Resumo
Este estudo surge pela vivência anterior em uma das escolas públicas do município de Santo André, Região do Grande ABC de São Paulo, onde detectou-se que das 44 escolas existentes na rede, apenas 10 contavam com professor de Educação Física (especialista na área), sendo que nas demais 34 o professor regente da sala (polivalente) era o responsável por essas aulas. Tal circunstância suscitou alguns questionamentos acerca da organização dessas aulas de Educação Física ministradas tanto pelos professores polivalentes como pelos especialistas. Assim, o objetivo desta pesquisa qualitativa, do tipo descritiva, é verificar como se dá a organização das aulas de Educação Física nas séries da fase inicial do Ensino Fundamental, das escolas públicas municipais de Santo André, descritas a partir da visão dos professores polivalentes. Para tanto, em um primeiro momento, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre: as teorias que pudessem levar a uma compreensão das normas que permeiam tanto a Educação Física, como o Ensino Fundamental, bem como as suas relações; os estudos específicos sobre as características físicas, cognitivas e sócio-afetivas das crianças na faixa etária dos seis aos dez anos, visando compreender quem são essas crianças, suas necessidades e interesses como um ser global que faz, pensa, sente e interage; e, a partir desses trabalhos, identificar questões voltadas à prática da Educação Física na fase inicial do Ensino Fundamental, visando detectar aspectos coerentes que pudessem justificar a importância das atividades para essa etapa do ensino. Este estudo contou com a participação de 28 escolas e 143 professores polivalentes, os quais responderam a questionários fechados (levantamento da identificação dos professores, infra-estrutura e recursos materiais das escolas) e abertos (organização das aulas de Educação Física). As informações do questionário fechado permitiriam uma verificação da realidade nas escolas, mas, principalmente, um elemento adicional para a compreensão das respostas a pergunta aberta, a qual foi analisada com base nos estudos de Bardin (1977) e permitiu a discussão de alguns pontos sobre as aulas de Educação Física, tais como: freqüência e duração; atividades desenvolvidas; participação e interesse dos alunos; falta de espaço e/ ou material; falta de sistematização e conhecimento sobre a área culminando nas dificuldades dos professores polivalentes, na não realização dessas aulas e na valorização do professor especialista. Conclui-se que a realidade encontrada é tanto de responsabilidade do Sistema que não promove capacitações aos professores polivalentes, já que atribuíram uma função, mas não se preocuparam com a instrumentalização dos docentes, como dos próprios professores polivalentes que não buscam informações e alternativas para melhorar suas aulas, principalmente, pela não especialização na área. Assim, pressupõe-se que a contratação de professores de Educação Física pudesse minimizar essas questões, desde que esses docentes estivessem, de fato, comprometidos com suas aulas e alunos.