Compensações Estruturais e Funcionais Alteram a Mobilidade Funcional de Indivíduos com Paralisia Cerebral Diplégica Espástica?
Por Patricia Malta Saraiva (Autor), Ana Francisca Rozin Kleiner (Autor), Thiago Guido Ayres (Autor), Rosangela Alice Batistela (Autor), Lilian Teresa Bucken Gobbi (Autor).
Em XI Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
Apesar do distúrbio neurológico ter caráter não progressivo, as deficiências e
incapacidades da criança com paralisia cerebral diplégica espástica (PCDE) podem
mudar ao longo do tempo. O crescimento corporal dessas crianças geralmente não
é acompanhado pelo aumento progressivo das funções músculo-esqueléticas e das
capacidades motoras. Assim, pode ocorrer o desenvolvimento de compensações
funcionais ou estruturais. Como conseqüência, o comprometimento das estruturas
e funções neuro-músculo-esqueléticas influencia diretamente no ritmo da aquisição
de habilidade e na qualidade do desempenho funcional. O objetivo desse estudo foi
comparar a mobilidade funcional (MF) de indivíduos com PCDE de diferentes
faixas etárias para inferir a interferência das compensações estruturais e funcionais
durante tarefas locomotoras cotidianas. Participaram desse estudo 30 indivíduos
com PCDE, dispostos em 3 grupos etários (grupo1: 10 crianças entre 4-11anos;
grupo2: 10 adolescentes entre 12-18 anos e grupo3: 10 adultos entre 19 e 45 anos).
Utilizando a Escala de Mobilidade Funcional (EMF) (GRAHAM et al., 2004), os
participantes foram convidados a percorrer 3 distâncias diferentes: 5m, 50m e 500m,
em um ambiente previamente demarcado. A MF foi classificada como: 1 (utiliza
cadeira de rodas); 2 (utiliza andador); 3 (utiliza muletas); 4 (utiliza uma muleta ou
duas bengalas); 5 (locomoção independente em superfícies regulares); e 6 (locomoção
independente em todas as superfícies). Para a análise estatística, os dados referentes
ao resultado na EMF e ao tempo para percorrer cada distância foram analisados
por meio de 3 MANOVAS, uma para cada distância tendo o grupo de idade como
fator. A MANOVA não apontou efeito principal da EMF em 5m (F2.27=0.086;
p=0.918); 50m (F2.27=0.143; p=0.867); e 500m (F2.16=0.676; p=0.523) e de tempo
gasto em 5m (F2.27=0.874; p=0.429); 50m (F2.27=0.630; p=0.540); e 500m (F2.16=
0.996; p=0.391) em relação aos grupos etários. Estes resultados indicam que a
experiência locomotora desenvolvida com o passar dos anos não parece ser suficiente
para promover alterações na MF de indivíduos com PCDE, independente da
distância percorrida. As compensações funcionais e estruturais adquiridas não
favorecem a MF. Considerando a natureza multifatorial da desordem motora na
PCDE, fatores como as restrições no alongamento muscular, a redução da força, o
controle seletivo pobre e a espasticidade podem explicar os resultados obtidos.