investigadores (Mennesson, 2005). Á semelhança do que acontece no mundo do futebol, halterofilismo, boxe, a verdade é que, nos últimos tempos, temos vindo a assistir a um progressivo aumento do número de mulheres em práticas tradicionalmente masculinas. O bilhar não tem sido exceção. Considerado um desporto maioritariamente masculino, o bilhar desperta, de igual modo, a atenção das mulheres. Na presente comunicação procura-se salientar a importância da questão do género nas práticas desportivas, neste caso em particular, o bilhar. Neste sentido, a comunicação tem como objeto de estudo as representações sociais das mulheres que “praticam” bilhar, nomeadamente as suas motivações e as suas experiências decorrentes desta prática. Dado a crescente importância que esta modalidade tem vindo a adquirir em Portugal, importa compreender as diferentes motivações e práticas de bilhar na vida destas mulheres, estabelecendo ao mesmo tempo, um ponto de análise comparativa face às perceções vividas pelos homens. Assim, partindo de casos de mulheres envolvidas, nesta modalidade, procura-se desta forma, analisar e compreender as motivações e o papel do bilhar nas suas vidas, bem como compreender a diversidade de processos que envolvem a prática desta modalidade (Ex: processo de socialização, técnicas e estratégias de jogo, competição, estatutos e apoios, obstáculos à participação no bilhar, entre outros). Tendo em conta o problema desta investigação, iremos recorrer, principalmente, a uma metodologia qualitativa com base na aplicação de entrevistas semiestruturadas com o intuito de conhecer e compreender esta prática desportiva desenvolvida pelas mulheres.

6 - Identidades, Migrações e Etnicidade no Desporto

    PAP1587 - Futebol e migrações: primeiras anotações
    Comunicação - CRISTAN, Mara Lúcia

    Apesar do peso descomunal que o futebol ocupa na vida quotidiana, económica, política e cultural das sociedades, sendo que o futebol, enquanto desporto-espetáculo (Bourdieu, 1985) atua como arena pública no processo de construção das identidades culturais em diversas instâncias: regionais, nacionais, supra-nacionais, geracionais, de classe, de claques, desportistas, organizações, burocracias, ciência e tecnologia. A vida de trabalho que os jogadores levam numa sociedade globalizada ainda vem sendo pouco conhecida, sobretudo dos jogadores migrantes e que “rodam” pelo mundo.

    PAP0913 - O determinismo cultural na prática esportiva: estudo dos casos do futebol no Brasil e do rúgbi na Nova Zelândia
    Comunicação - JUNIOR, Ary José Rocco

    O Brasil é aclamado, em todo o mundo, como o “país do futebol”. Tal reconhecimento ocorre, primordialmente, pelos excelentes resultados obtidos pelas seleções brasileiras de futebol nas Copas do Mundo de 1958, 62, 70, 94 e 2002. Além do sucesso representado por essas conquistas, a forma dos brasileiros praticarem o esporte futebol é admirada mundialmente pela habilidade de seus jogadores e pela beleza plástica com que suas equipes praticam o esporte. A Nova Zelândia, por outro lado, é reconhecida universalmente pela excelência de sua seleção nacional de rúgbi, os All Blacks. Em sete disputas da Copa do Mundo do esporte, a seleção neozelandesa conquistou o título em duas oportunidades (1987 e 2011). Muito mais do que os triunfos obtidos, a mítica dos All Blacks consagrou a Nova Zelândia como o principal país do esporte. O objetivo deste trabalho é analisar, de forma superficial, as relações existentes entre a formação cultural do brasileiro e do neozelandês com o sucesso obtido pelo futebol, no Brasil, e o rúgbi, na Nova Zelândia. É nossa intenção comprovar que os aspectos culturais são fundamentais para que, na prática desses esportes, os brasileiros tenham sucesso no futebol e os neozelandeses no rúgbi. Tal suspeita se baseia nas ideias de T. S. Eliot que afirma que “a cultura do individuo depende da cultura de um grupo ou classe, e que a cultura do grupo ou classe, e que a cultura do grupo ou classe depende da cultura da sociedade a que pertence este grupo ou classe”. Em função do exposto acima, pretendemos mostrar que, na formação cultural dos brasileiros e dos neozelandeses, estão presentes elementos que, no caso brasileiro favorecem a prática do esporte futebol; e, no caso neozelandês, estimulam o jogo esportivo e as características do rúgbi enquanto esporte. A educação, segundo Eliot, funciona como o elemento propagador da cultura. Cultura que se compõe de vários elementos e, no entender do autor, “vai da habilidade rudimentar e do conhecimento à interpretação do universo e do homem pela qual vive a comunidade”. Determinadas modalidades esportivas, por suas características peculiares, se adaptam melhor à formação cultural de sociedades peculiares. É essa relação – formação cultural x prática esportiva – que pretendemos investigar através do estudo dos casos Brasil-futebol e Nova Zelândia-rugbi.

