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INTRODUÇÃO:

Quando os alunos não demonstram facilidade em ler e escrever, na fase de alfabetização, são, muitas vezes, rotulados como crianças com "dificuldades de aprendizagem". As incompreensões por parte dos alunos das tarefas propostas, tanto em sala de aula como nas quadras, são, na maioria das vezes, diagnosticadas como problemas que eles apresentam. Após uma fase de observação das aulas de Educação Física, Matemática e Português do primeiro ano do Ensino Fundamental, numa escola da rede pública da cidade de Campinas, para uma pesquisa de doutorado, fortaleceu-se a necessidade de conhecer o que pensam os professores sobre a inteligência e o processo de aprendizagem dos seus alunos. Há uma tradição escolar em se aceitar como expressão da inteligência e demonstração da aprendizagem, prioritariamente, as manifestações que ocorrem por meio das linguagens escrita e oral, desvalorizando-se as outras linguagens corporais. Buscando conhecer a concepção das professoras sobre o que é ser inteligente, quem são seus alunos inteligentes e por quais razões elas os consideram assim, além de desvelar a utilização que essas professoras fazem de outras linguagens, é que decidimos investigar a presença da estimulação das inteligências como rotas de aprendizagem e como manifestações de expressão do conhecimento.


 METODOLOGIA:

A pesquisa desenvolvida é do tipo descritiva com ênfase nos aspectos qualitativos do fenômeno investigado. Os procedimentos adotados na trajetória metodológica visavam a compreensão sobre a utilização de outras linguagens, pelos professores, além das tradicionais oral e escrita, durante o processo de ensino-aprendizagem. Após diversas observações das aulas, foram entrevistadas as duas professoras responsáveis pela mesma classe de 23 alunos: a professora polivalente e a professora de Educação Física, as quais responderam cinco perguntas abertas, numa entrevista semi-estruturada que tinha como eixo central a relação entre inteligência e aprendizagem. Nas observações buscou-se relacionar os estímulos oferecidos durante as aulas com as atividades propostas como situações-problema, assim como as respostas dadas pelas crianças para as tarefas com as intervenções feitas por suas professoras, cujas mediações pudessem levar os alunos à compreensão dos conteúdos ensinados. Já as entrevistas buscavam reconhecer os conceitos que essas professoras se pautavam para adotar determinados procedimentos. Os dados coletados foram analisados numa abordagem fenomenológica, a partir de três momentos: a descrição, a redução para atingir a essência do fenômeno investigado, e uma interpretação posterior.


 RESULTADOS:


Nesse tipo de pesquisa define-se uma trajetória em que se agrupam os constitutivos relevantes para chegar à essência, e depois são interpretados os sentidos e significados atribuídos ao fenômeno. A partir dos discursos dos sujeitos as unidades de signficado elencadas transformaram-se em categorias que expressam os conceitos sobre ensino-aprendizagem, que são: 1) As professoras acreditam que todos são inteligentes; 2) Acreditam que as crianças chegam ao Ensino Fundamental despreparadas; 3) Entendem que a quantidade excessiva de alunos e a indisciplina interferem negativamente no processo de ensino-aprendizagem; 4) Demonstram insegurança e necessidade de apoio para lidar com as dificuldades de aprendizagem dos alunos; 5) Acham que atenção e concentração são os fatores que mais influenciam na aprendizagem; 6) Acreditam que os alunos apresentam velocidades diferentes de aprendizado; 7) Acham que os alunos podem ser limitados em suas capacidades; 8) Entendem que o recreio e as aulas de Educação Física são momentos de brincadeira; 9) Acreditam que as pessoas são diferentes, portanto precisam aprender por estratégias diferenciadas, ou permanecer mais tempo que os outros numa mesma proposta educativa. As reflexões foram geradas pela associação das categorias às observações das aulas.

 CONCLUSÕES:

Os fenômenos inteligência e aprendizagem foram revelados a partir das respostas dadas, evidenciando algumas reflexões significativas para o trato educacional. Primeiro, o olhar das professoras está mais direcionado a ver o que tradicionalmente é identificado: o exercício feito corretamente, a resposta certa em menor tempo, ou a dificuldade em atingir ambos. Para ampliar a capacidade de ver a inteligência dos alunos, o professor deve exercitar continuamente uma atitude apreciadora e observar a aprendizagem deles num olhar investigador.

É importante, portanto, compreender a inteligência como um constructo complexo. Segundo, as professoras demonstraram em seus discursos sentirem-se inseguras quanto aos seus procedimentos, sem saberem de que maneira podem contribuir com seus alunos, no ambiente de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem devem ser trabalhadas a partir da perspectiva de multiplicidade da inteligência. Defendemos que a perspectiva da corporeidade pode ajudar os professores polivalentes a perceberem outras expressões da inteligência humana, nas diversas manifestações do conhecimento. É importante que os professores aprendam a ver outros sinais da inteligência humana para descortinarem as dificuldades de aprendizagem e estimularem todos os potenciais de seus alunos.