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Essa discussão tem que ser precedida pela constatação de que é inteiramente possível fazer educação a distância (EAD) como profissional, sem ter uma atitude “científica”, isto é, sem se preocupar com uma preparação sistemática e exaustiva no seu trabalho, sem a manutenção de registros analíticos quantitativos e qualitativos das operações, e sem a elaboração de relatórios finais que deixam bem clara o que funciona e não funciona e por quê. Mas não é possível atingir e manter um nível de qualidade por muito tempo porque a improvisação constante, a comunicação oral precária e a dificuldade em poder comparar dados devido à não-sistematização, não permitirão uma compreensão segura do processo, ou sua evolução de forma sustentável.

A “essência da ciência” sempre foi a comunicação entre profissionais, organizados segundo suas áreas de especialização, e reunindo-se presencialmente com regularidade em conferências, congressos e simpósios em escala global e local, bem como nos intervalos destes, usando mídia impressa e eletrônica para intercambiar informação e conhecimento. Tais comunicações são relatórios de pesquisas, outras são experiências significativas ou ensaios teóricos cuja intenção é de adicionar novos dados e novas idéias à área específica, dando celebridade aos pesquisadores/autores e suas instituições. 

As mais antigas sociedades científicas (em inglês chamadas “learned societies”) surgiram na Europa no século 17 para organizar os encontros e as publicações de cada área de conhecimento. Seus membros, através dos diferentes conselhos, comitês e grupos de interesse, determinam a configuração do paradigma da área, isto é, o que pode ser considerado dentro e fora dela, o que pode ser considerado uma “contribuição original”, algo inovador, de qualidade, ou merecedor de premiação. Quem não participa da sociedade científica de sua esfera de atuação dificilmente pode ter um impacto significativo entre os membros da comunidade especializada porque não teria suas idéias corroboradas por seus “pares”, que selecionam as comunicações para as publicações e conclaves das sociedades científicas. 

Enquanto profissionais e acadêmicos na Europa e América do Norte, onde há longa tradição de sociedades científicas, se identificam mais com as associações a qual pertencem mais do que com as instituições nas quais trabalham (e de onde se transferem com freqüência), no Brasil encontramos uma situação inversa, provavelmente devido à relativa incipiência dessas associações no país.

Quais são os benefícios de ser membro ativo da sociedade científica da área de conhecimento na qual se milita? 

- A satisfação de pertencer à comunidade de profissionais da área, conhecendo seus líderes e, se possível, avançando sua carreira pessoal através da participação nos diferentes conselhos e grupos; 

- Ter contato com as mais novas idéias circulando na área de atuação e ter a oportunidade de apresentar, nos eventos dessa comunidade, suas próprias idéias e descobertas; 

- Fazer novas amizades e renovar antigas amizades (“networking”) , uma habilidade profissional importante para o encontro de novas oportunidades de trabalho. 

Associar-se à sociedade científica de sua área não é obrigatório para atuar nela, mas é uma demonstração de que o indivíduo se sente parte de uma comunidade, pagando sua anuidade e contribuindo, com seus esforços, para o crescimento e progresso da área. É o equivalente profissional de ser um bom cidadão. 

Fredric Michael Litto 
Presidente ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância 
21 de janeiro de 2009