Editora Cortez. Brasil 1999. 519 páginas.

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APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA

A UNESCO Brasil, no marco das prioridades da Organização de proporcionar a todas as crianças e jovens condições para atender às necessidades bá- sicas de aprendizagem e de educação, tem procurado dispensar atenção especial ao papel da mídia na formação da personalidade e no desenvolvimento integral da pessoa humana. Se, por um lado, as novas tecnologias oferecem alternativas sem precedentes de acesso ao conhecimento, por outro lado, nem sempre elas são utilizadas com o devido respaldo ético. É incomensurável o poder dos novos meios de comunicação coletiva, nisso residindo também o perigo que encerram.

Assim sendo, diante do impacto das tecnologias de informação e comunicação em todos os setores das atividades humanas, torna-se cada vez mais necessário que as instituições escolares se preocupem em analisar os seus efeitos no processo de socialização de crianças e jovens. Mais do que isso, torna-se necessário promover de forma permanente uma educação para a mídia, preparando os estudantes para se defender das ciladas, perigos e armadilhas da mídia a que se refere Henrikas Yushkiavitshus no prefácio deste livro.

É certo que as escolas não dispõem ainda de meios para assumir mais essa responsabilidade. Todavia, devido à magnitude do problema, importa promover o debate e divulgar pesquisas e experiências sobre a educação para a mídia. Sob esse aspecto, estou seguro de que o livro organizado por Cecilia von Feilitzen e Ulla Carlsson preenche esse objetivo. Ele reúne estudos, reflexões, resultados de pesquisas e experiências escritos por especialistas e educadores de vários países e sobre diferentes contextos sociais, configurando-se como uma contribuição de qualidade para assegurar, como afirma a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, o direito da criança à informação.

Se, como afirma com propriedade Cecilia von Feilitzen, a educação para a mídia não pode, de acordo com os direitos da criança, protegê-las de certos conteúdos dos meios de comunicação coletiva, pode, no entanto, evitar exageros que comprometem ainda mais a crise moral do nosso tempo. A educação para 12 a mídia deve implicar uma tentativa para reorientar ou mudar o conteúdo de sua produção, por intermédio da própria produção e participação infantil, uma vez que a participação na mídia é uma forma de o indivíduo expressar suas opiniões sobre aquilo que o afeta.

É fundamental o envolvimento da família e da comunidade na discussão do conteúdo da mídia, como é indispensável a discussão pelas escolas dos efeitos da mídia. A formação de uma mentalidade crítica constitui condição fundamental para a reeducação da mídia. Sem essa consciência, não será possível desenvolver a capacidade de discernir e de perceber o sentido de uma mensagem. Por outro lado, desenvolver nos alunos a capacidade de discernimento concorre para fazer ver aos produtores e responsáveis pela veiculação de alcance coletivo que a mídia é um bem público e, como tal, precisa levar em conta os valores éticos e as aspirações de uma determinada sociedade.

A rigor, a nova ética que se reivindica para o século XXI requer a participação coletiva. A mídia, pelo poder que possui, tem responsabilidade no delineamento das futuras sociedades. Para tanto, precisamos construir em conjunto um consenso de auto-regulação ética. A educação para a mídia certamente dará uma contribuição importante nessa direção. Jorge Werthein Diretor da UNESCO no Brasil

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