Resumo

No campo da Educação, a análise de livros didáticos, revistas, guias curriculares, programas, regulamentos, manuais escolares e coleções dirigidas a professores tem impactado a produção historiográfica brasileira - sobretudo, eles são assumidos como objetos. Essa ênfase permite ao historiador diversificar as suas análises para a multiplicidade de dispositivos materiais, considerados objetos culturais com finalidades específicas (CARVALHO, 2007). Assim, o objetivo deste trabalho é analisar as bases para a elaboração dos programas da Educação Física veiculadas na imprensa periódica de ensino e de técnicas (1932-1960), contribuindo para o seu processo de escolarização. O estudo toma como referência os pressupostos teórico-metodológicos da História Cultural (CHARTIER, 1990) e assume, como fonte, a imprensa periódica de ensino e de técnicas da EF (1932-1960). O corpus documental foi delimitado pela leitura prévia do título dos artigos presentes no Catálogo de periódicos de educação física e desportos (FEREIRA NETO et. al., 2002) e da leitura na íntegra de todos os textos. Dos 1.783 artigos mapeados, selecionamos, para este trabalho, aqueles relacionados com a elaboração de programas para a Educação Física (223). Ao escrever sobre o assunto, Loyola (1940) enfatiza a necessidade de os programas escolares não caírem na inutilidade do empirismo e de organizações inconsistentes. Para o autor, era necessário ter uma noção exata da pedagogia da Educação Física, estabelecendo uma graduação crescente das práticas a serem ensinadas. Nos impressos, esses programas estavam alicerçados nos princípios da Biologia (Anatomia e Fisiologia) e da Psicologia (AENEFD, 1946), pois essas eram as áreas do conhecimento que permitiam ao professor conhecer as necessidades dos alunos, a fim de sistematizar as práticas que fossem de seu interesse. As matérias com essa natureza se aproximam pela necessidade de os programas de Educação Física se fundamentarem nos princípios da Pedagogia Moderna. Contudo, para Loyola (1940), era necessário um método que os orientasse, uniformizasse e desse continuidade ao ensino da Educação Física. Já aquelas apresentadas nos AENEFD (1946) sinalizavam a importância de se considerar os interesses dos alunos na construção dos programas, flexibilizando o uso do método. Nesse caso, o que está em discussão não é o uso de um método em específico, mas a sua reorientação de acordo com as demandas e características dos alunos. As fontes anunciam que, para inserir-se no projeto de escolarização era preciso à Educação Física assumir as suas formas, seus códigos e seus princípios. Como a escola era o lugar em que “[...] a educação se [ministrava] sob uma forma sistematizada, obedecendo a fins pré-determinados e [...] meios racionais” (MARINHO, 1945, p. 26), era preciso criar os meios pelos quais ela seria reconhecida no currículo escolar, no caso, fazer circular programas que sinalizassem o que e quando deveria ser ensinado.

Palavras-chave: Periódicos; Educação Física; dispositivos didático-pedagógicos; Programas; sistematização.

Referências

CARVALHO, M. M. C. de. Manuales de pedagogía, materialidad de lo impreso y circulación de modelos pedagógicos en el Brasil. Revista Colombiana de Educación, Colômbia, n. 52, p. 92-113, jan./jun. 2007.

CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.

FERREIRA NETO, A. et al. Catálogo de periódicos de EF e esportes (1930- 2000). Vitória: Proteoria, 2002.

LOYOLA, H. Para um método nacional. EF, Rio de Janeiro, n. 39, p. 12-13, fev. 1940.

MARINHO, I. P. A EF, elemento indissociável de educação: alguns aspectos do quadro geral de idéias da divisão da EF do ministério da educação e saúde. Revista Brasileira de EF, Rio de Janeiro, ano 2, n. 16, p. 21-31, abr. 1945.

OBJETIVOS da EF. Arquivos da Escola Nacional de EF e Desportos, Rio de Janeiro, ano 2, n. 2, p. 59-60, jun. 1946.

Fonte de financiamento: Fundação de Amparo de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Aprovado no Edital Universal nº 006/2014 – Projeto Individual de Pesquisa, sob o Termo de Outorga nº 541/2015 e Processo nº 67.6438.25; Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).