Resumo

O artigo em tela buscou analisar os desafios nos percursos formativos de mestras de capoeira do Brasil sob uma ótica interseccional. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de natureza qualitativa, que lançou mão da aplicação de um questionário misto para o levantamento das informações. Participaram da investigação 109 mestras de capoeira, nascidas entre 1956 a 1987, nas distintas regiões geográficas do Brasil. Para a análise das informações, utilizamos o software Iramuteq, que nos auxiliou na elaboração e representação da nuvem de palavras e na análise de similitude. Os resultados do estudo evidenciaram a frequência dos termos “capoeira”, “mulher”, “não”, “desafio”, “mestre”, “trabalho”, “homem” e “preconceito” na nuvem de palavras. Na análise de similitude, os termos centrais “capoeira”, “mulher”, “desafio” e “mestre” se conectaram a distintas palavras periféricas, que refletem as estruturas do patriarcado. Conclui-se que as trajetórias formativas das mestras de capoeira foram marcadas por desigualdades de gênero, de forma recorrente, e por desigualdades de raça, de forma ascendente.

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