Resumo

Ao longo da história, por duas vezes a Seleção Portuguesa de futebol contou com treinadores ori-undos do Brasil, sua ex-colônia. Inicialmente temos a presença do carioca Otaviano Martins Glória (mais conhecido por Otto Glória) no comando da equipe lusa no Mundial de Futebol de 1966, quando o time obtém o terceiro lugar. O outro treinador a comandar a equipe nacional portugue-sa foi o gaúcho Luiz Felipe Scolari, que permaneceu no cargo de 2002 a 2008 (nesse período, des-tacam-se o quarto lugar no Mundial de 2006 e o vice-campeonato europeu de 2004). Nossa inves-tigação, realizada em arquivos públicos de Lisboa – Portugal, procurou verificar como a imprensa portuguesa retratou a presença destes treinadores brasileiros na Seleção de Portugal – em uma oportunidade, aliás, enfrentando o Brasil, no Mundial de 1966, com o Portugal 3 x 1 Brasil na In-glaterra. Partimos da hipótese de que, ao contrário do que ocorreu em 1966, quando a presença de Otto Glória na Seleção Portuguesa teve positiva aceitação do público e da imprensa lusitanas, a nova “invasão brasileira” do começo do Século XXI foi recheada de tensões e conflitos, os quais ganharam voz ampla na imprensa portuguesa, mas acabaram sendo silenciados em grande medida pela imprensa brasileira. Numa rota inversa dos descobrimentos marítimos, o novo milênio apon-tou para um fluxo contrário de imigração, em que a ex-metrópole se viu às voltas com o protago-nismo da ex-colônia, num universo desportivo sempre permeável a manifestações de nacionalis-mos e xenofobia. Para dar conta destas leituras, utilizamos conceitos da Análise do Discurso de linha francesa para a percepção do discurso textual e imagético dos seguintes jornais portugueses: os generalistas Século, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público; e os jornais esportivos A Bola, Record e O Jogo.
 

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