Prezad@s

Hoje comemora-se o Dia do Jogo Limpo. Fiz algumas alterações em um texto que havia publicado tempos atrás na Universidade do Futebol  e o trago para reflexão (e possível repercussão) de vocês.

Abraços
Lino

DIA DO JOGO LIMPO OU... DOPING E HIPOCRISIA

Lino Castellani Filho

       

Em 14 de maio de 2012 a nossa presidenta, Dilma Rousseff fez publicar no Diário Oficial da União, em conjunto com o Ministro de Estado do Esporte, Aldo Rebelo, a Lei nº 12.638, instituindo o dia 15 de Janeiro como o Dia Nacional do Jogo Limpo e de combate ao doping nos Esportes...

Pois bem... Primeiro, sinceramente, gostaria que essa lei tivesse uma maior abrangência... Vocês imaginam o impacto de uma lei instituindo o Dia do Jogo Limpo... Na política brasileira?!         

Enfim, sabemos que o ótimo é inimigo do bom... Idealizar a realidade não ajuda em nada em sua transformação...

Então... Lendo as matérias jornalísticas e ouvindo os comentários sobre este assunto nos programas de TV ou nas rodas de amigos — típicas daquelas que acontecem após os 60 minutos de “pelada” justificadores dos 120 de boa cerveja —, não pude deixar de ficar revoltado... Com a hipocrisia reinante em nossa sociedade!

Hipocrisia sim! Pois não somos nós que exigimos a vitória a qualquer custo, atribuindo ironicamente a frase o importante é competir aos perdedores?

A coisa funciona mais ou menos assim: Você é atleta e sabe que fama, sucesso e dinheiro vêm com resultados esportivos! Mas não com qualquer resultado, mas sim somente com a vitória. E você faz tudo o que está ao seu alcance para obtê-la. Submete seu corpo a um árduo treinamento físico, horas e horas a fio, abrindo mão, em plena juventude, de descobrir as loucuras da paixão, do amor, da vida... Sua cabeça não pode estar naquela menina/mulher ou menino/homem que faz seu coração como que pular pela boca, e sim na competição que se avizinha. Focado, dizem... Você tem que estar focado!

Com os treinos vêm os resultados e deles, seu salário. Salário sim, pois você tem com o Esporte uma relação de trabalho. É... Você é um trabalhador da bola, das pistas, das barras assimétricas e coisas e tais...

Mas eis que os resultados começam a ficar cada vez mais difíceis de serem obtidos e por mais que aumente a carga de treinamento, seu corpo já não responde a ele como antes... Mas você aprendeu que seu patrocinador só lhe patrocina porque você vende com suas vitórias o que ele deseja vender...

Seu salário está intimamente vinculado a elas... As entrevistas e presença em manchetes de jornal estão diretamente ligadas ao seu sucesso...

Então você diz: Tudo isso precisa continuar a existir, custe o que custar... Pronto! Está feito! Daí para o doping é um pulinho...

Muitos sabem, mas fingem não ver o que está acontecendo com você. Afinal, você continua vencendo e dando o retorno que eles desejam... Aos produtores do produto que anuncia, aos dirigentes e torcedores do clube onde se encontra vinculado, ao país que une ufanisticamente sua bandeira às suas vitórias...

Bem... Aí, um exame surpresa acusa aquilo que todos teimavam em não querer ver e... O mundo lhe cai sobre a cabeça! As mesmas pessoas que o glorificavam, agora lhe apontam o dedo acusando-o do crime mais vil: O uso do doping? Não! Ter se deixado pegar em flagrante, dando visibilidade a uma realidade que desejam mascarar, isso sim...

Qual realidade? A única, insofismável: O doping não é manifestação patológica do esporte de alto rendimento e sim parte constitutiva de sua lógica.

É isso. Simplesmente isso... O Esporte é uma prática social, portanto produto do trabalho humano, que traz em sua materialização as intencionalidades definidoras de nossas ações, as quais se dão em um determinado contexto e momento histórico. Neste ordenamento societário pautado pela exploração do Homem pelo Homem, somente a hipocrisia explica o ar de espanto e surpresa de muitos desavergonhados.

