Resumo

Introdução: mundialmente, os transtornos neuropsiquiátricos são a principal causa de anos de vida perdidos por incapacidade na faixa etária entre 10 e 24 anos. Os transtornos mentais comuns são caracterizados principalmente pela presença de sintomas de depressão e ansiedade, além de queixas somáticas inespecíficas. Esses transtornos, que podem ser manifestações iniciais de doenças psiquiátricas mais graves, prejudicam a vida escolar e as relações sociais do adolescente. Evidências recentes relacionaram os sintomas de depressão e ansiedade com a inatividade física. Até a data, a maioria das pesquisas tem focado em populações adultas de países desenvolvidos, nos comportamentos sedentários (tempo em atividades de tela) e nos portadores de enfermidades psiquiátricas. Além disso, pouco se sabe sobre a educação física escolar e a prática esportiva no contexto dos transtornos mentais comuns. Objetivos: Investigar a associação da inatividade física no lazer e na escola com transtornos mentais comuns durante a adolescência. Métodos: A amostra foi composta por 73.399 adolescentes (12-17 anos), participantes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA). Esse estudo transversal, multicêntrico, nacional e de base escolar foi realizado em 2013 e 2014, nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, totalizando 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros. Para medir o nível de atividade física, foi utilizada adaptação do Self-Administered Physical Activity Checklist, validada em adolescentes brasileiros por Farias Júnior (2012). A atividade física no lazer foi categorizada de acordo com o volume de prática semanal e os adolescentes foram classificados em ativos (≥300 minutos/semana), inativos (zero minutos/semana) e insuficientemente ativos (1-299 minutos/semana). A prática esportiva e a participação em aulas de educação física na escola também foram analisadas. A presença de transtornos mentais comuns foi avaliada a partir do General Health Questionnaire, com ponto de corte maior ou igual a três. Odds Ratios (OR) foram estimados utilizando regressão logística múltipla. Resultados: a média de idade foi de 14,7 ± 1,6 anos, maioria parda (52,5%) e 78,7% de escolas públicas. Menos da metade da amostra (44,4%) eram ativos, 29,1% reportaram nenhuma atividade física no lazer e 26,5% eram insuficientemente ativos. Parcela significativa não praticava nenhum esporte (52,4%). Na educação física na escola, 77,6% participavam, sendo 40,6% - 1 tempo/semana; 32,6% - 2 tempos/semana; e 4,4% - 3 tempos/semana. Foi encontrada elevada (30,0%) prevalência de transtornos mentais comuns (TMC). E a chance de TMC foi 16% maior no grupo inativo no lazer (OR:1,16; intervalo de 95% de confiança [IC95%]: 1,06-1,27). A tabela 1 mostra os resultados da associação da inatividade física com os TMC. Eles foram mais frequentes entre os não praticantes de esportes. A atividade física insuficiente (1-299 min/sem) não aumentou a razão de chances de transtornos mentais comuns. Praticar atividade física no lazer, independente da duração e frequência semanal, reduziu em 26% as chances de transtornos mentais comuns nessa população.

Conclusão: A inatividade física no lazer e na escola foram associadas à presença de transtornos mentais comuns na adolescência. Os resultados sugerem que a prática esportiva, a educação física escolar e a atividade física durante o lazer, mesmo sem atingir a recomendação atual, têm relação com a saúde mental dos jovens.

Agência de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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