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Sobre

APRESENTAÇÃO

Como era o Rio quando os circenses aqui aportaram... Muito oportuna e digna de congratulações a ideia de se mapear os palhaços, trupes circenses e circos que atuaram na cidade do Rio de Janeiro durante o Império. O trabalho desenvolvido, além do óbvio interesse de pesquisadores, estudiosos e curiosos sobre o circo e as artes da cena, também lança luzes sobre a cidade que, durante o período da pesquisa, tinha moldes distintos dos de hoje, ampliando, portanto, a potência de alcance da obra. Sede da Corte e Capital do Império do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro tinha um aspecto bem diverso do atual. Contudo, desde a transferência da Capital da Colônia para cá, em 1763, e, sobretudo depois da chegada da Família Real Portuguesa e a consequente mudança de simples capital de uma de suas colônias para a sede da Corte do Império de Portugal, em 1808, a cidade já vinha adquirindo características em sua aparência e em sua população que, anos mais tarde, dariam a ela o título de Cidade Maravilhosa. A mudança da Corte trouxe consigo uma pequena multidão de nobres, funcionários públicos, militares, religiosos, servos, que acompanharam a Família Real em sua fuga da expansão do império napoleônico, transformando completamente a vida da cidade. A necessidade de abrigo a toda essa gente fez com que fossem confiscadas casas, marcadas em sua fachada com as letras “P. R.”, iniciais de “Príncipe Regente” (título de D. João, futuro D. João VI, filho de Dona Maria I). Mas a população, revelando já um traço peculiar da cidade e de seus habitantes, o de rir de suas mazelas cotidianas, logo criou trocadilhos com as iniciais, lendo no “P. R.” um “Ponha-se na Rua!”, ou, ainda, “Prédio Roubado”. No rol de empreendimentos novos para o Rio de Janeiro e para o Brasil, temos a Abertura dos Portos às Nações Amigas, decreto assinado ainda na rápida estadia da Família Real em Salvador, antes de sua vinda para o Rio; a fundação da primeira faculdade do Brasil, a Faculdade de Medicina da Bahia – e, poucos anos depois, a criação de outra Faculdade de Medicina, na Sede da Corte –; a criação da Imprensa Régia, com o primeiro jornal impresso em solo brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro – uma espécie de Diário Oficial da época; a criação da Academia Militar, da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, da Academia Imperial de Belas Artes – iniciativa tomada praticamente em conjunto com a vinda da Missão Artística Francesa; e também a criação do Jardim Botânico e da Real Biblioteca Nacional (1810), tendo como núcleo fundador desta o acervo da Real Biblioteca da Ajuda, de Lisboa. Todas estas iniciativas, tomadas em poucos anos, produziram marcas profundas e começaram a modificar o perfil de uma cidade provinciana e quase rural, na sede da Corte, intentando o cosmopolitismo parisiense - expondo outro traço nosso marcante, o das eternas dicotomias que vivenciamos, pois, a transferência da Corte tinha justamente o intuito de fugir do avanço das tropas francesas.

Sumário