Associação Entre Inatividade Física e Transtornos Mentais Comuns em Adolescentes Brasileiros
Por Thaís Inacio Rolim Póvoa (Autor), Vanessa Roriz Mendonça (Autor), Ricardo Borges Viana (Autor), Thiago de Souza Veiga Jardim (Autor), Ana Luiza Lima Sousa (Autor), Paulo César Brandão Veiga Jardim (Autor).
Em 43º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte SIMPOCE
Resumo
Introdução: mundialmente, os transtornos neuropsiquiátricos são a principal causa de anos de vida perdidos por incapacidade na faixa etária entre 10 e 24 anos. Os transtornos mentais comuns são caracterizados principalmente pela presença de sintomas de depressão e ansiedade, além de queixas somáticas inespecíficas. Esses transtornos, que podem ser manifestações iniciais de doenças psiquiátricas mais graves, prejudicam a vida escolar e as relações sociais do adolescente. Evidências recentes relacionaram os sintomas de depressão e ansiedade com a inatividade física. Até a data, a maioria das pesquisas tem focado em populações adultas de países desenvolvidos, nos comportamentos sedentários (tempo em atividades de tela) e nos portadores de enfermidades psiquiátricas. Além disso, pouco se sabe sobre a educação física escolar e a prática esportiva no contexto dos transtornos mentais comuns. Objetivos: Investigar a associação da inatividade física no lazer e na escola com transtornos mentais comuns durante a adolescência. Métodos: A amostra foi composta por 73.399 adolescentes (12-17 anos), participantes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA). Esse estudo transversal, multicêntrico, nacional e de base escolar foi realizado em 2013 e 2014, nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, totalizando 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros. Para medir o nível de atividade física, foi utilizada adaptação do Self-Administered Physical Activity Checklist, validada em adolescentes brasileiros por Farias Júnior (2012). A atividade física no lazer foi categorizada de acordo com o volume de prática semanal e os adolescentes foram classificados em ativos (≥300 minutos/semana), inativos (zero minutos/semana) e insuficientemente ativos (1-299 minutos/semana). A prática esportiva e a participação em aulas de educação física na escola também foram analisadas. A presença de transtornos mentais comuns foi avaliada a partir do General Health Questionnaire, com ponto de corte maior ou igual a três. Odds Ratios (OR) foram estimados utilizando regressão logística múltipla. Resultados: a média de idade foi de 14,7 ± 1,6 anos, maioria parda (52,5%) e 78,7% de escolas públicas. Menos da metade da amostra (44,4%) eram ativos, 29,1% reportaram nenhuma atividade física no lazer e 26,5% eram insuficientemente ativos. Parcela significativa não praticava nenhum esporte (52,4%). Na educação física na escola, 77,6% participavam, sendo 40,6% - 1 tempo/semana; 32,6% - 2 tempos/semana; e 4,4% - 3 tempos/semana. Foi encontrada elevada (30,0%) prevalência de transtornos mentais comuns (TMC). E a chance de TMC foi 16% maior no grupo inativo no lazer (OR:1,16; intervalo de 95% de confiança [IC95%]: 1,06-1,27). A tabela 1 mostra os resultados da associação da inatividade física com os TMC. Eles foram mais frequentes entre os não praticantes de esportes. A atividade física insuficiente (1-299 min/sem) não aumentou a razão de chances de transtornos mentais comuns. Praticar atividade física no lazer, independente da duração e frequência semanal, reduziu em 26% as chances de transtornos mentais comuns nessa população.
Conclusão: A inatividade física no lazer e na escola foram associadas à presença de transtornos mentais comuns na adolescência. Os resultados sugerem que a prática esportiva, a educação física escolar e a atividade física durante o lazer, mesmo sem atingir a recomendação atual, têm relação com a saúde mental dos jovens.
Agência de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).