Resumo

O presente trabalho de pesquisa é uma continuidade do estudo que realizei em torno da prática pedagógica dos mestres de karatê (LOPES, 2002). O interesse pela construção de uma prática emancipatória para o ensino do karatê foi a principal motivação para a realização deste estudo. Com a intenção de aprofundar-me para compreender melhor sobre esta temática e a busca por possíveis indicadores que permitam a transformação didático-pedagógica do karatê procurei enfocar esta pesquisa em torno dos saberes docentes mobilizados pelos mestres para ensinar. A problemática deste trabalho foi orientada para responder as seguintes questões: quais são as características e as fontes dos saberes docentes mobilizados concretamente pelos mestres de karatê para ensinar? Em que medida os valores do esporte e o raciocínio de tipo tradicional dos mestres limitam as possibilidades de repensar acerca da atual prática pedagógica? Como poderiam ser mobilizados princípios crítico-emancipatórios na prática pedagógica do karatê para uma ação transformadora? Para isso, foi utilizado como referencial teórico as categorias dos saberes docentes construídos por Tardif (2002) e Gauthier et. al. (2006) com as devidas mediações para a análise no contexto da prática pedagógica dos mestres que atuam nas academias de karatê. Os pressupostos teóricos e instrumentais da pesquisa-ação baseados em Thiollent (1988) foi o método investigativo utilizado para realizar este estudo. Os resultados puderam evidenciar que as características dos saberes operacionalizados pelos mestres de karatê na prática pedagógica são de natureza disciplinar, curricular, experiencial e da tradição pedagógica. Os saberes adquiridos pelos mestres enquanto aprendiz de karatê serão embrionários para constituir em objeto de ação-reflexão-ação do mestre para operacionalizar na prática pedagógica. No saber da tradição pedagógica dos mestres está contido saberes disciplinares e curriculares nos quais serão primários para mobilizar na prática pedagógica. A posição de docente dos mestres é marcada por críticas e continuidade dos costumes aprendidos nas experiências como discente. É neste aspecto que reside o processo de transformação dos saberes docentes dos mestres para remodelar as diretrizes pedagógicas e construir os saberes experienciais. As limitações para a transformação da prática pedagógica parecem estar inseridas na compreensão dos mestres, alunos e pais dos alunos em torno dos fundamentos do karatê e dos processos de ensino. Por fim, entendo que o exercício reflexivo sobre os saberes docentes e a reconstrução pelo mestre em torno da própria prática precisa ser entendida como uma tarefa contínua. O desafio parece estar em reconstruí-la à luz dos princípios emancipatórios da pedagogia histórico-crítica.