Resumo

Os cemitérios, com seus aspectos históricos/patrimoniais, bem como com suas formas atuais de uso, despertam sentimentos conflitantes e paradoxais, devido ao entendimento do cemitério como um local majoritariamente sagrado e como um espaço para a realização de atividades de lazer (DEL PUERTO, 2016). Diante disso, este resumo busca discutir de que modo os cemitérios podem ser apropriados como espaços de lazer. Este trabalho traz ideias a partir do que Dumazedier (2014) concebe por lazer. Compreende-se que o lazer encontra-se no cerne da cultura humana, sendo fortemente relacionado aos problemas advindos do trabalho e das influências das políticas públicas. Na cultura atual, marcada por processos urbanos em larga escala e pela ocupação do tempo livre com mais atividades remuneradas ou com afazeres domésticos, o lazer passa a ficar sem espaço físico ou tempo para ser praticado (DUMAZEDIER, 2014). Na tentativa de ampliar estes espaços, os cemitérios surgem como alternativa espacial para o lazer, por vezes praticado através da atividade turística. Por isso, a atividade turística transforma-se em um importante meio para compreender a relação lazer/cemitério. Entretanto, entende-se que o turismo em cemitérios ainda esbarra em propostas não bem definidas, principalmente às relacionadas ao lazer nos espaços fúnebres. Percebe-se que a consolidação dessa atividade é balizada pelo desentendimento entre gestores e pelos preconceitos sociais sobre os espaços fúnebres (DEL PUERTO, 2016). Apesar disso, ao observar os sites referentes à temática “cemitério e turismo”, percebe-se que a ênfase para a valorização dos cemitérios foge de sua função inicial, a qual envolve sepultamentos. É o que ressalta Afonso (2010, p. 16): “[...] percebe-se que o uso do espaço cemiterial apresentado de forma diferenciada, fugindo da função para a qual foi concebido, retira a intencionalidade dada na criação do cemitério e cria uma nova forma de lazer, escapando do lazer mercadoria [...]”. Como exemplo, Del Puerto (2016) cita o Cemitério da Consolação em São Paulo (SP), importante necrópole que contempla, através da arte e iconografia tumulares, a história da sociedade paulistana e brasileira. Esse espaço foi ressignificado pela atividade turística (roteiro guiado e autoguiado) e demais atividades de lazer, como apresentações artísticas, peças teatrais, recitais etc. Menciona-se também o Cemitério da Vila Formosa (SP), local com trilha ecológica para visitação e prática de caminhada (DEL PUERTO, 2016). Ainda que haja receio frente ao cemitério, por remeter à morte, o mesmo é entendido, na contemporaneidade, como patrimônio, local de trabalho, espaço de lazer e cultura, área de pesquisa, entre outros. De maneira geral, o deslocamento aos cemitérios ocorre comumente para visita à sepultura do ente falecido, pela fé nos santos populares existentes nos cemitérios e, ainda, para estudos históricos, geográficos, sócio-antropológicos e artísticos. No entanto, o lazer, proposto pela atividade turística, também provoca a mobilização até os espaços fúnebres e vem dando novas possibilidades de usos a um espaço aparentemente ocioso. Assim, os cemitérios, entendidos como as cidades dos mortos, também podem se configurar como espaços para que os vivos possam diversificar seus locais de lazer.