Integra

INTRODUÇÃO:

O padrão bípede de deambulação do ser humano consiste em um conjunto de movimentos dos segmentos corporais gerados e controlados automaticamente pelo sistema sensório-motor permitindo ao indivíduo caminhar sem esforço consciente. A marcha consiste num estilo de deambulação, e cada indivíduo tem um padrão individual de deslocar-se no ambiente, de maneira aceitável, com menor esforço físico e estabilização adequada. A alteração de algum segmento pode gerar mecanismos compensatórios para manter a deambulação funcional, entretanto, estas compensações manifestam-se através de padrões anormais de marcha e são, invariavelmente, menos eficientes e com maior dispêndio energético quando comparados com os mecanismos normais. A observação clínica da marcha estabelece as diferenças que ocorrem na locomoção humana, para compreender suas causas e as conseqüências no desenvolvimento de patologias osteo-músculo-esqueléticas. Neste sentido realizou-se este estudo com o objetivo geral de avaliar as características de movimentação dos segmentos corporais durante a marcha de indivíduos praticantes de caminhada, e com os objetivos específicos: a) analisar a incidência das alterações na movimentação dos segmentos corporais durante a marcha; b) associar estas alterações com faixa etária, gênero e índice de massa corporal (IMC); c) associar as alterações entre as regiões corporais (cabeça e membros superiores, tronco e membros superiores, cabeça e tronco e joelho e pé).

METODOLOGIA:

Participaram deste estudo descritivo diagnóstico, 74 indivíduos praticantes de caminhada, de ambos os sexos, sendo 38 (51,35%) do sexo masculino e 36 (48,65 %) do sexo femininos, com idade superior a 20 anos, média de 28,18 (±11,06) anos e coeficiente de variação de 39,24%. Em relação ao IMC: média de 23,28 (±3,5) e CV= 15,03%. Após a aprovação do Comitê de Ética para Pesquisa, do CEFID/UDESC, foram realizadas as coletas de dados utilizando os seguintes procedimentos: a) Obtenção de medidas estatura e massa, através de balança e estadiômetro, respectivamente, para o cálculo do IMC. b) Filmagem do sujeito caminhando em velocidade habitual, por três vezes em um percurso não inferior a 10 metros, mediante a utilização de 2 câmeras VHS, fixas em tripé, dispostas perpendicularmente uma a outra, de forma a adquirir imagens nos planos frontal e sagital. A analise dos dados foi efetuada usando a videografia, feita por juízes previamente treinados, cujos dados foram registrados em uma matriz tipo "check list" especialmente elaborada para este fim. No tratamento dos dados utilizou-se estatística descritiva empregando-se os parâmetros de média, desvio-padrão e coeficiente de variação) e para testar a associação entre as variáveis, adotou-se a estatística inferencial, através do teste não-paramétrico Qui-Quadrado (com p<0,05).

RESULTADOS:


Observou-se que 89% dos indivíduos apresentaram alteração em algum segmento corporal, sendo que o segmento que apresentou maior incidência de alterações foi tronco (74%) seguido por alterações no segmento cabeça (70%) e membros superiores (68%). Quanto ao segmento tronco, dos 55 sujeitos que apresentaram alteração, 49 % apresentavam alteração em oscilação lateral; Dos 52 indivíduos que apresentavam alteração na movimentação da cabeça, a maioria (69%) apresentavam inclinação da cabeça para frente; Em relação aos membros superiores, dos 50 indivíduos que apresentavam alteração, 66% apresentavam movimentação diminuída em pelo menos um dos braços; Dos 24 indivíduos com alteração nos pés, 50% destes apresentavam alteração no ângulo de abertura entre os pés alterada em pelo menos um dos pés; Dos 19 indivíduos que apresentavam alteração no joelho, a grande maioria (68%) apresentavam alteração em rotação interna e 53% joelho hiperestendido.Encontrou-se associação entre as alterações do ombro com as da cabeça (x2= 13,79 com 0,001 < p<0,005), do tronco com as dos membros superiores (x2= 7,328 com 0,005 < p<0,010); do tornozelo com as do joelho (x2= 4,75 com 0,025 < p<0,05) e entre as da cabeça e do tronco (x2= 5,62 com 0,01 < p<0,025). Quando testadas estas relações entre alterações nos segmentos corporais com índice de massa corporal, gênero e faixa etária, não houve associação.

CONCLUSÕES:


Através dos resultados deste estudo, conclui-se que a quase totalidade dos sujeitos apresenta uma ou mais alterações nas características de movimentação e posicionamento dos segmentos corporais durante a marcha. Destes a maior incidência de alteração foi no segmento corporal tronco, seguida de alteração nos segmentos cabeça e membros superiores. A não existência de associação entre alterações e gênero, faixa etária e IMC sugerem que as alterações no padrão da marcha ocorrem independentemente da idade, do gênero e da massa corporal. Entretanto, as alterações de um segmento podem estar associadas às alterações de outros segmentos, no mesmo indivíduo, provavelmente relacionadas aos mecanismos de compensações corporais na biomecânica do movimento humano.

Finalmente, considerando que a população deste estudo foi composta de praticantes de caminhada, e dada a grande incidência de alterações, tornam-se importantes medidas institucionais que orientem os indivíduos quando a prática de caminhada.