A Inserção das Mulheres no Programa Olímpico da Ginástica Artística: os Festivais de 1908-1924

Por Anna Stella Silva de Souza (Autor),

Parte de Anais do Fórum de Estudos Olímpicos 2021 e III Simpósio Latino-americano Pierre de Coubertin . páginas 63

Resumo

O controle ideológico exercido pelos homens estabeleceu padrões que ditaram uma ideia estigmatizada de que os homens atletas são mais fortes e competitivos quando comparados às mulheres atletas (MORAIS, 2004). Esse pensamento foi hegemônico no período de entrada das mulheres no esporte e nas competições, tornando-se um dos elementos de conflito e de luta das mulheres em prol do seu espaço nas práticas esportivas. O objetivo deste resumo foi analisar a inserção das mulheres ginastas nos Jogos Olímpicos (JO), por meio de uma pesquisa histórica. Quando os JO foram restabelecidos em 1986, Rubio e Simões (1999) explicam que muitos argumentos foram utilizados para excluir a participação da mulher, tais como: o corpo feminino é governado por nervos ao invés de músculos e que demonstrações públicas femininas resultariam na destruição da ordem e da decência (LEIGHT, 1974). Segundo Leight (1974), para o Barão de Coubertin era uma abominação ver mulheres se exibirem em público com roupas leves, rostos suados e contorcidos devido ao esforço. Nos JO de 1900 e 1904, a inclusão feminina só foi possível, pois estes foram organizados junto às Feiras Mundiais. Nesses anos, assim como em 1908, as disputas foram mal organizadas, o que facilitou a inclusão das mulheres. (MIRAGAYA; DACOSTA, 2002). Observamos que o direito de participar em algumas modalidades foi cedido às mulheres, mas os esportes deveriam ser considerados benéficos para as suas funções na sociedade, principalmente: o casamento e a maternidade (SECURATO; DASTRY, 2016). A Ginástica Artística (GA) foi um desses esportes e, segundo Schpun (1999), por meio de apresentações, a modalidade deveria visar sempre a beleza e o ritmo dos gestos em busca de movimentos femininos, o que se assemelhava a dança clássica. A apresentação de GA para mulheres ocorreu pela primeira vez em 1908. E, apenas 20 anos depois, seria dado o direito de competir. A incorporação e a restrição das mulheres nos festivais foram influenciadas pela concepção de inferioridade da mulher. Enquanto os homens eram exaltados pela força, agressividade e musculatura, as mulheres eram vistas sem poder com a celebração de sua graça, cooperatividade e ternura. Características que se enquadravam aos festivais que não tinham fins competitivos. Consideramos que os festivais, nos programas olímpicos da GA, representaram passos importantes na luta das ginastas na modalidade, pois saíram da exclusão e, desde então, lutam pelo seu espaço como mulheres atletas.