Integra
Pedi autorização pra publicar essa conversa privada com o jornalista Breiller Pires. Ele concordou. Agradeço.
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CEV - Tenho batalhado (sem êxito) no ultimo meio século pelo direito da criança brincar. Através da Educação Física. Temos um megafone na área, o Centro Esportivo Virtual, e os seus artigos têm sido inspiradores nessa nossa intenção. Acho que a audiência em Brasilia pegou mais firme - como deveria - na exploração sexual no esporte, mas meu sonho de consumo é processar pais, dirigentes e treinadores que exploram crianças através da caça predatória ao talento e a busca de rendimento. Eu gostaria de juntar os soldados dessa batalha (não sei como nem onde)
BREILLER - Concordo com seu ponto, Laercio. Esporte deveria ser espaço para a criança brincar, não se desenvolver como mercadoria. O entendimento para muitos, no entanto, é o inverso. Há pouco tempo, por exemplo, um juiz do Rio deu sentença favorável ao Flamengo no caso do incêndio por entender que categorias de base possuem "caráter recreativo". É uma longa batalha a ser travada. Nessas apurações de matérias, até hoje só deparei com duas instituições que realmente desenvolvem trabalhos sérios e permanentes no campo da proteção integral de direitos da criança e do adolescente no esporte: MPT e Childhood, que, inclusive, está com um projeto para colocar em marcha no ano que vem. Pode ser uma boa interlocução para sua frente de trabalho. Se precisar, te mando contato de uma consultora deles. Fora isso, apenas iniciativas isoladas de pessoas que, assim como você, também enxergam a violação de direitos infantojuvenis no alto rendimento como um problema a ser enfrentado.
Alguns deputados estão articulando uma frente parlamentar em Brasília para defender direitos da criança no esporte, mas, pelo que sei, até o momento, têm pouca adesão e poder de influência para colocar o tema na ordem de prioridades do Congresso. Por isso, os raros projetos direcionados à área acabam engavetados. Talvez um caminho seja buscar a formação de uma rede de juristas, incluindo procuradores do MPT, para ações coletivas contra clubes e federações. Entendo que os pais muitas vezes são responsáveis por permitir que os filhos iniciem tão precocemente no alto rendimento, mas, por outro lado, na maioria dos casos, a família acaba sendo vítima dessa indústria que vende sonhos e promessas irreais. A grande responsabilidade deve ser atribuída às instituições que exploram. E ao Estado que, através da rede de proteção da criança, não cumpre seu papel fiscalizador e garantidor de direitos dos jovens esportistas.
Abraço
Breiller