Resumo

A capoeira encontra-se hoje inserida sob diversas formas nas escolas, com crescente destaque às aulas de Educação Física. Se a referência a seu rico contexto histórico e cultural originário, relacionado também à marginalidade, é frequentemente evocada na justificativa de sua valorização pelas escolas, pouco se questiona sobre a intensidade do significado que esta experiência com a capoeira pode exercer na vida (existência) dos alunos que a praticam na escola. Tratando-se de uma pesquisa de bases fenomenológica e de caráter existencialista, buscamos compreender como alguns alunos de duas escolas municipais em São José, SC, significaram sua experiência com a capoeira na escola. Para entendermos a intensidade de construção de significados na vida dos sujeitos-alunos estudados, buscamos entendê-los em  seu mundo mais cotidiano (mundo-vivido) e em seu Se-movimentar nas aulas de capoeira nas escolas. Utilizamos procedimentos de acesso aos significados subjetivos por eles construídos em seus mundos por meio de entrevistas, observações participantes nas aulas de capoeira e de algum procedimentos midiáticos com fotos e edição e confecção de um pequeno filme com cada aluno-sujeito. Os sujeitos-alunos pareceram significar a capoeira em suas vidas das mais variadas formas, seja como atividade prazerosa e complementar às experiências  de movimento, como uma atividade que ganha perspectivas de aplicação no futuro (“ser professor de capoeira”), ou mesmo como uma forma de construção de uma identidade positiva de si frente aos outros, como uma “estratégia de sobrevivência” construída frente às situações de violência (física, social e moral) experimentadas existenciariamente. As reflexões resultantes do estudo são de caráter filosófico e apontam para a necessidade de conhecimento sobre o Ser (existência) nas atividades educativas desenvolvidas na escola, ou seja, de diálogo e problematização com o mundo-vivido dos educandos. Com relação às aulas de capoeira nas escolas, observou-se um potencial educativo latente em sua forma particular de trabahar com uma leitura de mundo que talvez possa dialogar e fazer sentidos no mundo daqueles educandos oriundos de contextos de carências materiais e existenciais, tidos como “bagunceiros”, trazendo-os positivamente às práticas escolares e estimulando suas perspectivas de futuro e de “querer viver” humano. Em certa medida, e para alguns sujeitos, a capoeira e  existência parecem confundir-se, tal a significância da primeira para a “vida” do Ser.

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