Resumo
Este trabalho pretende debater, do ponto de vista da pesquisa em história da educação, as relações entre o aparato legal-institucional para a Educação Física brasileira de 1968 a 1984, e a apropriação dos professores escolares daquele aparato. Partindo da hipótese de que essas duas dimensões estavam imbricadas, infirma a tese corrente na historiografia de que os professores teriam sido conformados de forma unilateral pelas políticas oficiais, consonantes com uma perspectiva de dependência cultural dos países capitalistas desenvolvidos, mais especificamente, dos Estados Unidos. Como fontes privilegia a Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, publicada pela Divisão de Educação Física do MEC, os Programas de Educação Física da Prefeitura Municipal de Curitiba de 1972 a 1983 e os depoimentos de professores atuantes na Rede Municipal de Ensino de Curitiba naqueles anos. Conclui que a tese corrente de transplante cultural desconsidera a experiência singular capaz de reapropriar os mais diversos códigos, ao manifestar uma tensão entre a tradição e a renovação da Educação Física escolar brasileira, e entre a história de vida e a história profissional dos professores. Apoiada a análise sobre o campo da história das disciplinas escolares e tendo como referência o pensamento de Edward Palmer Thompson, para quem o diálogo entre o ser e a consciência social são estruturadores da experiência, o trabalho reafirma a perspectiva corrente na historiografia, da redução da Educação Física escolar aos códigos da instituição esportiva, mas capta o consórcio ativo dos professores escolares de Educação Física para a consolidação daquele processo. Assim, mostra como se desenvolveu uma adaptação entre o que preconizavam as políticas governamentais e as necessidades dos profissionais da área. Nesse sentido, a experiência dos professores escolares apontou para as reformulações da Educação Física brasileira que teriam lugar ao longo das décadas de 1980 e 1990