Cevnautas da Tecnologia,
A Folha Dirigida traz uma entrevista com o nosso Adm. Cleber. Viva! Laercio
O desafio de incentivar a educação física entre crianças e adolescentes
Por - Renato Deccache - renato.deccache@folhadirigida.com.br
Nas últimas décadas, o perfil dos jovens e adolescentes passou por mudanças significativas. A redução nos espaços de lazer ao ar livre, uma das consequências da expansão urbana por meio da criação de condomínios, limita a realização de atividades que contribuem para o desenvolvimento da coordenação motora, em especial, das práticas esportivas.
Em paralelo, as novas gerações estão cada vez mais familiarizadas com os meios eletrônicos de entretenimento. Primeiramente os videogames e, em um movimento mais recente, os tablets e smartphones, têm arrebatado um número cada vez maior de crianças e adolescentes. Com jogos que usam e abusam de efeitos gráficos, estes dispositivos há muito já ganharam o status veículo de diversão preferido da atual geração.
O problema é que a combinação da prática menos frequente de atividades ao ar livre com o uso corriqueiro de jogos digitais como forma de entretenimento pode gerar um ciclo vicioso que tem como resultado um grau maior de sedentarismo nas novas gerações, como salienta o professor Cleber Mena Leão Junior, autor do livro “Manual de Jogos e Brincadeiras - Atividades Recreativas para Dentro e Fora da Escola”.
“É comum vermos adolescentes e crianças interagindo/brincando com celulares ou computadores. Como qualquer outra atividade, o uso dos jogos eletrônicos deve ser dosado de maneira saudável, pois assim com ler ou assistir TV durante muitas horas seguidas, a prática desmedida dessas atividade e a falta de atividade física regular podem levar a uma vida sedentária.”
Para o especialista, o trabalho com a educação física nas escolas pode ser um importante aliado para reduzir esta tendência ao sedentarismo, da atual geração. Graduado em Educação Física e especialista em Educação Física Escolar, além de diretor da Associação Brasileira de Recreadores na Região Sul (Abre), Cleber Junior propõe, em seu livro, um novo conceito de brincar, que leva em conta, justamente, a utilização dos jogos eletrônicos como ferramenta interativa e a transposição da dinâmica dos jogos eletrônicos para as atividades práticas.
“O objetivo de utilizar os jogos eletrônicos como fator motivacional para realização das atividades físicas”, salienta o especialista que, nesta entrevista, entre outras coisas, fala sobre seu livro, analisa os desafios de motivar a atual geração a ter maior interesse por práticas esportivas, analisa o contexto geral da educação física nas escolas.
FOLHA DIRIGIDA - O senhor é autor do livro “Manual de jogos e brincadeiras - atividades recreativas para dentro e fora da escola”. Em linhas gerais, o que os leitores podem encontrar nesta obra?
Cleber Mena Leão Junior — Costumo dizer que o intuito do livro, além de despertar, propagar e incitar o interesse por jogos e brincadeiras, serve como base para o auxílio teórico e prático aos acadêmicos, professores e pais, que se interessam e se preocupam com a dinâmica do aprendizado, da brincadeira saudável e sobre o brincar no século XXI. Neste manual, o leitor encontrará conhecimentos científicos sobre a temática de jogos e brincadeiras, bem como, 165 atividades para utilizá-las em casa com os filhos, espaços e ambientes de lazer e recreação com seus participantes, e também, no chão da escola com seus alunos. Tais atividades estão divididas em uma nova classificação de jogos e brincadeiras, para auxiliar na sua aplicação, tanto para professores que buscam simplificar o aprendizado, como para pais, que esperam auxiliar o desenvolvimento de seus filhos.
Há jogos e brincadeiras mais apropriados para a infância e a adolescência? Quais e por que?
Há muitas questões que devemos perceber nessas fases do desenvolvimento humano - infância e adolescência, observando por vezes, crianças de apenas um ou dois anos de diferença, serem muito diferentes. A criança pequena cresce muito rápido, ao contrário do adolescente que parece por vezes não querer crescer. As crianças menores gostam muito de atividades que trabalham com o seu lúdico, com a imaginação, atividades intensas como corridas, saltos e que tenham regras simples e fáceis de serem cumpridas, como por exemplo: “Cada Macaco no Seu Galho”. Já uma parcela dos adolescentes necessitam de autoafirmação e frequentemente não gostam das atividades físicas. Eles buscam interagir com seus semelhantes, sua tribo, são atentos à tecnologia e às novidades do mercado. Uma das atividades que une jogos e brincadeiras e tecnologias poderia ser um caça ao tesouro com celular, utilizando o leitor de QRcode.
Por sua vez, há atividades e brincadeiras mais adequadas para o púbico mais jovem? O que elas devem priorizar?
Sabe-se que os jovens gostam de desafios. Desta forma, atividades que envolvam competição são muito benvindas, como por exemplo, paintball, RPG (jogo de interpretação de personagens), jogos esportivos. Pode-se também utilizar as atividades cooperativas em que, no final, o grupo como um todo alcança um objetivo em comum. Uma outra proposta, seriam atividades como gincanas culturais, atividades artísticas, jogos ao ar livre e de aventura, oportunizando aproximação de grupos sociais de ambos os gêneros.