    PAP0775 - Entre a defesa e o ataque, os imigrantes do futebol português
    Comunicação - NOLASCO, Carlos

    Num processo que não é novo, o futebol português participa na dinâmica global de forte competição pela procura de jogadores com características físicas, técnicas e táticas capazes de materializar em vitórias a ambição dos clubes, adeptos e patrocinadores. Em distintas escalas, essa procura tem desencadeado um intenso processo migratório internacional caracterizado, sobretudo, pela sua complexidade assente, em grande parte, na diversidade de origens e destinos migratórios. A observação dos plantéis dos principais clubes europeus, muitos deles constituídos, quase exclusivamente, por jogadores estrangeiros, é reveladora da importância que assume a migração internacional de futebolistas, sendo reflexo de uma cultura desportiva na qual o trabalho atlético atravessa fronteiras políticas, culturais, étnicas, e económicas Também em Portugal os futebolistas estrangeiros são parte integrante e relevante do cenário futebolístico. Nomes anónimos ou mediáticos, os futebolistas estrangeiros representam mais de metade da totalidade dos jogadores da Primeira Liga, sendo que há clubes nos quais os jogadores nacionais ocupam lugar meramente residual. Se para alguns protagonistas do futebol português esta é uma consequência inevitável do funcionamento das leis de oferta e procura do mercado futebolístico, outros apelam a uma atitude defensiva invocando que os futebolistas estrangeiros retiram espaço laboral aos jogadores nacionais. A presente comunicação visa caracterizar o fluxo imigratório do futebol português, determinando o volume, a origem, as reacções e consequências desse processo, considerando ainda que este fenómeno é determinado por dinâmicas de globalização bem como por especificidade da sociedade portuguesa. Esta análise terá em consideração as épocas futebolísticas mais recentes.

    PAP0694 - Futebol, Racismo e Eurocentrismo: Os media portugueses e o mundial na África do Sul
    Comunicação - ALMEIDA, Pedro Sousa de

    O debate teórico em torno do fenómeno do futebol tem envolvido investigadores de diferentes áreas. A persistência e continuidade dos actos violentos nos jogos de futebol atraiu a atenção inicial dos autores que se centraram, quase exclusivamente, na questão da violência no contexto britânico. A partir da última década do século XX, os estudos estendem-se a outras realidades empíricas com a publicação dos primeiros trabalhos sobre as culturas de adeptos na Europa do Sul. Num plano secundário, surgiram, simultaneamente, diversas investigações que procuraram abordar a questão do racismo e dos movimentos anti-racistas no contexto do futebol. Porém, este tipo de análise evidencia alguns limites críticos que impedem o avanço do debate teórico. De um modo geral, as manifestações racistas no contexto do futebol têm sido atribuídas a grupos de extrema-direita que, de uma forma mais ou menos organizada, veriam nos estádios uma arena privilegiada para expressar as suas ideologias. Numa tentativa de combater este tipo de manifestações - comummente atribuídas a ‘marginais’ e ‘extremistas’ - inúmeras iniciativas de ‘combate ao racismo’ têm sido desenvolvidas, em diversos países europeus, abrangendo diferentes actores. No entanto, simultaneamente, de uma forma mais ou menos subtil, as visões eurocêntricas e racistas são constantemente difundidas pelos organismos que tutelam o futebol, pelos media, pelos dirigentes e pelos adeptos. Esta comunicação tem como objectivo analisar de que forma é que o futebol constitui um poderoso veículo de produção e perpetuação de perspectivas eurocêntricas e racistas, presentes nos discursos e nas práticas dos diversos actores, nomeadamente, nos media. Partindo da análise das publicações dos media portugueses a propósito do campeonato mundial realizado na África do Sul, pretende-se mostrar que o futebol constitui não só uma metáfora da sociedade, como também produz, reproduz e reifica determinados valores e normas sociais contribuindo assim para uma naturalização das identidades culturais. Tendo sido o primeiro evento do género realizado no continente africano, desde cedo se assistiu a um discurso marcadamente eurocêntrico, que iria, ainda que no plano futebolístico, pôr em confronto a ‘modernidade’ e o ‘tradicional’, a ‘razão’ e a ‘magia’, ganhando assim uma nova visibilidade um discurso altamente enraizado na herança colonial. Este trabalho pretende contribuir para um alargamento do debate teórico nos estudos sobre futebol e sociedade que, de um modo geral, têm abordado a questão do racismo meramente sob uma perspectiva durkheimiana, isto é, como um mero reflexo ou espelho das relações sociais ou sob uma perspectiva historicista, assente na ideia de que o racismo é um fenómeno marginal e residual nas sociedades europeias e, consequentemente, nos estádios de futebol.

