Resumo
Na elaboração de novas políticas educacionais a partir da segunda década do século XX, identifica-se a crescente preocupação com os aspectos somáticos na formação dos sujeitos escolares. As teorias pedagógicas em voga defendiam que um corpo saudável seria o índice de uma estrutura psíquica igualmente sã, livre de taras e disposta a cumprir a função social que lhe era atribuído. Ao encontrar na gestão da vida do indivíduo uma forma de intervir nos processos ao nível populacional, as ações políticas do início do século passam a caracterizarse como um biopoder, potencializando a disciplina, gerindo formas de administrar a energia para o trabalho, mas também exacerbando sua atenção sobre os níveis mais elementares dos processos da vida: a saúde, a satisfação, o nascimento etc. Esta última forma, denominada de biopolítica, destinada a produzir forças e ordená-las, pode ser identificada nos esforços de modelação dos corpos infantis e das condutas, tornada função primordial da escola nos anos de 1930 no Brasil. A instituição escolar foi encarada como o espaço no qual se deveria instilar “bons hábitos”, vigor, saúde e normatizar a vida, de forma que a longo prazo e com as técnicas adequadas as condutas desejadas tornar-se-iam uma estrutura incorporada, parte da “natureza” dos sujeitos. Muitas foram as medidas mobilizadas nesse sentido, mas interessa ao escopo desse trabalho a formulação de propostas para a Educação Física Escolar, a construção de um espaço de formação para esses professores, os debates em torno do método a ser adotado e, ainda, a função exercida pelos jogos e esportes nos programas da disciplina no estado de Santa Catarina. Percebe-se aí uma configuração específica que dá origem aos planos de modernização do Estado por meio da escola e que fez uso da disciplina de Educação Física como um eixo viável de realização das suas ambições, dentre elas, a modelação de condutas, a higienização dos hábitos e a automatização do controle, fazendo ecoar para a vida privada os ensinamentos da escola.