A História das ONGS: Filantropia e Voluntariado ou Crescente Profissionalização no Campo Esportivo?
Por Isabel Cristina Martines (Autor).
Em XV Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física - CHELEF
Resumo
De um modo generalizado, a sigla ONG (Organização Não Governamental) é utilizada para designar instituições que não pertencem ao governo e que prestam serviços de caráter social, sem fins lucrativos. Nos últimos anos, tem crescido exponencialmente o envolvimento dessas organizações com a oferta de ações no campo esportivo. Contudo, o entendimento do que vem a ser uma ONG ainda é muito abrangente e não existe uma definição clara acerca da consolidação desse campo. Nesse sentido, o presente estudo objetivou mapear, por meio de pesquisa bibliográfica e análise de documentos, as condições históricas que permitiram o surgimento de um setor organizado da sociedade disposto a contribuir com o desenvolvimento social, empregando como referencial teórico para análise os conceitos de Bourdieu (1983). Conforme os trabalhos de Landim (1993), Fernandes (1997), Gohn (1997) e Tavares (1999), a expressão em inglês Non-Governmental Organization (NGO) foi empregada pela primeira vez em documentos da Organização das Nações Unidas, em 1946. Contudo, não é consenso entre os pesquisadores o período em que surgiram tais instituições. Para Tavares (1999), apesar do termo ter aparecido somente no final dos anos 1940, as ONGs não constituem um fenômeno novo, sendo possível encontrar organizações desse tipo instituídas desde os meados do século XVI. O autor afirma que as ONGs não foram propriamente inventadas no século passado, mas passaram a ter um maior destaque e uma participação mais ativa na sociedade principalmente com o início das atividades da ONU. Num sentido inverso, Carvalho (1995) propõe que foi somente por volta dos anos de 1970 que surgiram, nos países altamente industrializados, grupos de pessoas que buscavam responder a determinadas demandas da sociedade que não eram atendidas pelos órgãos estatais e privados. Caminhando nesta direção, indivíduos motivados por sentimentos humanitários e orientados por uma filantropia voluntária, buscavam suprir as necessidades das camadas sociais mais excluídas. Nessa perspectiva, as organizações populares – chamadas de grassroots – se configuraram como a base que passou a criar políticas alternativas às burocracias do Estado. Analisando as diferentes interpretações para o surgimento das ONGS, é possível concluir que comparar as intuições constituídas nos dias atuais com aquelas existentes no século XVI, como na exposição de Tavares (1999), pode ser uma análise precipitada e até mesmo anacrônica. Pois, ainda que já existisse, há bastante tempo, pessoas dispostas a ajudar os menos favorecidos, não é provável que o grupo formado por elas fosse semelhante às ONGs da atualidade. Tal entendimento deriva, primeiramente, do fato de que as instituições de épocas anteriores não tinham as características organizacionais e estruturais das ONGs contemporâneas, haja vista que se antes eram organizações informais, fundadas essencialmente sobre os princípios da filantropia e do voluntariado, hoje é possível afirmar que se tratam de instituições crescentemente profissionalizadas, com capitais e agentes específicos e que ofertam seus projetos e ações com relativa autonomia.
Referências
BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
FERNANDES, Rubem César. Terceiro Setor: desenvolvimento social sustentado. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
GOHN, Maria da Glória. Os sem-terra, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 1997.
LANDIM, Leilah Assumpção. A invenção das ONGs: do serviço invisível à profissão impossível. 239 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1993.
TAVARES, Ricardo Neiva. As Organizações Não-Governamentais nas Nações Unidas. Brasília: Instituto Rio Branco, Fundação Alexandre Gusmão, Centro de Estudos Estratégicos, 1999.