A Cura Pelas Práticas de Lazer no Sesc São Paulo
Por Rodrigo Valentim Chiquetto (Autor), Mariana Hangai Nogueira (Autor), Enrico Spaggiari (Autor).
Resumo
Este trabalho é parte da pesquisa “Cultura e Lazer: práticas físico-esportivas dos frequentadores do SESC em São Paulo”. Realizada a partir de uma parceria entre o Centro de Pesquisa e Formação do SESC/SP, o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea e o Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, a pesquisa buscou observar as diversas motivações que levavam os diferentes frequentadores do SESC a utilizarem tal equipamento. Ela teve duas fases: em 2015 foram realizadas incursões a campo em seis unidades SESC da cidade de São Paulo, uma do interior, uma do ABC Paulista e uma do litoral; em 2017 foram realizadas incursões em seis unidades do interior de São Paulo. Os pesquisadores visitaram, portanto, quinze unidades SESC, coletando dados sobre os frequentadores da capital e do interior. Nesta pesquisa, o Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana ficou responsável por realizar uma análise a partir da metodologia etnográfica. Foram observados, portanto, os diversos usos e contra usos realizados pelos frequentadores das diferentes unidades, bem como suas diferentes estratégias, percepções e motivações para ir ao SESC. Alguns temas se destacaram nas análises: A relação entre os diferentes SESCs e seus entornos – ou como os diversos frequentadores circulavam pelas unidades e outros equipamentos locais; as questões geracionais que perpassavam as diversas formas de se frequentar as unidades; as diferentes percepções dos frequentadores sobre o programa “SESC Verão”; as relações de pertencimento e acolhimento estabelecidas entre os frequentadores do SESC e a instituição, entre outras questões. Foi nesse último tópico que a dimensão da cura apareceu como fundamental para se debater as relações entre o SESC e seus frequentadores. Ficou claro, no curso da pesquisa etnográfica, que o SESC aparecia, para muitos de seus frequentadores, como um local em que era possível de se estabelecer relações de cura. Muitos daqueles que iam ao SESC o faziam por recomendação médica, para realizarem algum tipo de exercício físico que favorecesse a cura de alguma doença. No entanto, era comum que essa relação simples de cura corporal logo fosse extrapolada para novos processos de cura mental. Eram usuais os relatos de frequentadores que, no ambiente do SESC, podiam entrar em contato profundamente consigo mesmos, ao praticarem exercícios físicos e outras atividades – como o nado, a ginástica e a leitura – em que pudessem “esvaziar a mente”, desligar-se da vida cotidiana. Eram recorrentes, também, os relatos daqueles que, a partir da convivência frequente com outras pessoas nas diversas atividades do SESC, estabeleciam novos laços sociais que passavam a dar significado para sua vida cotidiana. Essa frequente atitude de “fazer o social” era fundamental para que muitos ali – principalmente os mais idosos – se sentissem acolhidos na instituição e experimentassem um verdadeiro processo de cura psíquica. Tais processos de cura, assim, vinculavam-se profundamente às atividades de lazer que os frequentadores do SESC realizavam em seu cotidiano e faziam com que tais atividades deixassem de ter um caráter meramente de relaxamento ou entretenimento, passando a carregar um significado muito mais profundo.