Resumo

Esta pesquisa tem como objetivos: compreender de que maneira são estabelecidas as interações de anfitriões e hóspedes em hostels de Belo Horizonte-MG, identificar as motivações e percepções desses sujeitos em relação a este meio de hospedagem e investigar de que forma as práticas de lazer se manifestam nestes contextos. A metodologia, de natureza qualitativa, envolveu pesquisa de campo em três hostels da cidade de Belo Horizonte, sendo estes selecionados por critérios previamente estipulados. Além da estratégia de observação, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 24 sujeitos, sendo 18 hóspedes e 6 anfitriões. Os dados coletados foram sistematizados e analisados por meio da análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), sendo esta técnica complementada e enriquecida com o auxílio do software Nvivo. Os resultados da pesquisa evidenciaram que as interações humanas em hostel são a base mobilizadora de experiências dentro dos espaços investigados. As relações entre hóspedes e destes com anfitriões são tecidas por meio de laços afetivos, amizade, retribuições e aprendizados, disparando assim um fluxo cotidiano de novas práxis e tramas associadas ao lazer e à hospitalidade. Uma manifestação do lazer que ficou em evidência foram as conversações dos sujeitos durante a estadia no hostel, alicerçadas nas festas, celebrações e variadas formas de sociabilidade e experiências, inclusive o consumo de práticas consideradas ilícitas, como o uso da maconha. O predomínio da hospitalidade doméstica, conjugada à comercial, descortinou o hibridismo do fenômeno no contexto investigado, possibilitando ampliar as discussões sobre o tema, dado o embrionário debate no que se refere à manifestação da dádiva em contextos comerciais. Os anfitriões entrevistados acreditam que a forma de tratamento desempenhada no hostel está associada ao seu perfil hospitaleiro, seja como profissional e/ou como pessoa, revelando a predileção e vocação pelo servir, bem como traços de personalidade hospitaleira. Isso coloca em evidência o papel imprescindível de anfitriões para a concretização da hospitalidade genuína nos hostels, não se resumindo, portanto, a um mero exercício cênico nesse contexto. A percepção do hostel como “casa” é reconhecida tanto por anfitriões como hóspedes, assim como a possibilidade de conhecer e interagir com pessoas e culturas distintas, que são aspectos constituintes da motivação dos sujeitos em relação a este tipo de hospedagem. No entanto, este cenário não está isento de tensionamentos, conflitos e paradoxos, indicando que os principais se referem aos ruídos, à desordem verificada nos quartos e na cozinha, dificuldades relacionadas ao uso coletivo do banheiro, a nudez e a intimidade sexual que tensionam a privacidade, sobretudo, nos quartos compartilhados, gerando desconfortos e constrangimentos em alguns hóspedes e desafios para os anfitriões. Conclui-se que as interações humanas no contexto hosteleiro são protagonizadas por hóspedes e anfitriões, que, de maneira subjetiva, vivenciam e dão vida à dinâmica cotidiana de um hostel por meio de incontáveis práticas e infindáveis experiências.

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