Comentários

Por Rafael Moreno Castellani
em 16 de Janeiro de 2013 às 13:23.

Companheiro... Muito bom o texto! Gostei

Sabemos que é um tema complexo e polêmico, mas foi muito bem analisado por vc.

Gostaria de destacar dois trechos do seu texto: Um deles, vc mesmo deu o destaque merecido ao longo do texto. 

"O doping não é manifestação patológica do esporte de alto rendimento e sim parte constitutiva de sua lógica."

O outro retrata sua compreensão sobre o esporte, fundamental, no meu entendimento, para sua análise:

"O Esporte é uma prática social, portanto produto do trabalho humano, que traz em sua materialização as intencionalidades definidoras de nossas ações, as quais se dão em um determinado contexto e momento histórico."

Abração!

 

Por Antonio Carlos Bramante
em 16 de Janeiro de 2013 às 17:53.

Muito bom Lino, parabéns pela clareza com que você coloca em debate assunto tão importante, muito descutido e pouco implementado.

Por András Vörös
em 16 de Janeiro de 2013 às 19:14.

Caro Lino !

Muito oportuna a colocação sobre os meios de se conseguir a vitória a qualquer custo. Desde os tempos dos Jogos Espartanos, já se fazia uso de alguns subterfúgios como passar óleo no corpo como forma de evitar a “pegada” na luta Greco Romana, ou tomando hidromel para aumentar a confiança. O combatente sempre buscou novas artimanhas para sempre se sair melhor que seu opositor, quer seja ele profissional (soldado ou gladiador) ou apenas um cidadão defensor de sua polis!

Mesmo decorridos séculos de história e provável evolução da humanidade, pouco mudou,  pois os gladiadores contemporâneos pós-modernos continuam buscando novas formas de se tornarem Semideuses, quase imortais, lançam  mão de todas as maneiras de serem os melhores e únicos. Em busca de lucro e reconhecimento.

Cabe lembrar que os atletas olímpicos de hoje são profissionais, portanto a busca do resultado a qualquer custo é válida.

A Fórmula 1 é o maior laboratório de pesquisas e inovações na área automobilística, assim como o motociclismo e muitos outros esportes de aventura, além de que a observação de  respostas fisiológicas de cada atleta é oportuna para o desenvolvimento da medicina e saúde da população. O dopping é uma forma de se pesquisar novos componentes químicos, nutricionais e fisioterápicos  que poderão ser utilizados para tratamento de várias morbidades. Esportistas que se propõe ao uso de qualquer substância poderão ser considerados cobaias humanas e reconhecidos pelos seus serviços à humanidade no terceiro milênio.

Sem dúvida a sociedade contemporânea e os que lucram com os institutos de controle de dopping são os principais interessados na sua proibição.....mas, nós pobres cidadãos e mortais pouco importa neste grande circo!

 

PS: seria oportuno abrir essa discussão em outras comunidades, além dos tocadores !!!

Por Lino Castellani Filho
em 17 de Janeiro de 2013 às 13:02.

Prezado András

Em seus comentários acima, me chamou atenção a frase "Cabe lembrar que os atletas olímpicos de hoje são profissionais, portanto a busca de resultado a qualquer custo é válida".

Pois foi exatamente isso que quiz denunciar... Em nosso modelo societário o que importa é vencer, não interessa como... Diante dessa constatação nos vemos diante da tese de reforçarmos tal modelo ou irmos de encontro a ele, buscando construir um modelo societário onde os fins não justifiquem os meios.

Em outras palavras... O Esporte educa, sempre... Seja no sentido da pura e simples adaptação ao status quo, seja na direção de sua transformação. Fica a pergunta: Qual das duas possibilidades se fará presente em minha intervenção profissional no trato com ele, Esporte?

Quanto ao seu lembrete final, penso caber aos "tocadores" de cada comunidade levar ou não para elas o que aqui é debatido.

Abraços

Lino

 


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