A interdependência das formas: uma perspetiva contra-hegemônica da colaboração criativa em ateliers e oficinas.
Por Mattia Faustini (Autor).
Em IX Colóquio de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana
Resumo
O presente trabalho procura apresentar aspectos relevantes na investigação de processos educativos junto com grupos populares que tenham na criação artística as dinâmicas de suas sociabilidades. Ao tratarmos da criação, procuramos concebê-la como inerente à formação cultural que possuímos, como parte de nossas vivências, daquilo que conhecemos, refletimos e imaginamos. Compreendemos, de acordo com a fenomenologia existencial de Merleau-Ponty, que nos situamos ao mundo com todo o nosso ser em tal disposição corpórea que o sentimos e reconhecemos como espaço expressivo e simbólico em todo tempo. A arte assim, nas modalidades de expressão utilizadas em suas manifestações – visuais, sonoras, cênicas e literárias – é amparada na reflexão de pessoas sobre o mundo, as quais, através de suas experiências correspondem com o que lhes são essenciais na criação. Buscando contribuir com a temática do colóquio “Corpo, (anti) racismo e (pós) colonialismo”, apresentamos duas pesquisas de doutorado em andamento, uma realizada em atelier junto com mulheres ceramistas, e outra, junto com um grupo de saúde mental reunidos em atividades de oficina de criação visual e escrita poética. A partir de dados preliminares, ao tratarmos da investigação social da criação, ressaltamos que os vínculos metodológicos ao prezarem pela autonomia das práticas dos grupos, podem mobilizar o protagonismo das e dos agentes, de modo que a produção de conhecimento venha a tornar-se um incentivo para o envolvimento colaborativo entre participantes junto à comunidade que fazem parte. Temos entendido assim, que metodologias ativas baseadas nas artes oportunizam colaborar com práticas populares ou programas de educação de arte que tenham como objetivo a superação de aspectos arraigados na modernidade ocidental como o capitalismo, o racismo e o patriarcado, dimensões estas que impactam profundamente a liberdade coletiva nas práticas de criação. Deste modo, nos voltamos para a existência situada das e dos participantes das investigações, onde as necessidades são configuradas nos próprios valores compartilhados, mundo vivido em que a criação é parte constitutiva do processo de vida cultural, das tramas de significados que se atualizam nas relações dos indivíduos e grupos que participam de cada território.