Resumo

Relata experiência inédita comprometida com a democratização  do conhecimento e acesso à prática do cheerleading no Brasil envolvendo a formação inicial e continuada de professores. Considerou-se aqui a escassez de estudos sobre o tema (PAIVA et alli, 2022; ALVES, 2023). Conforme concepções culturalistas de Educação Física, tomamos o “cheer” como prática corporal que, para além de skills e rotinas, contempla a formação humana e o empoderamento jovem. Quanto à primeira, destacamos a possibilidade de autoconhecimento, aprendizagem colaborativa, empatia, inclusão, reconhecimento e respeito à diversidade e ao corpo do Outro e estabelecimento de relações interpessoais saudáveis, amplificadoras da percepção e incorporação do trato consciente do risco e da confiança incondicional. Quanto ao empoderamento, tomamos o “cheer” como prática sociocultural potencializadora da conscientização coletiva quando considerado o direito à cultura, à educação, à saúde e à diversidade que perpassam o acesso, a vivência, o aprendizado e a reflexão da e sobre a cultura corporal. O projeto foi metodologicamente inspirado na avaliação de ciclo de vida (Willers et al, 2013), e contemplou: a) estudo, sistematização e produção de curso semipresencial realizado em AVA e com vivências presenciais; b)  planejamento colaborativo, acompanhamento e supervisão do desenvolvimento da intervenção experiencial; c) a organização e participação em Mostra Cultural;  e, d) avaliação coletiva com os professores e acadêmicos envolvidos no projeto. Para efeito deste evento, pinçamos a discussão de impactos e interpretação de resultados no objetivo “planejar e intervir colaborativamente, favorecendo a apropriação do cheerleading e da cultura cheer”. O resultado esperado era a construção de relações saudáveis, dialógicas, interpessoais, de confiança e de responsabilidade entre os estudantes que participaram da experiência. O resultado alcançado é apresentado em 3 eixos. O primeiro considerou as relações estabelecidas entre os graduandos que integraram o projeto. Constituir-se como grupo operativo de estudo e gestão não foi tarefa fácil. Graduandos em início de curso tiveram dificuldade em entender a gestão coletiva. Quando ordenados e comandados, realizavam as atividades; quando demandados a se auto-organizar, na sua experiência, operaram melhor sozinhos do que em grupo. Ainda que a construção coletiva não tenha sido sempre possível, ao longo do projeto foram aprendendo a fazer pactos e parcerias e a se apoiarem. O segundo eixo contemplou a relação entre os graduandos e os escolares com os quais se relacionam nas suas primeiras experiências docentes. Esse foi um dos pontos altos de descoberta e engajamento. Os graduandos estabeleceram relações positivas, de confiança e admiração com os escolares. Desenvolveram trabalho sério e de qualidade que cativou aqueles que estiveram sob a sua mediação. O terceiro contemplou as relações estabelecidas entre os próprios escolares. Apareceram questões importantes, pontualmente equacionadas: uma certa confusão entre protagonismo, liderança e “atender vontades”; gordofobia e,  questões de gênero expressas em “cheer é esporte de meninas” e “menino que faz cheer é gay”.  Questões de envergadura que permanecem como desafio formativo a ser tratado pela EF nas escolas e para as quais a tematização do “cheer” pode proficuamente contribuir.

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