Resumo

Este trabalho versa sobre o processo de escolarização dos exercícios físicos e da ginástica no ensino público primário ofertado em alguns Estados brasileiros, quais sejam: Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, neste último notadamente na cidade do Rio de Janeiro, município da Corte e Capital Federal. Compreendendo um período que vai das duas últimas décadas dos oitocentos ao primeiro quartel do século XX, visa entender como a escolarização dos exercícios físicos e da ginástica incluindo a adoção, aquisição e circulação de manuais de ginástica contribuiu para a constituição da Educação Física como disciplina escolar, bem como as mudanças e permanências que marcaram sua trajetória no currículo. Para isso, além dos manuais de ginástica, também foram mobilizadas fontes como relatórios da instrução pública; a legislação do ensino; ofícios e correspondências de governo; inventários escolares; notas de compra e venda; periódicos da época; entre outras. A análise dos manuais fundamenta-se no conceito de fundo comum formulado por Stella Bresciani (2004), bem como nas observações de Alain Choppin (2000 e 2004), levando em consideração tanto as características próprias do livro, quanto às características pedagógicas. Inserido no âmbito da história das disciplinas escolares, também fundamenta-se nos estudos sobre a construção social do currículo de Ivor Goodson (1995a, 1995b e 2000) e nos trabalhos de Antonio Viñao (2008), André Chervel (1990) e Dominique Juliá (2002). A análise da documentação possibilitou identificar os diferentes entendimentos sobre a educação física, o ensino da ginástica e a prática de exercícios físicos nas escolas, assim como alguns dos argumentos usados na época em defesa (ou não) da exercitação física dos escolares. Possibilitou ainda verificar quem foram os autores dos manuais adotados em cada um dos Estados, o contexto de produção e a circulação desses livros, além das finalidades atribuídas à educação física e à ginástica. Os conteúdos selecionados e os métodos de ensino foram analisados cotejando os programas de ensino oficiais, levando em consideração à forma como a ginástica e os exercícios físicos deveriam ser organizados nas escolas, ou seja, as recomendações quanto ao emprego do tempo, a configuração dos espaços e as observações sobre o vestuário. Na falta de formação específica, destaca-se a contribuição dos manuais de ginástica como ferramentas pedagógicas importantes ao subsidiarem o trabalho dos professores. Observa-se a preocupação em promover a educação intelectual sem descuidar da educação física, respeitando o equilíbrio das forças, isto é, a harmonia entre a atividade do espírito e a atividade do corpo. Destaca-se ainda a importância da educação física não apenas para promover a saúde e garantir o vigor das novas gerações, mas também para formar o caráter, moralizar os costumes e educar a vontade. Com efeito, também é notória uma aproximação entre educação física e educação moral, reconhecendo a contribuição da primeira para o forjar de uma nova sensibilidade moral e cívica.

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