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INTRODUÇÃO:

A análise histórica dos estudos epidemiológicos sobre morbidade no Brasil nos apresenta o crescente aumento de óbitos de crianças e adolescentes por causas externas. Dentro dessa realidade, os acidentes e as violências, juntos, constituem a segunda maior causa no quadro de mortalidade geral brasileira. No ambiente escolar, apesar de prevalecer a crença de que as escolas são ambientes seguros, existe um crescimento significativo nos índices de lesões, principalmente no que se refere à prática de atividades físicas no Ensino Fundamental.Quando refletimos então sobre a realidade na qual estão inseridas as escolas públicas no Brasil pode-se evidenciar de forma concreta este paradoxo, uma vez que as estruturas, as instalações e os equipamentos que são utilizados no desenvolvimento das atividades físicas encontram-se em estado de precariedade. Além disso, o contexto socio-econômico no qual estão inseridos os discentes não viabiliza condições físico-orgânicas e um aporte de equipamentos de uso pessoal importante para a prática de atividade física segura. Assim, o presente trabalho tem o objetivo de verificar a natureza dos acidentes nas aulas de Educação Física escolar e analisar os conhecimentos desses professores com relação às noções de prevenção de acidentes e primeiros socorros, uma vez que a estes, sócio-culturalmente, está atribuída a responsabilidade de garantir a segurança, saúde e bem-estar dos seus alunos.

METODOLOGIA:

Após análise das reflexões teóricas que investigam a realidade das Escolas Públicas, foi realizado um estudo transversal, descritivo, correlacional e exploratório nesses ambientes a fim de verificar a freqüência, natureza e características dos acidentes dentro das escolas. O público alvo da pesquisa foi de alunos do Ensino Fundamental Nível II que fazem aulas de Educação Física, assim como os professores desta disciplina em todas as Escolas Públicas Estaduais do Bairro do Antônio Bezerra na cidade de Fortaleza no Ceará. A aplicação metodológica consistiu na distribuição de questionários fechados preenchidos, por contato pessoal, pelos sujeitos da investigação. A coleta de dados foi separada em duas estruturas distintas. A primeira direcionada ao grupo de docentes e a segunda ao corpo discente. Para o primeiro grupo foram enfocadas questões quanto aos aspectos estruturais (conservação, ventilação, segurança, higiene) dos locais onde são realizadas as aulas. Além destas, questões referentes aos recursos materiais de prevenção e socorro. Aos discentes foram direcionadas perguntas quanto à verificação da periodicidade das lesões relacionando-as com algumas variáveis como estado nutricional, uso de calçados, sexo, segmento corporal onde ocorreram lesões, etc. Além disso, questionou-se a postura do professor quanto aos cuidados de segurança e socorros prestados durante todo o ano. A seguir foi feita a análise correlacional e interpretação dos dados colhidos.

RESULTADOS:


Das 100 crianças entrevistadas 52% era do sexo masculino e 48% do sexo feminino. Do total, 76% utilizavam calçados durante as aulas de educação física, sendo 53,95% meninos e 46,05% meninas. Verificou-se que 71,05% usavam tênis, 13,16% usavam chinelo, 11,84% usavam sapato e 3,95% usavam outro tipo de calçado. Em relação à exigência do professor sobre o uso de calçado, 45% das crianças relatou que há cobrança, enquanto 55% afirmou o contrário. Do total de crianças entrevistadas, 54% sempre se alimentava antes de ir para as aulas, 37% às vezes se alimentava, e 9% nunca se alimentava. Dentre os que se alimentavam, 80% se alimentava de 1 a 2 horas antes e 20% se alimentava de 3 a 6 horas antes das aulas de educação física. Em relação aos enjôos, 92% relataram nunca sentiram enjôos e 8% já sentiram. Foi relatada apenas 1 ocorrência de desmaio. Quanto às lesões, 78% nunca sofreu qualquer tipo de lesão, enquanto 22% já sofreu. Quanto à localização destas, 3,85% localizava-se na cabeça, 00% tronco, 23,07% nos membros superiores e 53,85% nos membros inferiores. Entre os acidentados, 65,52% afirmou que não foi prestado qualquer atendimento e 35,48% afirmou ter sido socorrido. Nos quesitos estado do ambiente, higiene, conservação, número e qualidade dos recursos materiais e estruturais e componentes do estojo de primeiros socorros, 80 % dos respondentes afirmou que estes estão em nível regular.

CONCLUSÕES:

Os resultados apontam que existe uma deficiência no que se refere à estrutura e equipamentos para a prevenção de acidentes dentro das escolas visitadas. Foi percebido que a maioria dos alunos utiliza algum tipo de calçado nas aulas de educação física. Contudo, um percentual relativamente grande faz as aulas com calçados desapropriados ou até mesmo sem calçados, o que pode possibilitar algum tipo de lesão. Percebeu-se também que não há exigência de uso de calçados pela maioria dos professores. Entretanto, é difícil uma análise de julgamento nesta situação, já que os alunos estão inseridos dentro de uma realidade sócio-econômica que, muitas vezes, não oportuniza o aporte deste. Percebe-se também que o estado nutricional é um fator limitante no desenvolvimento das atividades, uma vez que os desmaios e os enjôos geralmente estavam relacionados a este fator. Estas ocorrências podem, sobremaneira, contribuir para a ocorrência de acidentes mais graves. Outra questão observada é que, dentre os segmentos corporais que tiveram maior índice de lesões, os membros inferiores ocupam lugar de destaque. Estima-se que seu alto percentual pode ser resultado da inadequação de calçados, como mencionado anteriormente. Assim, reforça-se que as questões que envolvem valores sócio-econômicos dos alunos está fortemente presente no cotidiano profissional dos professores de educação física que, por sua vez, devem buscar alternativas para garantir a integridade física dos seus alunos.