Resumo

À luz de conceitos teóricos que cercam o fronteiriço gênero da crônica, o complexo fenômeno da ficção e os discursos literário e jornalístico, este trabalho tem como principal proposta identificar e analisar os processos de ficcionalização em crônicas esportivas, com base no cotejamento da produção de dois cronistas de tempos distintos. Nelson Rodrigues e Chico Bicudo estão separados por mais de seis décadas, porém, guardam semelhanças por terem sido testemunhas vívidas dos dois maiores vexames da história de nosso futebol: as indeléveis derrotas da seleção nas Copas do Mundo de 1950 e 2014. Baseada nesses históricos acontecimentos que se cristalizaram na memória coletiva do povo brasileiro, desencadeando narrativas dramáticas e que, desde então, abarcam uma aura mítica, a dissertação perscruta acerca das nuanças de três elementos ficcionalizantes a oralidade, a hipérbole e a fabulação utilizados pelos dois cronistas na tessitura de seus textos. É importante frisar que a pesquisa não visa a uma distinção qualitativa das produções, mas uma análise comparada no que tange às semelhanças e especificidades de cada um dos escritores em meio à imbricada relação entre fato e ficção que permeia o gênero. Através dessa pesquisa, esperamos contribuir para os caros estudos sobre futebol no Brasil na missão de desmistificá-lo da imagem de ópio das massas, reforçando o seu lugar de autêntico elemento identitário e cultural do povo brasileiro.

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