7 - Jovens e Práticas Desportivas

    PAP1225 - Os jovens e o desporto: constrangimentos e oportunidades.
    Comunicação - PEREIRA, Antonino

    As atividades de lazer têm cada vez mais uma grande influência na formação da identidade dos adolescentes, no seu bem-estar, no desenvolvimento de problemas comportamentais e na relação com os seus amigos (Caldwell & Darling, 1999; Fletcher, Nickerson & Wright, 2003). Nos últimos tempos, tem-se assistido a uma grande evolução no campo das tecnologias que têm proporcionado aos jovens a prática de várias atividades de carácter sedentário (ver TV, o uso do computador, a Internet, a prática de vídeo games, etc.), as quais parecem condicionar a atividade física e desportiva praticada pelos adolescentes (Hesketh, Crawford & Salmon, 2006; Meester et al, 2009). A prática da atividade desportiva é fundamental para o desenvolvimento, saúde e bem-estar dos adolescentes (Nilsson et al., 2009). Porém, nos últimos anos a participação desportiva dos adolescentes tem vindo a diminuir (Marivoet, 2001; Meester et al., 2009). Estes dados deverão ser equacionados pelas famílias, escolas e demais instituições sociais, de modo a proporcionarem condições que permitam aos adolescentes ultrapassar os obstáculos que dificultem tal prática (Loureiro, Matos, & Diniz, 2009). Nesse sentido, a nossa intervenção tem como objetivo refletir sobre os constrangimentos á prática desportiva dos jovens, bem como as oportunidades á sua disposição tendo em vista o seu desenvolvimento e bem-estar. Bibliografia Caldwell, L. & Darling, N. (1999). Leisure context, parental control, and resistance to peer pressure as predictors of adolescent partying and substance use: an ecological perspective. Journal of Leisure Research, 31 (1), 57–77. Fletcher, A.; Nickerson, P. & Wright, K. (2003). Structured leisure activities in middle childhood: links to well-being. Journal of Community Psychology, Vol. 31; nº 6, 641- 6549. Hesketh, K., Crawford, D. & Salmon, J. (2006). Children's television viewing and objectively measured physical activity: associations with family circumstance. Inter. Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, 3:36. doi:10.1186/1479-5868-3-36. Loureiro, N.; Matos, M. & Diniz, J. (2009). A actividade física e o desporto. In M. Matos & D. Sampaio (Coord.), Adolescentes com saúde. Dialogo com uma geração (pp.76-83). Lisboa: Texto Editores. Marivoet, S. (2001). Hábitos desportivos da população portuguesa. Lisboa: CEFD. Meester, F., van Lenthe, F., Spittaels, H., Lien, N. & Bourdeaudhuij, I. (2009). Interventions for promoting physical activity among European teenagers: a systematic review. Inter. Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, 6:82. Nilsson, A., Andersen, L., Ommundsen, Y., Froberg, K., Sardinha, L., Piehl-Aulin, K. & Ekelund, U. (2009). Correlates of objectively assessed physical activity and sedentary time in children: a cross-sectional study. BMC Public Health, 9:322.