Nesta obra, o senhor propõe um novo conceito sobre o brincar, no século XXI. Que conceito é este?
Atualmente, a tecnologia faz parte da nossa realidade e, consequentemente, da de crianças e adolescentes, as quais se familiarizam rapidamente com as novidades tecnológicas. Elas estão presentes de tal forma que passam a ser parte das brincadeiras e relacionamentos interpessoais de crianças e adolescentes. O conceito que proponho no livro contempla a realidade do brincar no século XXI, ou seja, os “Jogos e Brincadeiras Contemporâneas”, que por conceito são: atividades referentes à utilização dos jogos eletrônicos como ferramenta interativa (utilizando os jogos eletrônicos de videogames, computadores, tabletes, celulares, podendo ser vivenciados individualmente ou em grupo) com o objetivo educacional. Outra forma é transpor as atividades dos jogos eletrônicos para as atividades práticas (jogar tênis no Nintendo Wii e depois jogar tênis na quadra) com o objetivo de utilizar os jogos eletrônicos como fator motivacional para realização das atividades físicas.
É cada vez maior o interesse das crianças e jovens por jogos eletrônicos. No entanto, estas atividades, em geral, estimulam menos a parte motora. Vale a pena utilizar estes tipos de jogos? Como fazer uso deles e sem que o estudante tenha uma postura sedentária?
Com o intuito de associar os jogos eletrônicos de videogame e à prática corporal, a partir de 2006, os videogames passaram a ser comandados pelo movimento do corpo, inicialmente pela Nintendo Wii - a qual idealizou essa nova roupagem aos videogames - posteriormente pelo Xbox Kinect, e por fim, o Playstation Move. Desde então, tornaram-se boas opções para a diversão, pois eles possibilitam uma excelente movimentação corporal, contrapondo as ações estáticas dos videogames de antigamente comandados pelo joystick (controle). Porém, esta ainda não é uma tecnologia a que todos têm acesso; por outro lado, é comum vermos adolescentes e crianças interagindo/brincando com celulares ou computadores. Como qualquer outra atividade, o uso dos jogos eletrônicos deve ser dosado de maneira saudável, pois assim com ler ou assistir TV durante muitas horas seguidas, a prática desmedida dessas atividade e a falta de atividade física regular podem levar a uma vida sedentária.
Quais os problemas que o uso frequente de jogos eletrônicos, principalmente em dispositivos móveis como tablets, smartphones, etc, podem trazer para a postura corporal e a coordenação motora?
A ludicidade expressa nesses equipamentos torna-se um grande atrativo para uma grande parcela da sociedade, e assim, acabam dedicando muita atenção aos jogos eletrônicos. Já o uso frequente destes dispositivos não é o real problema da causa de má postura e coordenação motora, primeiramente, o seu uso dos jogos eletrônicos nesses equipamento, deveria ser utilizado como entretenimento em seu momento de lazer. O que realmente poderia causar uma má postura e/ou déficit de coordenação motora, seria o desequilíbrio entre tempo de uso dos jogos eletrônicos “versus” o tempo de prática de atividade física. Ou seja, muito tempo jogando em seus dispositivos móveis, em relação ao, pouquíssimo tempo ativo em alguma prática de atividade física. Ao jogar por horas, sem ter um período determinado para essa prática, poderemos ao sentar, obter uma postura erronia, ou, trabalhar demais com os membros superiores (mãos) e não utilizar os membros inferiores como em uma partida de futebol, por exemplo. O apropriado é sempre equilibrar a balança entre dispositivos móveis e atividade física.
O senhor é especialista em Educação Física Escolar. Na sua opinião, quais os principais problemas que ainda existem, de maneira geral, no trabalho com a educação física nas escolas?
Se pensarmos em Educação Física escolar, percebemos que ela é nova enquanto ensino curricular. Há muito tempo, ela se voltava para o militarismo. A Educação Física escolar vem se moldando em novas vertentes, com uma diversidade de novas práticas pedagógicas, ou seja, nova metodologias de ensino. Hoje, vemos crianças muito mais inteligentes, a ponto de obter certos conhecimentos que crianças de antigamente nem pensavam em ter. Pois bem, concordo que antigamente não existia o Google e o fácil acesso às informações Online como atualmente. Porém, o que temos que pensar hoje em Educação Física escolar é solucionar uma das questões que surgem nesse século XXI: os Nativos Digitais, que Marc Prensky (2010) em seu livro “Não me atrapalhe, mão - eu estou aprendendo!”, as denomina como crianças que nasceram nessa geração imersa nas tecnologias. Entendendo nossos alunos, priorizaremos o conteúdo para que seja melhor aproveitado por eles.
Faltam às escolas espaços adequados para a prática de atividades físicas? Que tipo de espaços seriam os mais necessários?
