Resumo

No esporte podemos identificar microculturas constituídas por um grupo de pessoas que compartilham valores, crenças, padrões de comportamentos e um sistema de símbolos, verbal e não verbal, que os distingue do meio cultural dominante. O ginásio é o espaço no qual as microculturas de Ginástica Artística (GA) estão resguardadas e mantém a preeminência das tradições que constituem, em âmbito maior, a macrocultura da modalidade. Nesse ambiente há uma teia de significados, supostamente compartilhados, que emergem de suas estruturas de ação, comportamento e comunicação que apresentam características idiossincráticas. E, essas só podem ser compreendidas a partir dos significados atribuídos pelos seus próprios protagonistas, ou seja, ginastas e técnicos. O objetivo do presente estudo foi identificar, apresentar e analisar aspectos que constituem a microcultura de GA, em um ginásio de treinamento de alto rendimento, na categoria feminina. O caminho metodológico escolhido foi a abordagem de um estudo de caso do tipo etnográfico. No transcorrer do estudo, foi possível desvelar procedimentos, valores e comportamentos que elucidam a cultura de treinamento da GA feminina e que conformam a dinâmica de funcionamento do ginásio. Observamos no corpo e no desempenho das ginastas aspectos que refletem a cultura, assim como nos padrões de comportamento e na comunicação das ginastas e dos técnicos. Valores como a perseverança, a disciplina, a dedicação e a subserviência das ginastas aos técnicos emergiram durante as horas de treinamento. Ademais, observamos atributos inerentes ao universo simbólico do ginásio como a necessidade de sacrifício à dor e os atos ritualísticos. Essa cultura de treinamento, meio pelo qual as ginastas e os técnicos se adaptam e fornecem sentido às suas ações nesse ambiente físico e social de treinamento, expôs características peculiares da GA feminina e que continuam a ser transmitidas entre as gerações de atletas pelo processo de endoculturação

Acessar Arquivo