    PAP1132 - Hábitos Desportivos dos Jovens - Estudo da População Jovem do Concelho de Torres Novas
    Comunicação - GONÇALVES, João

    Tendo como objectivo proporcionar ao poder local, instituições educativas e desportivas, particulares e públicas, uma melhor compreensão dos hábitos desportivos e condutas sociais da população jovem, aprofundou-se o conhecimento das diferentes relações que se estabelecem entre a variedade de factores sociais e a carga relativa de cada um. Neste sentido, e com base no contributo dos autores, definimos a nossa problemática de análise, objecto de estudo, hipóteses/questões e respectiva metodologia. Através da aplicação de um questionário a uma amostra representativa do universo do nosso estudo de caso, composta por 189 jovens dos 10 aos 15 anos, 93 do sexo feminino e 96 do sexo masculino, residentes no concelho de Torres Novas, que frequentam o ensino básico público e privado do concelho, recolhemos a informação, tratada no programa SPSS versão 17 para Windows, que nos permitiu testar a veracidade da hipótese em estudo. Concluímos que a Participação Desportiva dos jovens (71%) é superior, mais regular e organizada nos jovens do sexo masculino e em anos de escolaridade mais baixos, continuando a verificar-se um défice de participação desportiva quando comparada com a média dos jovens europeus. A maioria dos jovens afirma praticar desporto de forma organizada, inserida numa prática de Lazer e de forma institucionalizada (rapazes mais no âmbito do Desporto Federado/Competição e as raparigas mais inserida numa prática de Lazer). A diversidade de actividades de lazer traduziu-se numa diversificação de práticas de lazer, não determinando uma diminuição da participação desportiva dos jovens. Em relação ao habitat e a actividade físico-desportiva, no meio rural inicia-se mais cedo a prática desportiva, apresentando índices de Participação Desportiva e de Abrangência superiores. Os jovens inseridos em famílias do grupo social EQS (Empresários e Quadros Superiores), são os que apresentam hábitos desportivos mais elevados, com mais ligações ao desporto e um maior valor de participação desportiva, verificando-se a influência do contexto sociocultural na participação desportiva dos jovens e nas actividades praticadas. O sexo, a idade, o grupo social, o habitat e os hábitos desportivos da família, revelaram- se variáveis estruturantes dos hábitos desportivos dos jovens, sendo que a existência de outros consumos culturais não determinam uma diminuição dos mesmos. Palavras-Chave: Hábitos Desportivos, Sexo, Grupo social, Habitat, Jovens, Concelho

    PAP0942 - Os múltiplos sentidos do skate na cidade de São Paulo
    Comunicação - MACHADO, Giancarlo Marques Carraro

    Nos últimos tempos, o skate ganhou demasiada visibilidade de modo que até mesmo muitas emissoras de TV passaram a dá-lo um espaço considerável em suas programações. Essa espetacularização faz com que eventos sejam patrocinados por diversas marcas, que buscam divulgar seus produtos para um público mais amplo, tendo o skate como carro-chefe de uma série de atrações. Mas todos esses aspectos não se aplicam a esse universo em sua amplitude. Por ser uma prática tipicamente urbana, o skate vive seus momentos de disputas, de diálogos, de repressões, principalmente quando associado à utilização de equipamentos urbanos. Entre as várias modalidades que fazem parte do skate, uma delas sempre é alvo de problemas que envolvem uma série de atores sociais: trata-se do street skate, ou seja, a prática do skate nas ruas. Os streeteiros, como se denominam os skatistas desta modalidade, incentivados pela mídia especializada transitam pela cidade, mas, com um olhar apurado para certos equipamentos urbanos, que são vistos como obstáculos a serem superados. A cidade é classificada de uma forma bem diferenciada do usual por eles, que as interpreta a partir de códigos e experiências próprias. Para os streeteiros, andar de skate nas ruas pode se constituir ora como um trabalho, ora como uma diversão. Mas, para as outras pessoas, esta prática pode configurar uma arruaça ou um ato de vandalismo. Numa possível tentativa de disciplinar a prática do skate e de estimular o seu uso em locais apropriados (como nas pistas), o poder público promove algumas ações, como o Circuito Sampa Skate, evento que consiste em uma série de campeonatos. A pesquisa parte da análise dos múltiplos sentidos atribuídos à prática da modalidade street skate na cidade de São Paulo. Por meio da etnografia pretende-se evidenciar não só aspectos em torno do exercício de uma prática esportiva, mas também, as implicações em virtude dos usos e apropriações dos espaços urbanos por parte dos citadinos. De uma forma bem ampla, vislumbra-se mostrar como a cidade pode ser lida e ordenada simbolicamente por meio de um olhar skatista. Nesse sentido, ao pesquisar os diversos lugares skatáveis da cidade e seus respectivos picos, a referência etnográfica não é um único espaço ou aglutinações de pessoas, mas sim, uma multiplicidade de espaços e de atores que se encontram articulados por meio de redes mais amplas de relações. Desse modo, tem-se a chance de relacionar os distintos recortes inseridos no universo do street skate em São Paulo, sendo esse não definido a priori, mas construído a partir de discursos, práticas e representações heterogêneas, e em meio a uma dinâmica relacional.

