Resumo
Este texto faz uma síntese dos estudos desenvolvidos na pesquisa Produção do corpo-sujeito em práticas de dança, com recorte em um parâmetro de análise que reiteradamente emerge da investigação, denominado entre. O trabalho apresenta três práticas, nas quais o entre é discutido de três diferentes maneiras. Na primeira, o processo de criação da obra cênica Axêro, entre é a posição da diretora cênica ao criar: a encruzilhada, um lugar entre epistemologias, entre caminhos e entre diferentes dimensões (do concreto e do sagrado). É nesse entre que se funda a visibilização de culturas oprimidas e produção de corpos anti-racistas. Na segunda prática, a pesquisa Estudos da presença: práticas (per)formativas na formação em Artes Cênicas, foi desenvolvida na Rede Internacional de Estudos da Presença. Nesse contexto, ao buscar características comuns em diversas práticas, o entre é apontado como um dos elementos fundamentais, constitutivos dessas práticas, na produção de corpos antifascistas. A terceira prática, a obra cênica Quando Você me Toca, o entre é disparador e efeito de dança. Identifica-se, nesse caso, uma dramaturgia que é construída a partir do efeito do tato, desse lugar entre peles. Cada uma das análises faz a discussão com diferentes enfoques, demandados por aquilo que se evidencia em cada processo artístico e, portanto, traz para a discussão, diferentes autores e referenciais teóricos. Há, entretanto, uma perspectiva que coaduna a reflexão: a compreensão das práticas como performance (estudos da performance) e como produção de corpos-sujeitos (estudos foucaultianos). O destaque do entre nesses processos, contribui para a suspensão de conceitos de dança naturalizados e propõem um deslocamento da questão “o que é dança?”. Pergunta-se, então: se nesse momento não interessa perguntar “o que é dança?”, o que interessa perguntar? Este texto afirma que interessa discutir condutas e relações em dança que produzem corpos-sujeitos e modos de vida.