Resumo

O embrião desta pesquisa teve início no ano de 2019, quando na condição de
professor de educação física do IFCE - Campus Boa Viagem, tomei conhecimento e
me aproximei do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), núcleo
este que me despertou interesse em pesquisar e aprofundar estudos sobre
Educação para as Relações Étnico-Raciais – ERER no contexto da educação física.
Inicialmente, tive dificuldades em relacionar os dois temas, haja vista os processos
de apagamento e branqueamento que a educação física brasileira passou e em
muitos casos ainda passa. Minha formação inicial ocorreu entre os anos de 2007 e
2011, quando cursei a Licenciatura em Educação Física no IFCE - Campus de
Juazeiro do Norte, período este destinado à formação inicial para docência, porém,
que não ocorreram momentos dedicados ao ensino e aprendizagem das questões
relativas a história e a cultura afro-brasileira, em nenhuma das disciplinas ofertadas
no currículo, mesmo considerando-se o decurso de tempo de pelo menos oito anos
da aprovação da Lei nº 10639/03. As políticas afirmativas, como por exemplo, as
cotas raciais, foram positivas para o fortalecimento dos núcleos de estudos afro-
brasileiros e indígenas, haja vista que mais docentes negros puderam ocupar estes
espaços, os quais, podem dar importante parcela de contribuição para a construção
de outro tipo de educação, uma educação antirracista. A vista disso, o objetivo deste
trabalho foi compreender o atual processo de formação inicial dos estudantes
concludentes do Curso de Licenciatura em Educação Física, no que concerne a
formação para as relações étnico-raciais no Instituto Federal do Ceará - Campus
Juazeiro do Norte e a contribuição das pessoas envolvidas com os núcleos de
estudos relacionados a temática étnico-racial. Para a realização da pesquisa
buscou-se inicialmente identificar os docentes e discentes da área de Educação
Física que ocuparam/ocupam espaços estratégicos para pensar o currículo da
licenciatura no Campus. O procedimento metodológico se deu com base em estudo
bibliográfico e entrevistas semiestruturadas com dois professores de Educação
Física, o primeiro, atual coordenador do curso, e o segundo o atual coordenador do
Núcleo de estudos afro-brasileiro e indígena. Foram entrevistados ainda dois
discentes, em fase de conclusão do curso (na data desta pesquisa) e que fizeram
parte do primeiro núcleo de estudos relacionado à temática. Para a análise dos
dados obtidos, utilizou-se a análise de conteúdo destacando as seguintes
categorias: identidade étnico-racial; formação docente (formação inicial e formação
continuada) e diversidade étnico-racial nos espaços institucionais. Os resultados
revelaram que as ações pedagógicas que buscam espaço para discussão sobre a
diversidade étnico-racial no currículo do Curso de Educação Física, no Campus
Juazeiro, ocorrem precipuamente devido ao esforço de um docente negro, ligado ao
no movimento negro caririense, que com apoio dos dois estudantes, criaram um
núcleo de investigação étnico-racial, de maneira autônoma e tensionaram espaço no
currículo. Por fim, concluímos que a tardia, tímida e lenta implementação da Lei nº
10639/03, em especial em um curso de Licenciatura em Educação Física é um
aspecto que precisa ser modificado, se quisermos construir uma educação
verdadeiramente crítica e reflexiva.
 

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