Grandes campeões
21/7/2009

Agência FAPESP – Ricardo Prado é um dos grandes nomes da natação brasileira. Medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, foi recordista mundial dos 400 metros medley. A marca foi conquistada em 1982, quando tinha apenas 17 anos.

Com 1,68 metro de altura, Prado era menor que os adversários da época. Mas atualmente sua altura seria ainda mais incomum. Nos Jogos de Pequim, a regra era a presença de atletas muito mais altos, como o norte-americano Michael Phelps (1,93 metro), o brasileiro César Cielo Filho (1,96 metro) ou francês Alain Bernard (2,01 metro).

Os atletas parecem estar cada vez maiores. E, pelo visto, estão mesmo. Segundo uma pesquisa feita na Universidade Duke, nos Estados Unidos, o aumento no tamanho de nadadores e velocistas de elite nos últimos cem anos foi muito maior do que o verificado na população normal.

De acordo com os autores do estudo, o padrão de crescimento dos atletas pode ser previsto por meio da teoria construtal, criada há 13 anos por Adrian Bejan, professor de engenharia mecânica em Duke. Inspirada na natureza, a teoria ajuda a explicar fenômenos diversos como a formação da bacia de rios ou a estrutura capilar em raízes de árvores.

No estudo, publicado pelo Journal of Experimental Biology, Bejan e seu aluno Jordan Charles reuniram dados das alturas e pesos dos recordistas mundiais nos 100 metros rasos (atletismo) e 100 metros livre (natação). O aumento em altura dos atletas foi relacionado aos seus tempos.

“A tendência revelada pela análise sugere que esses recordes de velocidade continuarão a ser dominados por atletas mais altos e mais pesados. Achamos que isso se deve às regras construtais da locomoção animal e não ao aumento contemporâneo na altura média dos humanos”, disse Charles.

Enquanto a altura média do homem aumentou 4,82 centímetros desde 1900, os nadadores recordistas dos 100 metros estão 11,43 centímetros maiores. O aumento dos velocistas foi ainda maior: 16,25 centímetros.

As regras teóricas da locomoção animal apontam que em geral os exemplares maiores devem ser mais rápidos do que os menores. Na teoria construtal, Bejan relaciona as três formas de locomoção animal – correr, nadar e voar – e argumenta que todas envolvem duas forças básicas: levantar peso verticalmente e superar o empuxo horizontalmente. Com isso, elas poderia ser descritas pelas mesmas fórmulas matemáticas.

Com tais fórmulas, é possível estimar as velocidades dos atletas durante os impérios grego e romano, por exemplo. “Na Antiguidade, as massas corporais eram, grosso modo, cerca de 70% das atuais. Ao usarmos a teoria construtal, verificamos que seriam precisos 14 segundos para completar os 100 metros que hoje são vencidos em menos de 10 segundos”, disse Charles.

Segundo o cientista, essa nova maneira de analisar movimentos e tamanhos valida uma prática entre os nadadores, apesar de por motivo adverso. Os treinadores condicionam os atletas a tirar o corpo o máximo que conseguirem fora da água a cada braçada, de modo a ganhar velocidade.

“Achava-se que o nadador experimentaria menos resistência no ar do que na água. Entretanto, quando o corpo está mais acima da superfície, ele cai mais rapidamente e mais para a frente na água. A onde maior resultante é mais rápida e empurra o corpo para a frente. Quanto maior o nadador, maior o efeito. O conselho era bom, o motivo é que estava errado”, disse.

Para Charles, como a tendência do aumento no tamanho dos atletas de elite deve se manter, pode ocorrer com a natação e com as provas de velocidade no atletismo, no futuro, uma divisão por altura e peso, tal qual ocorre há tempos com outros esportes, como boxe ou levantamento de peso.

O artigo The evolution of speed, size and shape in modern athletics, de Jordan Charles e Adrian Bejan, pode ser lido por assinantes do Journal of Experimental Biology em http://jeb.biologists.org.

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