Resumo
Nesta tese problematizo os processos de (hetero)normalização dos corpos na Educação Física escolar. Para isso, discuto e analiso como e quais processos de normalização do gênero e da sexualidade são postos em movimento no discurso pedagógico de professores/as que atuam na disciplina de Educação Física no Vale do Jiquiriçá/BA, tomando como referências teórico-metodológicas e políticas os estudos feministas, a teoria queer e os estudos foucaultianos pós-estruturalistas. Para compor o corpus da pesquisa, conduzi o trabalho de campo articulando alguns procedimentos metodológicos. Prioritariamente, realizei a pesquisa com docentes que ministravam aulas de Educação Física nas escolas públicas localizadas nos diversos municípios da região investigada. Desse modo, apliquei 28 questionários, organizei um grupo focal com sete participantes e realizei sete entrevistas. De forma complementar, analisei os projetos político-pedagógicos das duas escolas que disponibilizaram o documento. As linhas conceituais definidoras das noções de ‘norma’, ‘gênero’ e ‘heteronormatividade’ foram privilegiadas para explorar os materiais empíricos produzidos. Organizei as análises subsequentes a partir da díade saber-poder, investindo na sua potência organizativa e explicativa para compreender como a (hetero)norma funciona. Argumentei que os discursos biológico-reprodutivos e da educação em saúde circunscrevem o limite do pensável sobre sexualidade na escola a partir de uma lógica preventivo-informativa. Além disso, abordei as músicas do tipo ‘pagode baiano’ como pedagogias culturais que, em conflito com o discurso biológico-etário, visibilizavam conhecimentos ‘avançados’ sobre a sexualidade. No plano estratégico, analisei as feiras e/ou seminários interdisciplinares anuais como pedagogias que operam com ênfase na saúde sexual e reprodutiva de forma articulada ao silenciamento das experiências de desejo dos sujeitos não heterossexuais. Discuti como o gênero binário, em articulação com os discursos regionais, faz funcionar o enunciado “prendam suas bezerras que o meu garrote tá solto”, expresso no rechaço dos meninos ao toque em outros meninos e na naturalização das manifestações de desejo ‘atrevidas’ de meninos em relação às meninas nas aulas de Educação Física. A investigação realizada permite dizer que a heterossexualidade é assumida como medida do conhecimento e o investimento em pedagogias com base no sexo (e no gênero binário) conforma o sujeito (ir)reconhecível e (im)possível da Educação Física escolar.