Resumo

A pesquisa visa a investigar a pertença à profissão de professor de Educação Física escolar, expressa na relação entre a docência e o mundo, tomando como pressuposto, principalmente, os conceitos e categorias arendtianas. A pertença à docência, neste estudo, está articulada à ideia de o professor se reconhecer como responsável por esse horizonte público, nessa acolhida às novas gerações que chegam no mundo preexistente, um mundo que nós construímos, de alguma maneira, juntamente com nossos antepassados, para que os mais novos possam julgar sobre uma dada realidade. O professor deve decidir se ama o mundo – o amor mundi, as práticas corporais, no caso dos professores de Educação Física –, assim como seus novos habitantes o bastante para assumir a responsabilidade por ambos. Trata-se, portanto, de uma dupla responsabilidade. No que tange à justificativa, o estudo não defende que a docência deve ser pensada como um sacerdócio ou doação, embora seja importante buscar a motivação e o interesse pessoal que se constrói sobre o magistério. Fazer algo que lhe seja valoroso significa atribuir um sentido/significado pessoal e um reconhecimento social a seu saber-fazer. Em outros termos, parece que a pertença pode ser estimulada, provocando os professores de Educação Física escolar de dentro para fora, podendo ser a motivação que confere a humanidade à sua existência. O estudo enfatiza que o querer e a vontade precisam ser mais bem investigados. Pensar naquilo que nos afeta, bem como se interpelar como membro de uma comunidade mobilizam o sujeito para refletir sobre o processo de formação de todos que são responsáveis pelo mundo. A pesquisa utiliza a narrativa e o método (auto)biográfico como princípio teórico-metodológico. Essa perspectiva possibilita ao docente o conhecimento de si em sua trajetória, promovendo a reflexão e o entendimento de si e de sua prática, bem como permite analisar as interconexões de seu itinerário com o contexto acadêmico, social, histórico e cultural, com o seu modo de se apropriar das experiências e, assim, realizar o “exercício de pensamento” sobre seus sentidos/significados. No que se refere aos recursos metodológicos, prioriza os materiais biográficos primários, mais especificamente as entrevistas narrativas. Analisa as narrativas (auto)biográficas das experiências dos colaboradores da pesquisa, nas quais recordaram as experiências vivenciadas ao longo de sua trajetória formativa (no âmbito familiar, na educação básica, na formação inicial e em outros espaços/tempos formativos) que promoveram marcas significativas em sua formação pessoal/profissional, bem como se manifestaram como possíveis guias/inspirações para constituir sua pertença à profissão em sua experiência docente. Além disso, analisa suas experiências vivenciadas ao longo de sua experiência docente na educação básica, interpretando como revelam sua pertença e, ainda, identifica os aspectos que emergem de seus saberes/fazeres como potencial guias/inspirações para os alunos e (futuros) professores a agir conforme seus contextos e realidades. Nas considerações finais, infere que se faz necessário melhor pensar a respeito das experiências formativas dos professores de Educação Física escolar como ponto de partida para a constituição da pertença à docência. Essas narrativas podem contribuir para potencializar o agir dos (futuros) professores de Educação Física escolar, constituindo uma pertença à profissão docente.

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