O espaço físico de base para o ensino dos conteúdos curriculares da Educação Física seria uma quadra poliesportiva, o que, na grande maioria das escola, existe. No entanto, “não só de quadra vive um professor de Educação Física”, assim como, “nem só de pão vive o homem”. Maravilhoso seria se em todas as escolas houvesse uma quadra coberta, com o tamanho e metragem oficial, mas, não é só os esportes (voleibol, futebol, basquetebol, entre outros) que contemplam os conteúdos curriculares da Educação Física, temos outros como: Jogos e Brincadeiras, Lutas, Danças, Ginásticas. Assim, precisariam de tatames para as lutas; Espelhos e barras para as danças; Aparelhos e equipamentos para as ginásticas, por exemplo, sem falar em esportes individuais como Atletismo, Natação, etc. Tais espaços e equipamentos, hoje, podem ser uma realidade distante das escolas públicas, mas, em escolas particulares nem tanto.
Muitas redes de ensino pelo país, em vez de construir quadras e espaços destinados à prática de atividades esportivas, realizam convênios nos quais gastam recursos próprios com clubes e entidades do tipo, para utilização de espaços. Como vê este tipo de prática?
Não vejo como negativo, desde que não haja possibilidade de obter tais recursos dentro do ambiente físico escolar. E também, que não se desvie do real objetivo da Educação Física escolar. Quero dizer, a Educação Física como conteúdo curricular, na minha perspectiva, com o objetivo de vivência de movimentos, e não o treinamento técnico que visa à competição. Essa perspectiva é de clube, e isso se configura como atividade extracurricular, e não, Educação Física escolar.
Além da prática esportiva, o que seria importante existir nas aulas da disciplina? Que aspectos teóricos são fundamentais para a formação dos estudantes?
A disciplina de Educação Física tem uma área de conhecimento bem ampla. No entanto, para não extrapolar, aponto um tópico viável para o ensino - o conhecimento sobre o corpo - nele, podemos entender o corpo enquanto cultural, biológico e mercadológico: o corpo mais arredondado da Monalisa, corpos magros de modelos (abordando a anorexia), conceito atual de corpo belo, com os corpos “bombados” ou “sarados” (ingestão de anabolizantes), refletindo assim, sobre tais conceitos. Se pensarmos em esportes, a grosso modo, observamos que os conteúdos teóricos nas aulas de Educação Física escolar são “deixados de lado” por grande parcela dos professores. Mas, o conhecimento teórico das regras faz com que o estudante, ao olhar uma competição de basquetebol na televisão, saiba o que significa as regras dos 3 segundos, 5 segundos, 8 segundos e a dos 24 segundos, por exemplo. Sabe o significado dessas regras? Será que foi trabalhado a prática, juntamente com a teoria, em suas aulas de Educação Física?
Estamos às vésperas da Copa do Mundo, um evento que envolverá todo o país. O Brasil, na sua opinião, poderia ter aproveitado melhor este grande evento, e até a Olimpíada do Rio de Janeiro, para incentivar mais a prática de esporte nas escolas?
Esta é uma excelente oportunidade para os professores, em sua práxis diária, se utilizarem do momento para ensinar sobre uma ampla gama de questões que envolvem o esporte, além da prática esportiva tradicional. À guisa de conhecimento, poderia se abordar a trajetória das camisetas da seleção brasileira até 2014; Analisar o futebol jogado nos anos que o Brasil foi campeão mundial (via gravações no you tube) e comparar com o atual futebol; Como consumir o esporte midiático; Organizar uma mini-olimpíadas, com direito medalhas produzidas pelos próprios alunos; Realizar uma copa do mundo de futebol digital (no videogame). Ou seja, diversificar o ensino do conteúdo, para que haja novidades e motive os alunos a prática e o gosto por apreciar os esportes.
Qual a importância da prática esportiva no processo de formação educacional de um indivíduo?
A prática esportiva por si só, não garante uma formação educacional, se nos bastidores não houver um professor com sua formação humanista, e sim, tecnicista. O esporte, como qualquer outro conteúdo da Educação Física (falando de Educação Física curricular, e não, extracurricular) não é salvacionista, ou seja, não salva ninguém das drogas, vícios, não gera educação, bons modos ou costume, pois o eixo central sempre será uma pessoa, ou seja, o professor. O professor é o formador de opinião, ele indicará os caminhos, mas, no final das contas, o indivíduo, por sua conta e risco, seguirá o que ele bem escolher. É certo que uma formação educacional de qualidade, com professores qualificados, informará mais precisamente os seus alunos, mas cabe ao aluno, sem exceção, a escolha de suas ações no futuro.
Fonte: http://bit.ly/cev802014
Comentários
Por
Thaiany Luna Pires Pereira
em 14 de Julho de 2014 às 14:04.
É incontestável que cada vez mais as crianças e adolescentes estão se afastando das práticas esportivas. Tudo está de maior alcance, mais fácil acesso, como alimentos, meios de transporte e jogos eletrônicos, que deixam esquecidas as atividades físicas.
É necessário que os professores incentivem os alunos principalmente nas escolas. Creio que este é o ponto chave. O esporte não faz milagre sozinho, então instruir os alunos com práticas alimentares saudáveis pode contribuir muito para a melhora da saúde e uma perspectiva de vida melhor.
Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.