Resumo

Crianças que apresentam níveis de coordenação motora adequados têm maior probabilidade de responder de forma adequada às tarefas motoras diárias, construindo um ciclo positivo de desenvolvimento. Nas últimas décadas, têm-se notado declínio nos níveis coordenativos na infância. Nesse sentido, a escola pode desempenhar um papel fundamental no aumento de tais níveis. Contudo, faz-se necessário identificar quais variáveis a nível do ambiente escolar, mediante estrutura hierárquica da informação, podem explicar a variabilidade da coordenação motora, bem como a magnitude das associações. Desse modo, o presente estudo propõe identificar a magnitude das associações entre características a nível do indivíduo e do ambiente escolar e os níveis de coordenação motora grossa (CMG) na infância. Um estudo transversal foi estruturado, com 2394 crianças dos cinco aos 11 anos de idade, matriculadas em 25 escolas municipais de São José dos Pinhais/PR. Estatura, massa corporal, percentual de gordura foram avaliados e o índice de massa corporal (IMC) calculado. A CMG foi avaliada por meio da bateria de testes KTK. A aptidão física (AptF) foi avaliada por meio de um conjunto de testes: dinamometria manual; impulsão horizontal; corridas vai-vém e 20 metros; corrida/caminhada de 6 minutos. Informações sobre peso ao nascer, deslocamento para a escola, prática esportiva e atividade física (AF) escolar foram adquiridas mediante questionário enviado aos pais. O ambiente escolar foi avaliado com a ferramenta de auditoria escolar ISAT, além de um roteiro de questões para equipe escolar sobre aulas de educação física, recreio e aulas extracurriculares. Às variáveis do ambiente escolar, foi adicionada informação do nível de AF da escola durante o recreio, analisado por meio do SOPLAY. Medidas descritivas foram calculadas. Dado a estrutura da informação, os dados foram modelados hierarquicamente, em dois níveis distintos: (i) indivíduo; (ii) escola. As análises foram efetuadas nos softwares SPSS versão 21.0 e HLM versão 6.0. O valor de prova foi de 5%. Verificou-se que as características individuais explicam a maior proporção da variância total da CMG. Crianças mais velhas foram mais coordenadas do que as mais novas (p<0,001); crianças com maiores valores de IMC e percentual de gordura foram menos coordenados (p<0,001); as mais aptas e praticantes de alguma AF esportiva (p<0,01) foram mais coordenadas. As crianças matriculadas em escolas rurais, em escolas com maiores áreas disponíveis para o uso no recreio e com maiores porcentagens de comportamento muito ativo no recreio apresentaram maiores valores de CMG (p<0,01). Escolas com playground e escolas com maior porcentagem de comportamento sedentário no recreio apresentaram crianças com menores valores de CMG (p<0,01). Esses resultados confirmam as associações da CMG com variaveis do individuo (idade, IMC, percentual de gordura, AptF e prática esportiva), e sugerem que o ambiente escolar desempenha um papel menor, mas significativo, na CMG. Promover a perda de peso, aumento nos níveis de AptF e promoção da AF esportiva são estratégias fundamentais para o aumento dos níveis de CMG. Além disso, é importante que o ambiente escolar ofereça espaços livres e seguros para que as crianças possam experimentar diferentes práticas corporais.

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