Resumo

Este estudo aborda a presença da Educação Física Desportiva Generalizada (EFDG) no Brasil nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Reconhecida a partir dos anos de 1950 como método de ensino partícipe de uma renovação pedagógica pretendida pela área, a EFDG tornou-se tópico recorrente de ensino, publicações e debates nos espaços de formação e atuação do professorado. Para a escrita dessa história, buscou-se compreender como os princípios e as ideias pedagógicas concernentes à EFDG circularam e foram apropriados no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950, sobretudo no que tange à formação de professores. Interessou também conhecer as maneiras pelas quais essa forma de organização de ensino se tornou referência metodológica para a Educação Física brasileira nas décadas de 1950, 1960 e 1970, bem como perceber suas possíveis transformações ao longo desse período. A motivação deste estudo se deu pelo reconhecimento de que as representações referentes à EFDG, construídas na educação brasileira, estavam balizadas por duas perspectivas. Uma primeira, que a caracterizava como propulsora do início da esportivização da Educação Física escolar e uma segunda, que a entendia como método renovador, ou seja, como reação contra velhos métodos ginásticos até então em voga no Brasil. Tais representações chamaram atenção para refletir sobre a importância conferida à EFDG na conformação do campo escolar da Educação Física brasileira e sobre o papel do professor Auguste Listello, autor e mediador da proposta, na sua circulação e apropriação. Na construção narrativa, o debate relativo à atualização e ampliação dos conhecimentos dos professores na década de 1950 apresentou-se como possibilidade de fazer desenvolver e modernizar a Educação Física brasileira, provocando na área o desejo de produzir e/ou procurar novos métodos de ensino que pudessem contribuir com esse processo. Nesse movimento, a EFDG se apresentou como referência importante, dada sua vinculação com a Educação Física francesa. A centralidade do esporte nessa proposta também se mostrou um diferencial: com seus códigos e modos de ação o esporte foi gradativamente assumindo lugar de destaque nesse projeto, pois anunciava valores caros à configuração da área naquele período como senso de coletividade, disciplina corporal e eficiência. O professor Auguste Listello foi também de suma importância. A ação desse sujeito e o seu entendimento como mediador permitiram também pensar as práticas de transformação realizadas a partir do encontro entre uma proposta de ensino da Educação Física elaborada na França e o contexto educacional brasileiro. Foi possível perceber permanências e transformações da proposta ao longo desses quase 30 anos, como resultado de um movimento de troca de ideias e experiências entre a Educação Física brasileira e o representante da EFDG, Auguste Listello. Dessa forma, as representações produzidas e postas em circulação sobre EFDG foram identificadas, ao mesmo tempo, como produto cultural e como produtora de significados do processo de constituição do campo no período analisado. Como vestígio desse movimento de troca estão a produção e a publicação do livro denominado Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer (1979), de autoria de Auguste Listello, elaborado especialmente para o professorado brasileiro.

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