    PAP0628 - Experiências de Movimento Corporal de Crianças no Cotidiano da Educação Infantil
    Comunicação - FILHO, Nelson Figueiredo de Andrade

    A investigação teve como objeto o estudo compreensivo-critico das experiências de movimento corporal das crianças no contexto da educação infantil. A questão de partida perguntou como tais experiências ocorrem no dia a dia de um CMEI, do sistema de ensino público de Vitória (ES). A investigação foi inspirada nos postulados propostos por Sarmento (2000, 2003a, 2003b) e Sarmento, Thomás, Fernandes (2004). O objetivo foi contribuir para que a Educação Física constitua elementos teóricos e metodológicos capazes de orientar a atuação e a formação do professor envolvido no processo de educação das crianças na educação infantil. A observação em contexto nos permitiu compreender que as experiências de movimento corporal das crianças tendem a ser sistematicamente interditadas pela cultura institucional; que as crianças na educação infantil não têm direito a movimentar a si e ao seu mundo como precisam e gostariam de fazê- lo; que o sentido interpretativo desenvolvimentista corrente na educação infantil indica que quando a criança move a si e ao seu mundo provoca um forte conflito entre sua perspectiva cultural ética estética e a ordem cultural estética ética institucional. Ao compreender esses indicadores, passamos a considerar que tais experiências são uma chave de socialização das crianças; pois, movimentos corporais executados por elas são fundamentais para a configuração de ações inerentes aos jogos e às brincadeiras no momento em que ocorrem; são uma necessidade e um interesse típico e parte significativa do ofício de criança. Se essas necessidades e interesses não forem considerados no dia a dia da educação infantil, expropria-se a chave e compromete-se sensivelmente o desenvolvimento, a educação, socialização da criança como sujeito de direitos. Experiências de movimentos corporais vividas pelas crianças são necessárias como fontes e possibilidades efetivas de aquisição de um tipo de conhecimento objetivo, estruturante, regulador e revelador das experiências, das ações, das linguagens, da subjetividade, das representações das dimensões reais e virtuais da vida e das condições efetivas de socialização da criança. Radicalizando na compreensão crítica, sugerimos que no processo de escolarização, as experiências de movimento corporal configuram ações ontologicamente violentas. Concorrentes indóceis às nossas boas intenções para com as necessidades e interesses pessoais e sociais das crianças. Chamamos o de [O TEXTO TERMINA ASSIM NO ORIGINAL DO CONGRESSO. L.]

Comentários

Por Jorge Dorfman Knijnik
em 28 de Junho de 2012 às 01:53.

Laercio, muito bom isso aqui, obrigadinho!

Por Roberto Affonso Pimentel
em 25 de Dezembro de 2012 às 08:45.

De futuro, para aqueles que assim o desejarem, tanto da área da Sociologia como da História, tomo a liberdade de indicar a obra de minha autoria que acaba de sair do prelo intitulada História do Voleibol no Brasil (2 vol. 1..047 pág.), que se reportar ao período 1939-2000, fartamente ilustrada com fotos e depoimentos.

Está adjetivada como enciclopédica, memorialista e obra de referência. Pode ser adquirida pela internet (ver e-mail).


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